São Paulo – O governo brasileiro continua a manter contatos frequentes com os países do Oriente Médio e Norte da África e acompanha com atenção o desenrolar dos acontecimentos na região, segundo disse nesta quinta-feira (17) o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, em entrevista a correspondentes estrangeiros, no escritório do Itamaraty em São Paulo.
Entre as atividades previstas para este ano, o chanceler afirmou que pretende em breve visitar a Argélia, país que ele considera “central” no âmbito da Liga dos Estados Árabes e que desempenhou um papel “muito profissional” na presidência do G77 durante a Rio+20, Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, que ocorreu em 2012 na capital fluminense. O G77 reúne países em desenvolvimento e busca articular posições comuns entre estas nações em fóruns internacionais.
O ministro condenou o sequestro por terroristas de trabalhadores de um campo de petróleo na Argélia, na quarta-feira (16), que resultou em mortes durante uma tentativa de resgate pelo exército local na quinta. “Condenamos todos os atos de violência contra civis. É preocupante”, afirmou Patriota, acrescentando que vai abordar o tema com seu colega argelino na visita que pretende fazer.
Ele falou também sobre o interesse brasileiro em ver andar as negociações de paz entre Israel e Palestina. A diplomacia brasileira pretende atuar nesse sentido onde for possível, como na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), agência que aceitou a Palestina como estado membro em outubro de 2011. “Vamos trabalhar na Unesco para aproximação cultural e educacional entre palestinos e israelenses, e podemos apoiar outras iniciativas”, declarou.
O ministro lembrou que o Brasil “apoiou ativamente” o reconhecimento da Palestina pela Assembleia Geral da ONU, que no ano passado elevou o status do país ao de estado observador. “Fazemos questão de um diálogo multifacetado”, destacou. Segundo ele, isso quer dizer que as negociações internacionais devem ocorrer não só na seara diplomática, mas também em áreas como comércio e tecnologia.
Patriota ressaltou que o Brasil é favorável à retomada das negociações de paz entre palestinos e israelenses no “mais breve prazo”. “A comunidade internacional precisa fazer uma autocrítica com relação a essa paralisia, houve até um retrocesso com o avanço dos assentamentos”, disse o chanceler, referindo-se à construção de assentamentos israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, que são territórios palestinos ocupados.
O ministro voltou a criticar a falta de atuação do chamado Quarteto, grupo formado por Estados Unidos, Rússia, União Europeia e ONU, que deveria atuar como mediador do processo de paz entre Israel e Palestina. “Há uma frustração com o que vemos ser uma inoperância, uma ineficiência do Quarteto, que não tem produzido resultados”, afirmou.
Também na ONU, o Brasil assume em fevereiro cadeira no Conselho de Direito Humanos, e pretende, de acordo com Patriota, promover uma agenda voltada ao combate à intolerância, com especial atenção à islamofobia.
Síria
Embora não faça parte do Conselho de Segurança atualmente, o País pretende acompanhar e pressionar por uma solução para o conflito civil na Síria. “Repudiamos o aumento da violência”, declarou.
Ele acredita ser possível retomar o consenso atingido em junho do ano passado, durante reunião ministerial em Genebra, na Suíça, que resultou no envio de observadores da ONU à nação do Oriente Médio, mas que posteriormente foram retirados frente ao recrudescimento da violência.
Segundo o chanceler, o acordo feito na ocasião, assinado por China e Rússia, que se opõem a ações mais incisivas contra o governo sírio no Conselho de Segurança, é “um mapa do caminho para a transição” no país. Ele declarou que o departamento de operações de paz da ONU está se preparando para agir no caso de um cessar-fogo.
Em outra frente diplomática, o ministro citou visita que fez recentemente à Turquia para se reunir com embaixadores brasileiros que trabalham em países islâmicos e dar uma palestra a diplomatas turcos que atuam ao redor do mundo. Na ocasião, junto com a Suécia, Brasil e Turquia lançaram uma parceria informal batizada de TSB, que, além de juntar as iniciais dos três países, virou sigla para a expressão em inglês Trilateral Solidarity for Building Peace (Solidariedade Trilateral para Construção da Paz).
Patriota disse ainda que o presidente do Egito, Mohamed Morsi, poderá visitar o Brasil ainda no primeiro semestre. A viagem estava marcada para o ano passado, mas foi adiada. Ele acrescentou que outros fóruns vão discutir questões relativas ao Oriente Médio este ano, como a conferência sobre a Aliança das Civilizações, em Genebra, e a conferência de Munique, na Alemanha, sobre segurança. Ambos os eventos terão participação brasileira.

