Isaura Daniel*
São Paulo – Os egípcios desembarcaram 411 toneladas de fios de algodão e 398 toneladas de algodão in natura no Brasil nos sete primeiros meses deste ano. Os produtos saíram dos navios para abastecer as indústrias têxteis que fabricam os tipos mais finos de fios, tecidos, camisas e lençóis do país. Artigos feitos a partir do algodão egípcio são sinônimo de sofisticação no varejo brasileiro.
Tanto que as importações do algodão produzido no Egito não são muito volumosas em função do mercado restrito. "Ele é usado apenas para fazer alguns produtos mais nobres e mais caros", explica o diretor da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Marco Antônio Aluisio.
O Egito produz algodão de fibras longas e extra-longas, mais compridas do que as do plantado no Brasil. A fibra longa não precisa ser tão esticada no momento da fabricação do fio, em função do seu comprimento, o que torna o produto final mais resistente. "É preciso menos algodão para fazer a mesma quantidade de fios", diz Aluisio.
A Círculo, fabricante de linhas para bordado, tricô e crochê, é uma das empresas brasileiras que importa algodão egípcio. A indústria produz o seu tipo mais nobre de linha para bordado, a Maxi Mouline, com a matéria-prima vinda do Egito. "O algodão egípcio possui um brilho excepcional", diz o gerente de exportação da Círculo, Alfredo Pinto.
O brilho e a resistência são citados por Ahmed Elhami, gerente geral de exportações da Modern Nile Cotton, a maior produtora de algodão no Egito, como os principais diferenciais do produto egípcio.
Plantação
Na maioria das lavouras do Egito o algodão é colhido de forma manual. De acordo com informações da Associação dos Exportadores de Algodão da Alexandria (Alcotexa) e do Ministério de Comércio Exterior do Egito (Moft), o trabalho humano acaba fazendo com que a fibra saia intacta da plantação, o que lhe garante maior qualidade.
O algodão de fibra longa e extra-longa não é produzido no Brasil. Outros países, porém, como Estados Unidos, Peru, Rússia e Uzbequistão, plantam um produto similar. O Egito, no entanto, possui parte das lavouras irrigadas e uma tradição centenária na produção da commodity.
No ano passado, os egípcios produziram 289,7 mil toneladas de algodão. A plantação é feita na metade do mês de março e a colheita ocorre por volta do mês de setembro. "Os meses de julho e agosto são os mais importantes na fase do crescimento do algodão, pois é quando as fibras se formam e amadurecem", explica Elhami.
A maior parte do algodão egípcio é utilizada para fabricação de roupa de cama e é transformado fora do país. No ano passado, o Egito exportou cerca de 60% da commodity produzida. Os 15 maiores compradores foram Índia, Itália, Estados Unidos, Paquistão, Coréia do Sul, Suíça, China, Turquia, Tailândia, Indonésia, Japão, Portugal, Alemanha, Bangladesh e Grécia. São 35, porém, os países que compram o algodão egípcio no mundo.
De acordo com informações da Alcotexa e Moft, nos próximos cinco anos deve haver um aumento de 20% nas exportações do algodão do país. No ano passado elas cresceram 40%.
Brasil e Egito
O Brasil é um dos países que estão aumentando as suas importações de fios de algodão egípcio. Nos sete primeiros meses do ano, o volume importado (411 toneladas) cresceu 39,4% em relação ao mesmo período do ano passado. Mas, por outro lado, as importações de algodão cru diminuíram de 1,2 mil toneladas de janeiro a julho de 2003 para 398 toneladas no mesmo período deste ano, uma queda de 66,8%.
Ou seja, os egípcios estão vendendo menos algodão in natura e mais algodão transformado para o Brasil. "As indústrias têxteis brasileiras devem estar comprando mais fios egípcios em função da recuperação da economia nacional", diz Aluisio.
Lavoura nacional
Alguns dos grandes compradores do algodão egípcio, como Índia, China e Itália, também são clientes do algodão brasileiro. A commodity produzida no Brasil, porém, é de fibra curta, diferente da egípcia.
O Brasil também está trabalhando para aumentar sua produção de algodão. O país deve chegar ao final da safra de algodão deste ano, em outubro, com 1,2 milhão de toneladas colhidas. No ano passado, a safra ficou em 840 mil toneladas, o que significa um aumento de 42%.
Devem ser exportadas, até o final do ano, 400 mil toneladas. Em 2003, as exportações ficaram em cerca de 200 mil toneladas. "De uns quatro anos para cá a balança do setor começou a se equilibrar. Há uns sete anos o Brasil era um importador importante", diz o presidente da Associação dos Cotonicultores Paranaenses (Acopar), Almir Montecelli.
Neste ano o Brasil deve importar ainda cerca de 100 mil toneladas de algodão. Mas, conforme Aluisio, o país importa apenas tipos de algodão como o egípcio, de fibra extra-longa e longa, que não é fabricado localmente, e algumas quantidades de algodão norte-americano em função do preço baixo.
Tarifa externa
O algodão egípcio poderá entrar na lista de produtos que terão a sua alíquota externa negociada no acordo de preferências tarifárias que o país está negociando com o Mercosul. Hoje, sobre a entrada da commodity no Brasil incide uma taxa de cerca de 10%.
"Seria bom para o Brasil se o algodão egípcio entrasse no país com alíquota zero, já que ele não compete com a algodão brasileiro", diz o coordenador do comitê de Algodão da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Pocho Silvera.
No varejo brasileiro são vendidos tanto produtos de algodão que vêm prontos do Egito como os fabricados no Brasil com a matéria-prima egícia e também os produzidos com o algodão egípcio em outros países, caso da China.
*Colaborou Marina Sarruf