São Paulo – Certamente os vizinhos da família Assad, em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, já se acostumaram aos embalos de cantorias e notas musicais. É que ali, uma multiartista viveu parte da infância e retornou, agora na vida adulta. Influenciada por um pai instrumentista e uma mãe cantora, além do duo de irmãos violonistas, Badi Assad construiu a própria carreira que chega agora a mais de 30 anos.
Foi no seio da família que começou a entender seus múltiplos caminhos. “De um lado, minha mãe é mineira, contadora de causo. Meu pai era muito determinado, com oito anos já trabalhava no armazém do meu avô, cuidando do caixa. Acho que foi uma combinação muito interessante dos dois”, contou ela.
O ‘Assad’ e a ascendência libanesa vieram do avô paterno que, no entanto, nunca contou detalhes da terra de onde veio. “Não sabemos muito bem como meu avô foi parar em São João da Boa Vista, onde constituiu família com 18 filhos. Ele estava em uma terra nova e nunca falou da origem ou cultura. Tudo que foi transmitido para a família, foi pela personalidade dele”, revelou a artista.
Se o avô tinha uma característica em comum com a comunidade árabe, era o tino para os negócios. “Ele trouxe esse conceito do mascate e depois montou um armazém. É interessante porque podemos ver quais dos filhos dele tinham isso, parece que é da cultura, do DNA. A tia Olga, essa era comerciante. Impressionante, uma mulher que foi feminista por suas atitudes na vida”, lembra a cantora sobre uma de suas grandes referências.
Além de ter herdado o empreendedorismo, o pai de Badi tinha um lado musical vindo da mãe. Já casado, foi ao lado da esposa que ele se engajou para ver evoluir os dons musicais dos filhos. “Minha criação teve meus irmãos estudando violão clássico na sala, meu pai recebia amigos para rodas de choro, e minha mãe sempre foi uma cantora nata maravilhosa, nunca se profissionalizou, mas estava sempre cantando em casa”, afirmou Badi.
Os irmãos mais velhos da artista, Sergio e Odair, formaram o Duo Assad, e se especializaram em violão erudito. Crescendo com a influência deles, Badi começou a tocar violão aos 14 anos. “Queria seguir o caminho dos meus irmãos, mas logo percebi que essa história era deles. Comecei a me reinventar e buscar quem sou. Já gostava de cantar e sou muito curiosa, gosto de percussão. Fui introduzindo isso ao meu trabalho. Criei um estilo”, revelou.
Três décadas de carreira
Depois de ter experiências acompanhando outra artista em uma turnê internacional como violonista, Badi foi cada vez mais investindo no canto. Sua carreira profissional começou já no exterior, quando foi convidada para trabalhar nos Estados Unidos. “A partir do primeiro disco, em 1989, já comecei a viajar [o mundo]”, explicou.
Com mais de 40 países visitados, a cantora está no 20º disco de sua carreira. No repertório, além de ter composto e interpretado músicas de estilos e etnias diversas, Badi também canta em idiomas diferentes. O principal é o inglês, mas a artista tem trabalhos pontuais como a música em árabe Lamma Bada, que está disponível no perfil da cantora no Spotify.
Além da carreira solo, Badi chegou a integrar um grupo multicultural. Em 2015, ela foi convidada para trabalhar com a organização GATC (Genesis at the Crossroads), sediada em Chicago, focada na construção da paz mundial. No projeto Saffron Caravan ela foi violonista e vocalista, ao lado de músicos como o marroquino Aaron Besoussan.
Multiartista, ela também já foi curadora de festivais, criou trilhas sonoras de filmes, e escreveu um livro, o Volta ao Mundo em 80 Artistas, lançado pela Pólen Livros. Ah, e foi até tema de um filme. O documentário ‘BADI’, dirigido por Edu Felistoque, foi nomeado Melhor Filme pelo The FestCine Maracanaú, região Metropolitana de Fortaleza. A obra também já rodou o mundo, em festivais como o Los Angeles Brazilian Festival de Cinema.
Em meio a todas essas criações, o canto seguiu central na carreira da paulista. Desde 2019, a cantora não passou um ano sequer sem lançar trabalhos. O mais recente é o álbum Ilha, deste ano, com oito músicas. A agenda da cantora segue recheada até o final do ano.
Mas com essa trajetória, será que ainda há algo de inédito por vir? Como surpreender é a especialidade de Badi, a cantora agora quer focar em trabalhos como o de produtora musical, além de estar tirando seu registro como atriz profissional. E, ainda, se dedicar ao Projeto Badi Art. “Tenho essa intenção, através das imersões do Badi Art, de começar a compartilhar em vida o meu legado. O Badi Art é uma escola, não um espaço físico, mas no sentido das coisas diversas que fiz. E no meio disso, tenho um engajamento com a espiritualidade muito grande. Experimentar isso e passar essa história para frente, eu tenho sentido um prazer muito grande. Pretendo compartilhar essa bagagem. Penso que agora é momento de contribuir com o outro”, arrematou.