São Paulo – Depois de dois anos de estudos, pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Araçatuba, no interior de São Paulo, conseguiram fazer o sequenciamento do código genético do gado nelore. A partir de agora será possível comprar animais reprodutores ou o sêmen deles com as características que o criador deseja. Também a partir desse trabalho será possível, em tese, criar o que os pesquisadores chamam de “superboi”: um animal que reúne as melhores qualidades do nelore e do hereford, raça que já teve o DNA mapeado.
Para fazer o sequenciamento genético, o grupo coordenado pelo professor da faculdade de Medicina Veterinária da Unesp, José Fernando Garcia, saiu em busca de um animal endogâmico, ou seja, que fosse resultado do cruzamento de animais da mesma família e com a maior quantidade de igualdade genética.
Eles extraíram uma amostra de sangue deste boi, que foi batizado de Futuro, e fizeram o sequenciamento dos seus genes na universidade de Maryland, nos Estados Unidos. Com as informações, os pesquisadores podem, agora, comparar as características do DNA com a de outros animais e, assim, observar e selecionar aquelas que atendem o desejo do produtor.
As informações sobre aquele animal com DNA mapeado serão armazenadas em um chip. Essas informações vão apontar a qualidade da carne, produtividade de leite e até qual é a idade ideal para o abate do boi. Tudo isso no primeiro dia de vida do bezerro.
Antes do mapeamento genético, era preciso esperar o animal nascer, crescer e se reproduzir para, então, observar que qualidades ele transmitia. Bois com carne macia, vacas com alta produção de leite ou animais muito resistentes ao calor e aos parasitas não serão, contudo, “gerados” em laboratório nem multiplicados em série.
“A comparação de características genéticas poderá ser feita em animais que representam a elite dos reprodutores nacionais, que estimamos que seja formada por quatro milhões de cabeças. A partir daí, o criador de gado poderá comprar o boi com as características desejadas ou comprar o sêmen dele”, afirma Garcia. Ele acredita que a velocidade com que se encontram animais com as melhores características vai aumentar. “Acho que nos próximos dois ou três anos teremos uma outra qualidade de gado nelore nos rebanhos nacionais”, diz Garcia.
O nelore foi o escolhido para ter o DNA mapeado porque representa a maior quantidade de cabeças de gado em território nacional. O Brasil tem cerca de 200 milhões de cabeças de gado. De acordo com a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), 80% do rebanho é formado pela subespécie dos zebuínos. Desses, 80% são nelore ou têm genes de nelore. Correspondem a aproximadamente 128 milhões do total de cabeças de gado no Brasil.
Em outra etapa deste projeto, Garcia pretende criar o que chama de “superboi” a partir do cruzamento dos melhores exemplares de nelore com os melhores exemplares de hereford, um gado da subespécie taurina que se adapta bem em clima ameno e que teve o DNA mapeado em 2009.
O “superboi” reúne, em teoria, as melhores qualidades do nelore (resistência ao calor e aos parasitas) com a melhor qualidade do hereford (maciez de carne e produtividade). O desenvolvimento do superboi, no entanto, deve demorar mais tempo, pois os pesquisadores ainda precisam de financiamento para desenvolver a pesquisa.
O mapeamento genético do nelore consumiu investimentos de US$ 500 mil. O projeto foi desenvolvido em parceria com a Universidade de Maryland, o Serviço de Pesquisa em Agricultura do Departamento de Agricultura norte-americano e a Universidade Católica do Sagrado Coração, da Itália.

