São Paulo – O avião KC-390 Millennium, da Força Aérea Brasileira (FAB), decolou nesta quarta-feira (12) da Base Aérea de São Paulo, em Guarulhos, com seis toneladas de doações ao Líbano. O presidente Jair Bolsonaro participou de solenidade de partida da aeronave juntamente com o ex-presidente Michel Temer, convidado pelo governo para ser líder da missão que vai levar a ajuda até o país árabe. A comitiva integrada por Temer viajou ao Líbano em um Embraer 190. Representantes de entidades que coletaram parte das doações, entre elas a Câmara de Comércio Árabe Brasileira, participaram do ato.
O KC-390 leva medicamentos, equipamentos de saúde e alimentos doados pelo Ministério da Saúde e por entidades ligadas à comunidade libanesa, que os recolheram junto a seus membros e aos brasileiros. Fazem parte da carga embarcada os produtos comprados pela Câmara Árabe com recursos próprios e oriundos de uma campanha junto à comunidade, a qual se integraram outras associações e pessoas de vários estados do Brasil. A campanha segue ativa para mais doações e envios.
Na solenidade, o presidente Bolsonaro frisou a papel da comunidade libanesa nas doações. Bolsonaro lembrou que o mundo atravessa a pandemia e que no meio dela o Líbano foi acometido pelo desastre. Uma explosão na última semana em Beirute deixou mais de 170 mortos, seis mil feridos e milhares de desabrigados. Bolsonaro disse que o envio da doação é ato simbólico. “O que nós podemos oferecer, em grande parte vindo da comunidade libanesa, é de coração”, falou.
Bolsonaro afirmou que a data marca ainda mais a aproximação do Brasil com o Líbano e disse os dois países querem democracia e liberdade. “Os nossos países não abrem mão de democracia e liberdade, é que o queremos para o mundo todo”, disse. O presidente também falou que os libaneses e descendentes contribuem muito no Brasil. “Trabalhando, se integrando e colaborando nas mais diversas áreas para que o Brasil atinja o lugar que merece, de destaque no cenário mundial”, falou.
A Câmara Árabe esteve representada na solenidade na Base Aérea pelo presidente da entidade, Rubens Hannun, o diretor de Investimentos, Daniel Hannun, e a diretora Claudia Yazigi Haddad, que também é uma das diretoras do Comitê de Mulheres da instituição. “A Câmara Árabe se sente muito honrada de fazer parte disso, que é o papel dela, confirma o nosso propósito de aproximar árabes e brasileiros onde estiverem, inclusive no campo social”, disse Hannun para a reportagem da ANBA ao sair da Base Aérea.
Hannun contou que a Câmara Árabe foi procurada como via para doações por entidades e pessoas físicas do País, descendentes de libaneses ou não. “Isso mexeu com o Brasil inteiro”, afirmou Hannun. O Brasil tem 12 milhões de árabes e descendentes e o maior grupo é o de libaneses, segundo pesquisa divulgada recentemente pela Câmara Árabe e elaborada pela H2R Pesquisas Avançadas e o Ibope Inteligência. “Estou muito orgulhosa de ver todo mundo se unindo em prol de um país irmão como o Líbano, cristãos, muçulmanos, maronitas, todos com o mesmo propósito”, disse Claudia Haddad.
Na comitiva que viaja ao Líbano e é liderada por Temer estão também os senadores Nelson Trad Filho e Luiz Pastore, o secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Flávio Viana Rocha, e o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. O grupo deve chegar ao Líbano nesta quinta-feira (13) e retorna no sábado (15).
Temer, filho de libaneses, se disse emocionado com o convite para liderar a comitiva e em nome da comunidade libanesa agradeceu a doação. “Estou agradecendo em nome dos meus pais. Meus pais já faleceram há muito tempo, mas certa e seguramente lá no plano espiritual estão acompanhando esta solenidade e aplaudindo o que vossa excelência e o governo brasileiro estão fazendo pelo Líbano”, disse.
O embaixador do Líbano no Brasil, Joseph Sayah, também agradeceu a doação em nome do povo do Líbano. Ele contou que Bolsonaro telefonou a ele ao saber do ocorrido para transmitir seu apoio e solidariedade. “Como sempre, me senti em casa através da calorosa ajuda e apoio que foi mostrado pelo senhor presidente e o senhor chanceler”, afirmou, em referência ao ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo. O embaixador disse que a doação não é uma surpresa devido os laços familiares e históricos que unem as duas nações.
Também falaram na solenidade o comandante da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro Antonio Carlos Moretti Bermudez, o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Alfredo Cotait, e Paulo Skaf. “Essa doação segue nas asas de nossas modernas aeronaves, o KC-390 Millennium e o VC-2 Embraer-190, fabricados no Brasil, que levarão além mar nossa solidariedade”, falou o comandante Bermudez. Cotait disse que há muita gente trabalhando para coletar as doações e destacou o trabalho do presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras), Mohamed El Zoghbi.
“A vida da gente reserva muitas surpresas, quem diria que em 2020 nós iríamos viver uma pandemia, iríamos estar navegando durante o ano no desconhecido, na saúde, na economia, no social. Quem diria que de repente uma bomba estouraria no Porto de Beirute, causando morte das pessoas queridas, desabrigados. É a vida. Isso tudo nos entristece muito e ao mesmo tempo nos faz mais humildes, mais humanos, mais unidos, mais solidários, esse voo demonstra isso”, disse Paulo Skaf.
As duas aeronaves decolaram de São Paulo rumo a Fortaleza, no Ceará, onde descem para um intervalo técnico. Depois elas seguem para Ilha do Sal, em Cabo Verde, e então para Valência, na Espanha, para então decolar rumo a Beirute, segundo a Agência Brasil.