Débora Rubin
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São Paulo – O lucro recorde registrado pela Companhia Vale do Rio Doce no primeiro semestre deste ano, de R$ 10,937 bilhões, e o aumento das exportações brasileiras de minério de ferro mostram que o Brasil não só tem vocação natural para a mineração como também vem explorando cada vez mais a capacidade produtiva de suas minas. E não é só em relação ao minério de ferro, a grande estrela dos metais em termos de produção e exportação. Os não ferrosos como o alumínio (bauxita), cobre e níquel, também têm apresentado bons resultados.
A produção de minério de ferro deve permanecer acelerada até 2015, segundo Paulo Camillo Vargas Penna, diretor presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). “A prova disso são as avaliações do mercado interno que têm sido continuamente revistas. O Ibram aumentou a sua previsão de US$ 25 bilhões para US$ 28 bilhões em investimentos na atividade mineral entre 2007 e 2011”, explica.
Em 2006, foram produzidos 317,8 milhões de toneladas do minério, 13,26% a mais que em 2005. No primeiro semestre deste ano, as vendas externas do minério de ferro somaram US$ 6,37 bilhões, 21,5% a mais que o mesmo período de 2006. Os números são do Sindicato Nacional da Indústria da Extração do Ferro e Metais Básicos (Sinferbase).
A Samarco, empresa que faz pelotização de minério de ferro, é um bom exemplo desse contexto positivo: pretende aumentar em 54% sua produção de pelotas em 2008. Atualmente, produz 14 milhões de toneladas por ano – a idéia é aumentar para 21,6 milhões de toneladas no próximo ano, segundo o diretor comercial, Roberto Carvalho.
A empresa, que pertence à Vale e à australiana BHP Billiton, foi criada nos anos 70 especificamente para exportação do minério de ferro. Hoje, 28% do total das vendas vai para a China – esse número já bateu em 45% – e 22% para o Oriente Médio. São esses os dois principais mercados da companhia, cujas reservas minerais ficam em Minas Gerais e as plantas de pelotização ficam no Espírito Santo.
Para fazer essa ligação entre os dois estados, a empresa conta com um mineroduto de quase 400 km. Com o aumento da produção, um novo mineroduto já está sendo construído ao lado do antigo. Este deve começar a funcionar em março.
“O aumento da produção se deve ao crescimento do mundo como um todo. Não é só a China que demanda – todos países em crescimento também. E quanto mais cresce a construção civil e outros setores, mais se consome aço. Quanto mais aço, mais a necessidade de pelotas”, diz Carvalho.
O boom dos não-ferrosos
Outros metais que também têm chamado a atenção são o cobre e o níquel – não só pelo volume de produção, ambos cresceram em torno de 11% em relação a 2005, mas principalmente por causa das cotações na Bolsa de Metais de Londres. O preço de ambos mais que dobrou nos últimos anos. O do níquel, em particular, cresceu ainda mais. “Saiu de US$ 8 mil por tonelada há cinco anos para o nível atual de US$ 35 mil”, explica Paulo Camillo. “A partir de 2008, temos a expectativa que a produção brasileira triplique”, adianta o presidente do Ibram.
A produção de concentrado de cobre, que até pouco tempo atrás estava limitada a apenas uma mina, deve crescer a ponto de tornar o Brasil auto-suficiente até 2010. “As perspectivas bastante otimistas são um resultado do início das operações da mina de Salobo, da Vale do Rio Doce, situada no município de Canaã dos Carajás”, diz Paulo Camillo. Durante muitos anos, apenas a Mineração Caraíba, na Bahia, produziu o concentrado.
Exportações
A chamada Indústria Extrativista Mineral exportou em 2006 US$ 40,1 bilhões e importou US$ 28,3. Somando os dois valores, obtém-se o Fluxo de Comércio Mineral, igual a US$ 68,4 bilhões – 27,9% maior que o de 2005. Segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), em 2003 ocorreu uma inversão em relação aos dois anos anteriores: naquele ano, as exportações ultrapassaram a importações e o saldo ficou positivo. Além disso, esse fluxo vem crescendo desde então.
Para Antônio Fernando da Silva Rodrigues, diretor de Desenvolvimento e Economia Mineral do DNPM, esse novo crescimento mineral que começou a aparecer mais em 2004 pegou muita gente de surpresa, sobretudo analistas que não acreditavam mais no potencial mineral brasileiro.
“Com esse novo cenário, estão todos correndo atrás do tempo perdido, afinal, foram duas décadas sem investimentos e sem pesquisas geológicas para repor as jazidas”, diz. Nesse contexto, Rodrigues lembra que o Brasil, além da competência em produzir e exportar esses metais, tem mais uma grande carta na manga, a geodiversidade. Nesta terra, em se cavando, quase tudo dá.
Nem tudo que reluz é ferro
O ouro fica na lanterninha no ranking dos metais em termos de produção. Foram produzidas apenas 45 toneladas em 2006. Por outro lado, cada graminha desse metal vale mais que muitos gramas dos demais. E apesar de sequer ser lembrado quando se fala em produção mineral no Brasil – parece até que extração de ouro no país é coisa de livro de história – as empresas que atuam no ramo devem investir na ampliação de suas minas nos próximos anos.
É o caso da Rio Paracatu Mineração (RPM), que pertence à canadense Kinross, que tem nove minas mundo afora e é a oitava maior produtora de ouro do mundo. A RPM produziu, no ano passado, cinco toneladas de ouro. No próximo ano, esse número vai triplicar, graças a um projeto de expansão da capacidade produtiva e investimentos de US$ 470 milhões.
Essa produção de 15 toneladas ano deve durar mais trinta anos, segundo o diretor presidente da Kinross Brasil e presidente da RPM, José Roberto Freire. Para se produzir as 15 toneladas de ouro, serão necessários 61 milhões de toneladas de minério. “É a mina com o teor de ouro mais baixo do mundo, 0,4%”, explica ele.
O ouro que sai dali é totalmente exportado, vendido basicamente para tradings e bancos americanos. Freire acredita que o mercado mundial de ouro vai continuar crescendo, sobretudo por causa de dois fatores: primeiro porque países asiáticos em crescimento têm comprado mais o metal precioso para fazer adornos de ouro, uma tradição secular entre eles. E segundo porque os bancos têm comprado o ouro como uma opção ao dólar em baixa. “Mas o ouro também tem aplicação industrial, é usado no segmento de eletrônicos, por exemplo”, ressalta Freire.
A Kinross tem ainda 50% em uma mina de Goiás. Juntando a produção de ambas e considerando a ampliação no próximo ano, a Kinross vai participar com até 30% de toda a produção nacional a partir de 2008.