Alexandre Rocha
São Paulo – O presidente da Embraer, Maurício Botelho, disse ontem (03) que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai disponibilizar em 2004 US$ 1,8 bilhão para financiar as exportações da empresa. Botelho atribuiu a informação a diretores do banco que, segundo ele, vêm dizendo isso publicamente. “A situação com o BNDES está resolvida”, afirmou.
Neste tipo de operação, os recursos não são aportados na Embraer, mas no financiamento da compra de aviões pelas companhias aéreas. Segundo Botelho, o dinheiro do BNDES corresponde a 50% dos financiamentos que devem ser concedidos no próximo ano para as exportações da empresa. O restante, de acordo com ele, será provido por instituições financeiras internacionais.
Os US$ 1,8 bilhão aproximam-se do valor programado para ser liberado pelo BNDES neste ano. No entanto, durante 2003 foram aprovados US$ 1 bilhão no decorer do ano, o restante, US$ 790 milhões, referiram-se a créditos aprovados em anos anteriores.
Com isso, Botelho acredita que em 2004 a empresa vai retomar o rumo do crescimento e apresentar resultados superiores aos atingidos neste ano. A Embraer encerrou o terceiro trimestre de 2003 com uma receita líquida de R$ 1,296 bilhão, 34,4% a menos do que o valor atingido no mesmo período do ano passado, que foi de R$ 1,976 bilhão. Já o lucro líquido obtido no terceiro trimestre de 2003 foi de R$ 88,9 milhões, montante 52,6% menor do que os R$ 187,8 milhões registrados no ano passado.
Segundo o presidente da empresa, a retração das vendas ainda foi resultado da crise no setor de aviação iniciada após os atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington. De acordo com ele, antes dos ataques, 65% das operações de exportação da Embraer eram financiadas com recursos de instituições financeiras internacionais e 35% pelo BNDES. “Depois do 11 de setembro os financiamentos internacionais sumiram”, afirmou. Agora, de acordo com Botelho, o banco estatal responde por 50% desses créditos. “Conforme o setor ganhe saúde, o sistema financeiro volta”, acrescentou.
Este ano, os recursos do BNDES ficaram represados e o total de US$ 1 bilhão para o financiamento de exportações só foi anunciado em setembro. Ao mesmo tempo, o atraso na certificação do novo modelo de jato regional Embraer 170 fez com que a empresa diminuísse sua previsão de entregas este ano de 110 para 102 aviões. Hoje o Embraer 170, que tem capacidade para carregar entre 70 e 78 passageiros, conta com uma certificação provisória do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) da Aeronáutica que permite que os aviões sejam entregues às empresas para testes e treinamento da tripulação apenas, mas não permite ainda sua operação comercial.
Com isso, entregas que deveriam ter ocorrido até o final deste ano, para Alitália, por exemplo, foram adiadas para 2004. Segundo Botelho, a certificação definitiva deverá sair em fevereiro do próximo ano. O atraso, segundo a empresa, ocorreu por problemas na documentação do software de comando de vôo. Ele disse que a empresa deverá entregar 160 aviões em 2004 e 170 em 2005.
Botelho admitiu que o atraso nas entregas deverá gerar encargos para a Embraer na forma de multas. “Se o prazo escorrega, é natural que haja uma compensação”, afirmou ele.
Oriente Médio
Um dos mercados que Embraer tem “prestado atenção” é o do Oriente Médio. Tanto que a empresa vai participar da feira internacional da aviação que vai ocorrer em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, entre os dias 7 e 11. Ao mesmo tempo, será realizada a Semana do Brasil em Dubai, primeiro evento exclusivamente brasileiro organizado na região e que será inaugurado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Botelho aposta que o mercado árabe é propício para a venda de jatos executivos, no caso da Embraer o Legacy, que pode acomodar até 16 pessoas na versão Executive e 37 na versão Shuttle. “Existem dois Legacys voando por lá e esperamos muito mais”, afirmou Botelho. Em sua opinião, o modelo é o que apresenta as oportunidades de negócios mais imediatos.
Isso porque, na avaliação de Botelho, jatos executivos fazem sucesso nos lugares onde as pessoas têm dinheiro, o que é o caso dos países árabes e dos Emirados, especialmente, o que torna o mercado da região “muito bom”.
Em Dubai a Embraer pretende apresentar, além das duas versões do Legacy, o modelo 170. “Na feira não existem negócios gerados ou terminados, ela dá visibilidade a negócios que estão para ser fechados ou bem encaminhados”, afirmou. Ele, porém, não falou sobre eventuais negócios que estariam sendo fechados na região.
A grande aposta da empresa neste momento reside na nova família de jatos regionais 170/190, quatro modelos que compartilham da mesma plataforma e que têm capacidade para carregar entre 70 e 118 passageiros. No entanto, na visão de Botelho o mercado para jatos regionais no Oriente Médio é restrito. “Podem haver algumas oportunidades, mas limitadas”, disse. Segundo ele, as companhias aéreas da região costumam optar por aviões maiores.
De acordo com estimativas divulgadas pelo jornal árabe Khaleej Times, porém, o mercado para jatos de pequeno e médio porte na região teve uma expansão de 22% nos últimos meses.
Defesa
No segmento de defesa, Botelho acredita na possibilidade de o consórcio criado pela Embraer e a francesa Dassault vencer a licitação para o fornecimento de 12 a 24 aviões de caça para a Força Aérea Brasileira (FAB). O modelo apresentado pelo consórcio é o Mirage 2000 BR, que deverá ser montado no Brasil. Segundo ele, a vantagem da proposta reside no fato de que os franceses vão transferir para o Brasil toda a tecnologia envolvida na fabricação do avião, inclusive os códigos fonte usados nos sistemas computadorizados, o que daria segurança ao governo brasileiro no caso de algum contingenciamento nas vendas internacionais de produtos bélicos. “São extremamente fortes nossas chances”, afirmou.
O resultado da concorrência, um negócio de US$ 1 bilhão, de acordo com Botelho, deverá ser conhecido em janeiro.
Ainda no mesmo setor, a Embraer aposta no sucesso do ALX Super Tucano, um turboélice para uso militar cujas primeiras unidades serão entregues à FAB no próximo dia 18.
Perfil
Hoje a Embraer se apresenta como a quarta fabricante de aviões do mundo, atrás apenas da americana Boeing, da francesa Airbus e de sua concorrente direta, a canadense Bombardier. O Embraer 170 é o primeiro da nova família de jatos regionais lançada pela empresa em 1999.
O 175, por sua vez, está em fase de testes e a empresa acredita que sua certificação sairá no próximo ano. Já o 190, cuja primeira unidade está sendo construída, deverá fazer seu primeiro vôo, segundo Botelho, no início de 2004, sua certificação está prevista para o terceiro trimestre de 2005. O Embraer 195 deverá ser certificado no segundo trimestre de 2006.
A Embraer aposta forte no crescimento do mercado mundial de jatos regionais. Ela estima uma demanda de 8.450 jatos com capacidade entre 30 e 120 passageiros ao longo dos próximos 20 anos, negócios no valor de US$ 180 bilhões.
A empresa tem hoje três unidades industrias no Brasil: Em São José dos Campos, Gavião Peixoto e Botucatu, todas no interior de São Paulo. No final do ano passado, assinou um contrato para construção de uma fábrica em Harbin na China, por meio de uma joint venture com a China Aviation para produzir os aviões da família ERJ 145.
Além da China, a empresa tem escritórios e bases de serviços na Austrália, França, Cingapura e Estados Unidos.
A família ERJ 145 foi lançada em 1996 e é composta por jatos regionais com capacidade para carregar entre 37 e 50 passageiros. Segundo a empresa já foram vendidas quase 800 unidades destes jatos.
No ano passado a Embraer entregou 131 jatos, sendo que sua receita de exportações foi de US$ 2,396 bilhões. Hoje ela emprega 12.607 pessoas. Os controladores da empresa são a Cia. Bozano e os fundos de pensão Previ e Sistel, que juntos detêm 60% das ações com direito a voto.
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