Nouakchott, Mauritânia – As bandeiras, faixas e flâmulas verde e amarelas dão a impressão de se estar em alguma cidade do interior do Brasil em época de Copa do Mundo. Mas as ruas cheias de areia, as largas túnicas dos homens (grands bou bous, em francês) e as vestes coloridas das mulheres não deixam dúvida, estamos na África, mais precisamente em Nouakchott, capital da Mauritânia, país localizado na costa atlântica do continente. A coincidência está nas cores da bandeira, iguais às do Brasil. As ruas estavam enfeitadas por causa dos festejos da independência, em 28 de novembro.
Nos últimos anos, as empresas brasileiras têm buscado cada vez mais negócios na África, mas a pequena Mauritânia, com três milhões de habitantes, ainda não entrou no radar delas. Foi com o objetivo de conhecer o que o país tem a oferecer que o CEO da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby, e a reportagem da ANBA estiveram por lá esta semana.
O país é pobre, porém esbanja hospitalidade e tem um subsolo riquíssimo. Seus recursos minerais incluem ouro, petróleo, gás, urânio, caulim, sal gema, sal marinho, fosfato, cobre, diamantes, gesso, cimento e minério de ferro. Tudo ainda pouco explorado, mas companhias estrangeiras estão se mexendo para ter acesso a essas riquezas.
A principal atividade exportadora da Mauritânia é a pesca, explorada com companhias internacionais, especialmente da Europa e Japão. Quem já foi à praia no país diz que é possível pegar peixe grande no raso. A agricultura não é muito forte, pois o povo tem tradição pastoril e nômade, mas brasileiros que mantêm hortas em seus jardins em Nouakchott dizem que as condições climáticas fazem com que as plantas cresçam em tempo recorde.
“Somos ricos em recursos naturais, especialmente os minerais, e estamos contatando grandes empresas estrangeiras”, disse o vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria da Mauritânia, Mohamed Lemine Ould Sidi Mohamed, em reunião com Alaby e o embaixador brasileiro Flávio Rocha. A visita foi organizada pela embaixada.
Os mauritanos têm boa lembrança da atuação de uma companhia brasileira. Na década de 70, a empreiteira Mendes Júnior construiu uma rodovia de 600 quilômetros no país. O fato foi citado em três ocasiões durante as visitas por três pessoas diferentes.
A infraestrutura é outra necessidade e os chineses, como em vários outros países da África, já estão lá. O novo prédio do Ministério das Relações Exteriores, que se destaca na paisagem de Nouakchott, foi totalmente construído pelos asiáticos com materiais importados da China. Até as placas que indicam as saídas e os hidrantes estão em chinês. Estão também em francês, mas nada de árabe. A Mauritânia é membro da Liga Árabe e faz parte do Magreb, ao lado do Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia.
Proliferam as lojas de material de construção na cidade, afinal ela ainda está sendo erguida. Assim como Brasília, Nouakchott foi fundada em 1960 para ser capital. A capital brasileira, no entanto, cresceu muito mais em termos imobiliários e de infraestrutura.
Tudo importado
Na seara do comércio, os mauritanos importam de tudo e ficou claro o interesse em produtos brasileiros nas reuniões realizadas por Alaby e o embaixador. A Câmara Mauritana organizou um encontro com alguns dos principais empresários do país.
Embora o mercado mauritano seja pequeno, o porto de Nouakchott abastece outras nações africanas, como o vizinho Mali, que não tem saída para o mar.
Alimentos e produtos farmacêuticos foram os itens mais citados pelos empresários. Alguns já importam açúcar do Brasil, mas gostariam de comprar também frangos, carne, leite, óleos vegetais, trigo, milho, arroz, cítricos, sucos, cereais matinais, café, comida para bebês, fraldas, cosméticos e até papel higiênico.
Alguns empresários informaram que já compram produtos do Brasil, mas geralmente de intermediários europeus. Eles gostariam de importar diretamente para não ter que pagar comissão. Outros problemas apresentados foram a falta de linhas marítimas e o fato de bancos brasileiros não aceitarem cartas de crédito de instituições mauritanas, embora elas sejam aceitas por bancos europeus, do Marrocos e do Golfo.
“O problema são os bancos”, observou Mohamed Abdellah Haibetty, da empresa MOA, que tem interesse em importar alimentos e que atua também no ramo imobiliário. Outro empresário, da área de plásticos, reclamou que gostaria de importar matéria-prima brasileira, mas não consegue uma resposta da petroquímica que decidiu contatar.
“Há um desconhecimento da estrutura do mercado brasileiro”, disse o secretário geral da câmara mauritana, Wane Abdoul Aziz. “O contato pessoal é o mais importante”, observou.
Além da reunião na Câmara, Alaby participou de encontro em separado com empresários e visitou algumas empresas, como o Groupe Chingitty Pharma, que importa e distribui produtos farmacêuticos, equipamentos médicos e outros, o Groupe Wafa, importador de alimentos, e o supermercado Mauri Center. No último, o diretor geral Mohamed Ould Sidi Mohamed, irmão do vice-presidente da Câmara, manifestou desejo de importar todos os tipos de itens de prateleira. Ele deu destaque especial aos dietéticos, muito difíceis de encontrar no país.
Mahfoudh Ahmed, da empresa Maoa, falou ainda de oportunidades em obras públicas. Ele disse, por exemplo, que até o final de dezembro o governo recebe propostas para a licitação da construção de uma usina de geração de eletricidade.
Em reunião com Alaby e o embaixador, o secretário geral do Ministério dos Assuntos Econômicos e do Desenvolvimento acrescentou que o governo está colocando em prática “um programa ambicioso” de desenvolvimento da infraestrutura, dos recursos humanos e naturais.

