São Paulo – A safra brasileira de cana-de-açúcar 2020/2021 ainda está no começo, mas é promissora e deve fazer com que o País tenha grande disponibilidade de açúcar para exportar. De acordo com o “Acompanhamento quinzenal da safra Centro-Sul” até 16 de maio divulgado pela União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), a moagem de cana-de-açúcar até a primeira metade de maio ultrapassou 103 milhões de toneladas, um aumento de 21,67% sobre o mesmo período da safra 2019/2020. Do total, 45,3% da cana-de-açúcar processada foi destinada à produção de açúcar, percentual que na safra 2019/2020 correspondeu a 32,19%. Estes dados se referem à produção do Centro-Sul do Brasil, que corresponde a aproximadamente 89% do total nacional.
A mudança no mix de produção entre etanol e açúcar está relacionada a uma alteração na demanda do mercado. De acordo com o integrante do comitê executivo do Grupo Tereos e presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Jacyr Costa Filho, a disputa de preços de petróleo entre Arábia Saudita e Rússia no início do mês de março e a pandemia global decorrente da covid-19 reduziram os preços do petróleo e da gasolina, o que afetou a competitividade do etanol. O produto é usado como combustível no Brasil. Além disso, houve menor demanda por combustíveis em geral.
Ao mesmo tempo, alguns países, como a China, voltaram a importar grandes quantidades de açúcar para recompor seus estoques. O mesmo ocorre com os países muçulmanos, em razão do fim do Ramadã, encerrado em 23 de maio.
Costa afirma que o Brasil deverá exportar entre 28 milhões e 30 milhões de toneladas de açúcar nesta safra e garantir o equivalente a 50% da demanda global pela commodity. Isso ocorre não apenas porque a produção e as exportações brasileiras estão em crescimento, mas porque a Tailândia, que é o segundo exportador mundial, enfrenta quebra de safra decorrente de uma das maiores secas dos últimos 40 anos.
O diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, afirma que o Brasil deverá recuperar em 2020/2021 os patamares recordes de produção de açúcar registrados há três anos. É esperada uma produção total de 38 milhões de toneladas de açúcar na safra 2020/2021, sendo que 36 milhões deverão ser produzidos por usinas do Centro-Sul e aproximadamente 2 milhões a 3 milhões de toneladas por unidades do Nordeste. Esse total representa um incremento de aproximadamente nove milhões de toneladas sobre a produção de açúcar de 2019/2020.
Tanto Rodrigues como Costa observam que os preços do açúcar no mercado internacional estão baixos, em torno de US$ 0,10 a US$ 0,11 por libra-peso, mas o câmbio favorável compensa os preços baixos. “Os preços caíram, mas a desvalorização do real em relação dólar levou a um ganho de competitividade e compensou os custos”, afirma Costa.
Costa observa que os países árabes já são grandes importadores de açúcar, commodity que em 2019 correspondeu a 20% das exportações do agronegócio brasileiro. “Os países árabes são um destino muito importante para o açúcar. São o terceiro maior destino das exportações do agronegócio e estão ganhando relevância para as empresas brasileiras à medida que são, também, parceiros nos investimentos”, diz, lembrando que há empresas brasileiras com unidades industriais no Golfo e investimentos dos países do Oriente Médio no setor de proteína animal do Brasil.
Padua observa que o setor sucroalcooleiro brasileiro também é versátil e capaz de atender às diferentes demandas. Pode tanto produzir etanol para o abastecimento de veículos, produzir álcool com fins de desinfecção, como ocorre em maior volume neste ano, como produzir açúcar para consumo interno e para exportação. “O Brasil tem um diferencial em relação aos outros países, que é dispor de 85% das usinas capazes de produzir açúcar ou etanol e otimizar a produção”, afirma.
*Reportagem de Marcos Carrieri, especial para a ANBA