São Paulo – Nascido no Cairo, Egito, Wael Zizo, de 34 anos, veio pela primeira vez ao Brasil em 2016 de férias. O descanso durou três meses. Mas o engenheiro civil não quis mais ficar na sua terra natal. Tinha sido conquistado pelos brasileiros. Por isso, no ano seguinte, Wael fez suas malas e se mudou de vez. Atualmente, ele é dono do Cairo Bar, um estabelecimento que leva os consumidores a vivenciarem uma experiência imersiva na cultura árabe.
Para que todos se sintam confortáveis, não tem só a cultura árabe no Cairo Bar. Além das músicas típicas e apresentações de dançarinas do ventre, que acontecem algumas vezes por mês, são tocadas diariamente músicas em inglês e português, com espaço para o pagode e samba. Wael conta que o principal objetivo do espaço não é lucrar, mas sim fazer as pessoas felizes.
“Não quero que a pessoa compre algo e vá embora, quero que ela se sinta em casa, em um lugar seguro e diferente de tudo, e tendo uma experiência imersiva na cultura árabe”.
No cardápio, os clientes podem encontrar produtos típicos como kibe e falafel, com preços acessíveis, e algumas opções de pratos brasileiros, como bolinho de queijo. Entre as bebidas, além do café e chá árabes, também há drinks nomeados em homenagem a personalidades típicas do Egito: Cleópatra, Faraó, Nerfetiti e Osíris.
Adaptação ao Brasil
Wael conta que se adaptou muito bem ao Brasil, inclusive com o clima, que afirma não ser muito diferente do Cairo. A saudade que sente da terra natal é da família. Por isso, uma vez por ano ele passa as férias junto aos familiares.
“Tenho uma família bem grande, entre primos, tios, irmãos, sobrinho e pais, tem umas 25 pessoas. Quando estou no Brasil sinto muita falta das comidas que a minha mãe faz lá. Para matar a saudade da culinária, uma vez por semana me reúno com amigos, quase 40 pessoas, para tentar fazer os pratos iguais ao dela, para as pessoas ficarem felizes”, diz.
O egípcio explica que os principais responsáveis pela sua adaptação foram os amigos brasileiros, que o recepcionaram bem desde o início.
“Depois que me mudei em 2017, acabei fazendo amizades que me acompanhavam quando ia jogar bola, fazer academia e correr. Meus amigos me ajudaram muito na adaptação e no final acabei ficando no Brasil por causa deles. Meu primeiro amigo aqui tinha a cabeça parecida com a minha. Ele falava inglês comigo e depois me ajudou a aprender português. Vivo com a minha cultura tranquilamente, faço minhas orações e gosto de ajudar as pessoas”.
Fluente em árabe, francês e inglês, o egípcio conta que não teve muita dificuldade em aprender a falar português. Na hora de atuar como engenheiro civil, o dono do Cairo Bar encontrou dificuldade. “Para trabalhar na minha área no Brasil é difícil porque aqui não aceitam faculdade de fora, por isso antes de trabalhar como engenheiro eu precisaria fazer mais três anos de ensino superior. Para seguir minha vida aqui, resolvi abrir meu primeiro bar, o Tapas Bar”.
O primeiro bar
O primeiro negócio prosperou bastante, chegando a completar dois anos de funcionamento, até a chegada da pandemia. Para evitar aglomerações e o aumento de casos de covid, diversas medidas foram tomadas pelos governos estaduais, entre elas o fechamento de negócios por um breve período. E assim como diversos negócios, o Tapas Bar acabou falindo.
Com a diminuição dos casos de covid e afrouxamento das regras de isolamento social, em junho de 2021, Wael resolveu tentar novamente. O novo bar ganhou o nome e a temática da cidade natal do egípcio.
“Gosto de trabalhar nas minhas coisas, mesmo que no começo meu comércio fosse pequeno, sei que ele cresceria aos poucos. Comércio não é só dinheiro, serve também para mostrar sua cultura, de onde você veio, para encontrar gente legal. Preferi abrir algo meu do que trabalhar para alguém, e assim construir a minha história aqui”.
Reportagem de Rebecca Vettore, especial para a ANBA