São Paulo – O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, vê os países árabes como parceiros estratégicos do agronegócio brasileiro e avalia que os negócios nesta área podem crescer ainda mais. “Temos uma boa parceria que pode ser ampliada e estamos trabalhando para isso”, disse o ministro em entrevista à ANBA por e-mail.
Produtos agropecuários são os principais itens da pauta das exportações do Brasil ao mundo árabe. Dos US$ 13,6 bilhões em vendas do País à região no ano passado, os itens do agronegócio responderam por US$ 10,4 bilhões, com um aumento de 18% em relação ao total de 2016.
Os árabes têm grande dependência das importações de alimentos, e garantir a segurança alimentar de suas populações é uma das principais preocupações das nações do Oriente Médio e Norte da África. Tanto que este será um dos temas de maior destaque do Fórum Econômico Brasil-Países Árabes, que a Câmara de Comércio Árabe Brasileira vai promover na próxima segunda-feira (02/04), em São Paulo. “Acho que o Brasil pode garantir essa oferta”, destacou Maggi.
Mais do que importar, estes países querem ter acesso à produção por meio de investimentos em projetos no exterior, e o Brasil vem tentando atrair parte destes recursos. Maggi afirmou que não é contra à flexibilização da venda de terras a estrangeiros, mas declarou que devem haver restrições “no caso das chamadas ‘culturas anuais’, como soja e milho”. O ministro é o maior produtor individual de soja do País.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
ANBA – A Câmara de Comércio Árabe Brasileira promove no dia 02 de abril, em São Paulo, o Fórum Econômico Brasil-Países Árabes. Entre os principais temas de discussão estão o agronegócio e a segurança alimentar. O ministério vê os países árabes como parceiros estratégicos?
Blairo Maggi – Claro que sim. Temos uma boa parceria que pode ser ampliada e estamos trabalhando para isso. Em fevereiro, por exemplo, o secretário executivo do ministério, Eumar Novacki, esteve em visita a alguns países da Ásia e Oriente Médio em busca de novos mercados e de consolidar a posição brasileira já conquistada nestas localidades. No ano passado eu também estive em viagem pelo Oriente Médio – Arábia Saudita, Kuwait, Catar, Emirados Árabes Unidos e Irã-, também para tratar da ampliação do comércio brasileiro entre os países da região. Estamos muito atentos aos pleitos de vocês (dos árabes) e queremos fazer com que esse comércio cresça de forma que seja bom para os dois lados.
De que forma esta parceria pode ser reforçada, tendo em vista que os países árabes têm necessidade de fornecedores que garantam uma oferta estável de produtos?
Maggi – Acho que o Brasil pode garantir essa oferta. Nós temos hoje uma agricultura de ponta. Somos os maiores produtores de grãos e estamos entre os maiores produtores de proteína animal do mundo. Temos total condições de atender ao mercado árabe. Somos um dos poucos países que consegue atender algumas exigências que são feitas pelos países árabes como a carne halal. E a forma de reforçar essa parceria é manter contato permanente com os nossos parceiros comerciais e tentar diversificar ainda mais a nossa pauta de produtos a serem comercializados como frutas, leite e derivados, vinhos, leguminosas, e tantos outros produtos que produzimos com qualidade.
Em 27 de fevereiro o senhor lançou o Plano Nacional do Desenvolvimento da Fruticultura (PNDF), que tem entre seus objetivos ampliar as exportações de frutas. Este programa prevê algum tipo de ação de promoção em países árabes?
Maggi – Apesar de o Brasil ser o terceiro maior produtor de frutas do mundo, ocupamos apenas o 23º lugar entre os países maiores exportadores desses produtos. As metas de longo prazo do Plano de Desenvolvimento da Fruticultura incluem participar com R$ 60 bilhões no mercado global de alimentos, aumentar o consumo interno de frutas para 70 quilos per capita ao ano e atingir US$ 2 bilhões em exportações de frutas frescas e derivados, isso até 2028. O plano é extenso e abrange desde novas regras para o licenciamento de uso de produtos agroquímicos até a padronização internacional dos certificados fitossanitários. Logicamente que um mercado importante como o árabe não será esquecido, pretendemos trabalhar para abrir novos produtos na nossa pauta comercial. E as frutas estão entre esses produtos.
O Mapa e outros órgãos do governo vêm realizando há alguns anos seminários aqui e em países árabes com o objetivo de atrair investimentos de lá para projetos no Brasil. Esta iniciativa deu algum resultado até agora?
Maggi – Acredito que sim. Olhando para os números do comércio entre o Brasil e os países árabes percebemos um crescimento consistente. Temos hoje um comércio contínuo e superavitário, estimado em US$ 12 bilhões em vendas. No agronegócio, por exemplo, cerca de 20% da carne de frango produzida aqui é exportada para os países árabes. Também temos um alto volume de exportações no setor sucroalcooleiro, cereais, farinhas, complexo de soja, café, e tantos outros.
Qual é sua opinião sobre a flexibilização da venda de terras para estrangeiros?
Maggi – Sou favorável, não vejo grandes problemas em relação a essa questão, afinal, terra é brasileira, ninguém vai levar. O uso da terra é que importa nesse negócio. Mas acho que devemos adotar algumas restrições no caso das chamadas “culturas anuais”, como soja e milho, mas creio que essa questão já está sendo discutida no Congresso e já estão sendo propostas algumas soluções.
No ano passado, o senhor viajou a países do Golfo para tranquilizar as autoridades regionais sobre a qualidade da carne brasileira, após a operação Carne Fraca. O que o governo tem feito para evitar sobressaltos como este no futuro (as perguntas da ANBA foram enviadas antes da deflagração da Operação Trapaça, em 05 de março)?
Maggi – Na Carne Fraca houve um erro na narrativa inicial de divulgação da operação. O que estava em pauta era desvio de conduta por parte de alguns servidores do ministério e não a qualidade dos nossos produtos. Mesmo assim, tomamos algumas providências para tentar impedir novos problemas. Realizamos um concurso para contratação de novos veterinários, fizemos algumas alterações na fiscalização e pretendemos fazer novas mudanças. Recentemente, a União Europeia enviou uma equipe técnica para visitar nossos frigoríficos. Em uma reunião com embaixadores dos países da UE, eles disseram que gostaram do que viram. Acho que estamos no caminho certo.
O senhor acha possível a liberalização do comércio agrícola no âmbito de um acordo entre o Mercosul e a União Europeia?
Maggi – Sim, acho que estamos negociando há algum tempo e temos tudo para chegarmos a um bom termo. Essa é também a convicção do embaixador da UE no Brasil, João Cravinho. Na reunião que citei na questão acima, ele disse acreditar que o acordo Mercosul-UE está próximo. Então, acho que em breve teremos um aumento significativo no comércio bilateral em um período de dois a quatro anos entre os dois blocos.
O senhor disse que não pretende disputar eleições este ano. Vai permanecer no ministério até o fim do mandato do atual governo? Quais serão suas prioridades até lá?
Maggi – Sim, pretendo permanecer até o final do ano, quando termina o mandato do presidente Michel Temer. As prioridades serão dar continuidade aos trabalhos que já estão sendo desenvolvidos desde que assumi o ministério em 2016. Programas como o Agro+ que visa desburocratizar os procedimentos internos, as mudanças na fiscalização, a criação de novos planos para a cadeia do feijão e da pecuária, o aumento da participação do agronegócio brasileiro no mercado externo, enfim, são muitos os desafios.