Alexandre Rocha
São Paulo – Desde setembro o Brasil já é o maior exportador mundial de frango em termos de receitas cambiais, ultrapassando os Estados Unidos que são os maiores produtores, segundo informou ontem (10) o presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef), Júlio Cardoso.
De acordo com a associação, o país vendeu ao exterior no período 1,458 milhão de toneladas da ave, equivalentes a US$ 1,302 bilhão, ao passo que os EUA exportaram uma quantidade maior (1,648 milhão de toneladas), mas a um valor menor (US$ 1,072 bilhão).
Enquanto o preço médio do produto brasileiro por tonelada ficou em US$ 893 até setembro, o frango americano foi vendido a US$ 650 no mercado internacional. Segundo Cardoso, essa diferença se deve principalmente ao fato de que o Brasil produz mercadorias de maior valor agregado, ou seja, frangos desossados, cortes especiais etc., ao passo que os EUA exportam um produto em estado mais bruto, com osso e em cortes maiores.
"O foco da indústria americana é o mercado interno e eles exportam os excedentes. Já o Brasil é bastante focado nas exportações, tem custos competitivos e qualidade. Nós só temos dificuldade em vender essa imagem", afirmou Cardoso. Como grandes consumidores dos produtos brasileiros mais elaborados, ele citou a Europa e o Japão. Segundo Cardoso, o Japão, por exemplo, demanda cortes especiais feitos manualmente, serviço que nos Estados Unidos sai muito caro.
Recorde anual
No acumulado de janeiro a novembro o Brasil exportou 1,812 milhão de toneladas, o que gerou receitas de US$ 1,645 bilhão, um crescimento de 21,5% em quantidades embarcadas e de 28% em valores na comparação com o mesmo período de 2002.
Os números ultrapassam os registrados em todo o ano passado e, segundo a Abef, mostram um novo recorde nas vendas externas anuais do setor. A meta, de acordo com Cardoso, é fechar o ano com 2 milhões de toneladas exportadas no valor de US$ 1,85 bilhão.
O executivo ressaltou que o preço médio do produto aumentou 22% este ano, pulando de US$ 763 em janeiro para US$ 931 em novembro. "Queremos crescer em volumes, mas muito mais em preços", disse.
Barreiras na Rússia e na UE
Apesar do crescimento expressivo, nem tudo correu às mil maravilhas para os exportadores de frango. A Rússia, um dos principais mercados mundiais, com capacidade para absorver 1,05 milhão de toneladas de carne de frango, praticamente fechou as portas para o produto brasileiro ao estabelecer um sistema de cotas.
De acordo com Cardoso, em 2002 o Brasil exportou para o país eslavo 300 mil toneladas de frango e, este ano, chegou a embarcar para lá 200 mil toneladas antes da fixação das cotas em abril. Ele acredita que o volume de vendas para a Rússia deve cair para algo em torno de 50 mil a 60 mil toneladas no próximo ano.
Aliado a isso, a União Européia fixou uma barreira tarifária sobre o frango salgado. De acordo com Cardoso, o principal produto exportado pelos produtores brasileiros ao continente europeu é exatamente o peito de frango salgado. Segundo ele, a taxa de importação que era de 15% subiu para 75%, o que levou o Brasil a propor a abertura de um painel contra a UE na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Houve uma queda então de 32,98% na quantidade de frangos inteiros exportados para Europa e de 3,03% no volume da ave em pedaços. O grosso das vendas para a Europa são os cortes especiais.
Segundo o presidente da Abef, um dos principais fatores que ajudaram a compensar essas perdas e a garantir o crescimento em 2003 foi a abertura de novos mercados. De acordo com ele, enquanto em 2002 o Brasil vendeu para 100 países, este ano o total subiu para 120.
"Os maiores índices de crescimento, de um modo geral, foram observados na América Latina, no Oriente Médio e na África", disse. Ele destacou especialmente as vendas para a África, que registraram um aumento de mais de 50%, pulando de 66,8 mil toneladas para 100,8 mil toneladas, sendo que a África do Sul é o maior comprador no continente.
Outros dois fatores importantes que garantiram o crescimento, na avaliação de Cardoso, foram os problemas sanitários enfrentados por outros países exportadores, como a Alemanha, a Holanda e a China – com a ocorrência de doenças que atingiram as granjas – e a valorização do euro, que garantiu maior competitividade ao produto brasileiro em mercados como o Oriente Médio.
Oriente Médio
O Oriente Médio, aliás, continua ser o principal mercado do frango brasileiro. O Brasil exportou entre janeiro e novembro mais de 545 mil toneladas para a região, equivalentes a US$ 445,8 milhões, um aumento de 21,5% nas quantidades exportadas e de 34,23% nos valores em relação ao mesmo período do ano passado.
Na região, o maior mercado é a Arábia Saudita, seguida pelos Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Iêmen, Omã, Catar, Bahrein e Irã. Este último não é um país árabe, mas está localizado no Oriente Médio.
Cardoso disse que, no Oriente Médio, o Brasil já tem uma "posição forte" e o esforço agora é mais no sentido de manter o mercado do que expandir. Ele afirmou, no entanto, que "alguns novos mercados" da região que "ainda não eram atendidos já estão sendo estruturados".
Como exemplo, citou o Iraque, para onde o Brasil voltou a exportar este ano após a suspensão do embargo econômico imposto pela Organização das Nações Unidas (ONU) na última década. Cardoso disse, porém, que os volumes vendidos foram pequenos, algo em torno de 2 ou 3 mil toneladas, quase nada se comparado às quantidades que o Brasil vendia ao país em meados dos anos 80, que chegaram a 80 mil toneladas por ano.
Sustentação
As perspectivas de crescimento para 2004, porém, não são tão boas. Cardoso disse que os fatores que contribuíram para que o país atingisse os números registrados este ano não vão se repetir. "Nossa expectativa é que 2004 não vai ser um ano de grande crescimento, mas de sustentação da nossa posição", afirmou.
O executivo aposta num aumento das exportações entre 2% e 3%. "Vamos começar o ano perdendo de 1 a 0, perdendo no mínimo 150 mil toneladas em exportações", disse, referindo-se aos problemas com a Rússia.
Ele afirmou que, na distribuição das cotas russas, os Estados Unidos acabaram ficando com 70% e a UE com uma boa fatia, já o Brasil foi incluído no item "outros países" que têm direito apenas a 5% do mercado, ou seja, não têm uma cota garantida. Em sua avaliação, a iniciativa privada fez tudo o que pode para garantir esse mercado, mas o governo não fez a sua parte nas negociações.
A esperança reside na conquista de novos mercados, como o da Coréia do Sul que, segundo Cardoso, pode ser aberto. Outra aposta é a China, que apesar de ser um mercado aberto ainda é pouco explorado pelo Brasil.
No mercado interno, a expectativa igualmente é de um crescimento pequeno, também em torno de 2% a 3%. O setor deve fechar 2003 com uma produção de 7,8 milhões de toneladas, sendo que 5,8 milhões consumidas no Brasil mesmo.
Com essas perspectivas de mercado a Abef, segundo Cardoso, está orientando aos produtores adotarem uma estratégia conservadora para 2004 no que diz respeito ao aumento da produção. "Não se deve produzir muito mais, porque não vai ter para quem vender", afirmou.