Alexandre Rocha
São Paulo – As empresas brasileiras interessadas em vender para os países árabes já podem contar com uma linha de crédito oferecida pelo banco ABC Brasil, sediado em São Paulo. Há um ano a instituição começou a financiar exportações para a região e oferece como diferencial o conhecimento que tem das companhias e bancos locais.
Isso porque o acionista majoritário do ABC Brasil é a Arab Banking Corporation, com sede no Bahrein, que, por sua vez, tem como controladores órgãos dos governos de Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, do Kuwait e da Líbia.
"Nós temos forte conhecimento do risco de crédito de bancos e empresas do Oriente Médio e do Norte da África", disse à ANBA o diretor vice-presidente do ABC, Anis Chacur Neto.
Nas operações de financiamento de exportações, o empréstimo não é feito ao exportador, mas ao comprador ou ao banco local que emitiu carta de crédito em favor deste. O que o ABC faz é assumir o risco do vendedor, pagando a este o valor do negócio à vista e tornando-se credor do importador árabe ou da instituição financeira regional.
"Muitas vezes o importador demanda um financiamento para fazer a aquisição dos produtos, às vezes com uma carta de crédito de um banco local, às vezes sem, com um risco para o exportador. O que o ABC faz é assumir esses riscos porque conhece as empresas e bancos árabes. E, mesmo se não conhecer, tem condições de fazer uma avaliação", afirmou o executivo.
Chacur acrescentou que o banco avalia operações a partir de US$ 100 mil, embora não exista um valor mínimo oficial para os financiamentos. O empresário tem que apresentar ao ABC a lista de potenciais importadores e eventuais instituições financeiras com quem pretende fazer negócio. Qualquer setor é bem-vindo.
O deságio aplicado no pagamento ao exportador dependerá da avaliação dos riscos, prazos, juros, etc., envolvidos na operação. Poderá até ser zero, caso o crédito assumido já traga embutidos juros suficientemente compensadores.
O ABC já patrocinou negócios que somam US$ 20 milhões desde a criação da linha de crédito, operações que variaram de US$ 500 mil a US$ 500 milhões. Não há um orçamento definido para estas operações, Chacur garante que a instituição tem poder de fogo.
"Lá fora a Arab Banking Corporation tem ativos entre US$ 9 bilhões a US$ 10 bilhões. Tem condições de abrigar tudo o que o Brasil exporta para os países árabes", ressaltou. O banco faz negócios "com o resto do mundo" também, mas seu grande diferencial é mesmo o conhecimento dos países árabes.
A idéia de criar uma linha de crédito para exportações para os países árabes surgiu há cerca de dois anos e, entre outros fatores, partiu da constatação de que as vendas brasileiras para a região "estão crescendo bastante". Nos primeiros quatro meses deste ano as exportações para os árabes aumentaram mais de 60% em relação ao mesmo período de 2003, totalizando US$ 1,136 bilhão.
No ano passado inteiro as receitas dos embarques somaram US$ 2,76 bilhões. O presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), Paulo Sérgio Atallah, acredita que o valor pode chegar a US$ 3,6 bilhões este ano.
Investimentos
Mas não é só na exportação de mercadorias que o banco tem interesse, ele está começando a analisar também projetos de investimentos de empresas brasileiras na região.
"Algumas empresas, que atuam no setor de construção civil, têm se habilitado em licitações nos países árabes. E nestas concorrências é solicitado um projeto de financiamento", disse o executivo. "O ABC tem interesse em analisar propostas de investimentos na região", acrescentou.
Da mesma maneira, aprovado o negócio, o banco paga à empresa e torna-se credor do contratante. "Muitas vezes uma empresa não quer ficar com um crédito de 10 anos na mão, quer receber à vista", afirmou Chacur.
Ele acrescentou que a Arab Banking Corporation, por ser uma instituição forte na região, tem condições de se articular com outros bancos árabes e internacionais para bancar este tipo de operação.
O banco ainda não financiou nenhuma obra executada por empresas brasileiras na área de infra-estrutura, mas Chacur garante que vários clientes têm feito consultas sobre o assunto.
Perfil
O ABC Brasil é um banco que opera no "atacado", ou seja, não trabalha para pessoas físicas, não há correntistas. Seus clientes, em geral, são empresas de médio e grande porte.
Cerca de 60% do faturamento do banco vem de empréstimos, financiamentos e negócios no mercado de capitais. O restante vem da área de "tesouraria" o que, segundo Chacur, consiste na aplicação do capital de giro do próprio ABC no mercado financeiro e em operações de "arbitragem", como a captação de recursos no exterior para aplicação no Brasil.
No ano passado o ABC Brasil teve um lucro líquido de US$ 33 milhões, somou um patrimônio líquido de US$ 125 milhões e ativos totais de US$ 900 milhões.
O ABC Brasil foi fundado no final da década de 1980, por meio de uma associação entre a Arab Banking Corporation e o grupo Roberto Marinho, dono da Rede Globo. Na época, a composição acionária era de 50% para cada sócio e o banco foi batizado de ABC Roma. "Roma" era uma referência às iniciais de Roberto Marinho e não à capital da Itália.
Inicialmente o patrimônio líquido da instituição era de US$ 17 milhões. Em 1997, a Arab Banking Corporation comprou as ações do grupo Roberto Marinho e passou a ser o único acionista. Posteriormente, 18% do capital foi adquirido por uma holding formada pelos seus próprios executivos no Brasil. Hoje 84% do ABC Brasil pertence ao sócio árabe e 16% aos executivos brasileiros.
A Arab Banking Corporation, por sua vez, foi fundada também nos anos 1980 pelos governos de Abu Dhabi, Kuwait e da Líbia. "O banco reuniu capitais árabes interessados em se internacionalizar", disse Chacur.
Hoje cada um destes países detêm cerca de 25% das ações, o restante é negociado na bolsa de valores do Bahrein.
Contato
ABC Brasil
Área Comercial
+55 (11) 3170-2000
Gustavo Lanhoso (para clientes de SP)
José Álvaro Guimarães (para clientes de outros estados)

