São Paulo – O brasileiro Leonardo Tonus foi convidado a participar de dois importantes eventos literários da região do Norte da África, ou Maghreb, agora em junho. O professor, autor e poeta fala em uma conferência no Salão Internacional da Edição e do Livro (SIEL) em Rabat, no Marrocos, e será o primeiro brasileiro a se apresentar no Festival Internacional de Poesia de Sidi Bou Saïd, na Tunísia.
A conferência de Tonus no Salão Internacional do Livro em Rabat terá como tema O Brasil e o mundo árabe: uma história de encontros e trocas culturais, e será ministrada em francês no dia 09 de junho, às 16h. O Salão vai de 02 a 12 de junho e esta é sua 27ª edição, que excepcionalmente acontece fora de Casablanca. Serão representados 40 países entre os 700 expositores e a previsão é de receber 500 mil visitantes. A entrada custa 10 dirhams para adultos e 5 dirham para crianças.
“Será uma conferência-encontro que se inicia com uma palestra mais acadêmica e depois apresento projetos como organizador de antologias e como escritor de poesia”, disse. Tonus apresentará a antologia Da Terra de Migração Para a Terra Natal (Editora Kalima, 2019), uma colaboração com a Revista Pessoa e o Departamento de Cultura e Turismo de Abu Dhabi, dos Emirados Árabes Unidos, em 2019.
Segundo Tonus, esta é uma das primeiras antologias de autores brasileiros em árabe, que reúne autores como Raduan Nassar, Milton Hatoum, Marcelo Maluf, entre outros escritores, em sua maioria de origem sírio-libanesa. “Vou estabelecer esse duplo contato, trazer novos autores com projetos de antologias, estabelecer contato com editoras, autores que ainda não têm visibilidade no Brasil, e eu tenho como intenção pessoal trazer esses autores do Brasil ao mundo árabe, talvez com a publicação em revistas literárias ou editoras”, disse.
Festival Internacional de Poesia na Tunísia
Esta será a primeira participação de um autor brasileiro neste importante encontro literário. O Festival Internacional de Poesia, que está em sua 8ª edição, foi fundado em 2013 e é realizado na cidade de Sidi Bou Saïd, ao norte de Tunes.
Considerado um dos festivais de poesia mais importantes do mundo árabe, o evento reúne este ano editores, críticos literários e mais de 30 poetas originários de países árabes como Tunísia, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Marrocos, Líbano, Síria, Iraque, Palestina, Jordânia e Kuwait ; da Europa, vindos da Espanha, Grécia, Itália, Malta e França, e da América Latina, poetas da Argentina e Brasil.
A programação de Leonardo Tonus no festival tunisiano será mais intensa. No dia 16, às 16 horas, no Nejma Zahra, ele participa de uma mesa sobre a publicação de livros de poesia no exterior, levando seu conhecimento do mercado editorial brasileiro e como ele vem trabalhando a publicação de autores estrangeiros. “A ideia é fortalecer esses laços, fazer uma mediação entre o Maghreb e o Brasil, propor projetos futuros de colaboração e publicação em francês ou em português e levar para o Brasil”, disse Tonus.
Representando o Brasil, ele fará leituras poéticas de suas três antologias de poemas, em que trabalha a questão das migração e pessoas em situação de refúgio, e também de seu livro de poemas, Diários em Mar Aberto (2021), em lugares públicos da cidade como praças, restaurantes e cafés, em francês, em três dos quatro dias de evento. “É a poesia indo de encontro com a população”, disse.
O livro Diários em Mar Aberto foi escrito durante a pandemia e é um diário em formato de poesia, que segundo Tonus, fala de como nos tornamos prisioneiros do espaço doméstico, de histórias familiares, de migrações e dramas contemporâneos.
No dia 17, a leitura poética será no Café Dar Dallagi, às 21 horas. No dia 18, em Car Zarrouk, ele participa de uma leitura voltada a poesias da América Latina às 11 horas, e no dia 19 em Bon Vieux Temps, o foco é a poesia de países de línguas latinas, a partir das 16 horas.
A migração (ou como ele chama, migrância) e a situação de refúgio são temas do projeto de pesquisa de Leonardo Tonus. “Há mais de 20 anos trabalho essa questão, é um projeto que faz a ligação entre o professor e o cidadão”, disse. O professor da Sorbonne, em Paris, é brasileiro de origem italiana e portuguesa e foi morar na Europa em 1988. “Eu também sou um imigrante e fui atravessado por essas histórias. Sinto um dever de falar sobre isso, mesmo sendo privilegiado; essas são questões fundamentais que atravessam a produção artística, como a arte pode falar disso e ajudar levando o questionamento, e não o silenciamento em torno do tema”, declarou.