Cidade do Kuwait – O Brasil completou 50 anos de relações diplomáticas com o Kuwait no início de fevereiro. O decreto foi assinado em 08 de fevereiro de 1968, quando se estabeleceu a primeira embaixada brasileira no país árabe. A reportagem da ANBA conversou com o embaixador do Brasil no Kuwait, Norton Rapesta. Ele é responsável também pelas relações diplomáticas com o Bahrein.
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O diplomata afirmou que há um déficit de visitas de autoridades brasileiras ao Kuwait e que a nação do Golfo nunca recebeu a visita de um presidente do Brasil. “Se o presidente Michel Temer pudesse incluir o Kuwait em sua planejada viagem a países da região no primeiro semestre, seria uma visita histórica”, disse. O embaixador contou que “os árabes dizem que os amigos têm que se visitar muito, mesmo que as visitas sejam breves”, e que isso se reflete nos negócios.
“A exportação de carne bovina brasileira, por exemplo, foi embargada em 2010 e reaberta em maio de 2017, após a visita do ministro da Agricultura Blairo Maggi", comentou. Maggi visitou o Golfo, inclusive o Kuwait, para dar esclarecimentos sobre o episódio da Operação Carne Fraca e para evitar embargos à carne brasileira. No caso do frango, o Brasil tem hoje uma fatia de 85% do mercado kuaitiano.
Para Rapesta, o empresariado brasileiro poderia ganhar muito visitando os outros países da região, além dos Emirados Árabes Unidos. “O empresário brasileiro vai para Dubai e acredita que lá consegue resolver tudo, mas poderia aproveitar para conhecer não só o Kuwait, mas também o Catar, a Arábia Saudita e o Bahrein, para ver a realidade e o potencial de negócios de cada país, porque é diferente.”
Para o embaixador, o Brasil tem “soft power” na região, com sua cultura e música. A expressão em inglês é usada para descrever a capacidade de influência internacional de uma nação por meios culturais ou ideológicos. “Para aumentar o poder de penetração, precisamos diversificar as exportações, investir em ciência e tecnologia e promover investimentos nos países do Golfo”, completou.
Relações comerciais
O Brasil exportou mais de US$ 222 milhões para o Kuwait em 2017, essencialmente em carne de frango, milho e calçados. O número representou um aumento de 12,5% em relação a 2016. As vendas do Kuwait ao Brasil somaram US$ 135 milhões, uma queda de 53% na mesma comparação. Os principais itens da pauta foram combustíveis minerais, óleos minerais e fertilizantes.
Quanto ao Bahrein, as exportações brasileiras renderam US$ 339 milhões em 2017, um crescimento de 30,5% sobre o ano anterior, com destaque para minério de ferro e concentrados, coloridos artificiais, óxido e hidróxido de alumínio e carne de frango. O Brasil importou quase US$ 95 milhões em fertilizantes, combustíveis minerais, óleos minerais e alumínio, um acréscimo de 7,4%.
Ainda sobre o Bahrein, Rapesta disse que o país é "uma ilha em cima de petróleo" e um dos maiores produtores de alumínio do mundo, “e quase ninguém sabe disso”. Ele contou que rodas de carros como BMW e Mercedes são feitas lá e que o turismo também está crescendo muito na ilha.
“O Bahrein é um país pequeno e está interessado em investimentos estrangeiros, não em dinheiro, mas em tecnologia, e o Brasil tem tecnologia e know-how em vários segmentos que interessam a eles, como fazendas de pesca, por exemplo”. Segundo o embaixador, o empresário brasileiro pode entrar com o conhecimento e o bareinita investirá com facilidade. Ele completou que isso se aplica também ao Kuwait.
Diplomacia
Para viajar ao Kuwait, o brasileiro deve solicitar visto na embaixada do país em Brasília. No caso do Bahrein, não é mais necessário, os brasileiros recebem o visto no momento da entrada no país. “É interessante para eles que os brasileiros visitem, então eles facilitaram a entrada”, declarou o embaixador. “Já pedi reciprocidade para o Brasil, mas ainda não obtive resposta”, acrescentou. Para o bareinita ir ao Brasil, ele precisa enviar o passaporte para a embaixada brasileira no Kuwait emitir o visto. O mesmo vale para os kuaitianos.
O diplomata comentou também sobre a Conferência para a Reconstrução do Iraque realizada este mês na Cidade do Kuwait. “O Kuwait é um país equilibrado e generoso, que se preocupa com seus vizinhos, seus irmãos árabes", disse. Ele ressaltou que a reconstrução do Iraque é fundamental para os cidadãos ganharem perspectivas de futuro, evitando violência e fanatismo religioso.
Rapesta está no Kuwait há um ano e meio. Antes disso, foi embaixador na Finlândia e em Angola. Para ele, o Kuwait é um país confiável, com grande capital político e muito respeito entre os vizinhos do Golfo.