Isaura Daniel
São Paulo – O aumento do preço do petróleo está mexendo com a balança comercial entre o Brasil e os países árabes. As exportações brasileiras para a região cresceram 67% nos oito primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, impulsionadas em grande parte pelo aumento da capacidade de compra dos países árabes, fornecedores mundiais da commodity.
O Brasil faturou US$ 2,6 bilhões com vendas para os países da Liga Árabe entre janeiro e agosto, US$ 1,1 bilhão a mais do que nos mesmos meses de 2003. De acordo com o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), Michel Alaby, a alta nas cotações mundiais do petróleo está favorecendo a venda de produtos brasileiros na região.
As importações brasileiras de países árabes também cresceram no período impulsionadas pela commodity. Saíram de US$ 1,6 bilhões nos oito primeiros meses de 2003 para US$ 2,4 bilhões neste ano, com uma alta de 45%. A Argélia, tradicional fornecedor de petróleo para o Brasil, exportou US$ 1,2 bilhão para o país no período, aumento de 74%.
"O consumo interno de derivados de petróleo aumentou 7% no primeiro semestre e a produção nacional caiu 5%. A Petrobras importou petróleo", explica o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura, Adriano Pires. O aumento do consumo doméstico foi impulsionado principalmente pela retomada do crescimento da economia brasileira.
Praticamente todos os países produtores de petróleo do Oriente Médio aumentaram as suas exportações para o Brasil. O Iraque, por exemplo, passou de US$ 176 milhões nos oito primeiros meses de 2003 para US$ 324 milhões neste ano e a Arábia Saudita saiu de US$ 517 milhões para US$ 608 milhões. Nos seis primeiros meses deste ano, a Argélia e a Arábia Saudita constam em segundo e terceiro lugar, respectivamente, como maiores fornecedores de petróleo do Brasil.
O aumento na demanda doméstica brasileira de petróleo deve atrapalhar os planos do país de tornar a balança comercial da commodity superavitária. A Petrobras teve que fazer alguns reparos em plataformas e atrasou algumas entregas, o que causou uma queda na produção. No ano passado, o Brasil teve um saldo negativo de US$ 1,7 bilhão entre importações e exportações do produto.
As importações brasileiras de petróleo passaram de US$ 1,7 bilhões nos seis primeiros meses de 2003 para US$ 3,1 bilhões no mesmo período deste ano.
Não só o petróleo, porém, pesou no aumento das importações brasileiras de produtos originários de nações árabes. Também o Marrocos, um dos maiores fornecedores de sardinha do Brasil, aumentou suas vendas em US$ 40 milhões entre janeiro e agosto para o Brasil.
O comércio com os países árabes está ganhando importância na economia brasileira. No ano passado, as exportações para a região representaram 3,7% do total faturado pelo país com vendas no exterior. Neste ano, até agosto, os árabes já representam 4,2% das exportações nacionais.
Entre os países da Liga Árabe que mais aumentaram suas compras do Brasil até o oitavo mês do ano estão a Argélia, o Egito, o Marrocos, a Síria e os Emirados Árabes Unidos. O Egito adquiriu US$ 420 milhões em mercadorias do Brasil, um aumento de 60% em relação ao mesmo período de 2003. A Argélia comprou 115% a mais, com US$ 209 milhões, o Marrocos aumentou as aquisições em 69%, com US$ 235 milhões, e os Emirados Árabes Unidos em 45%, com US$ 460 milhões.
De acordo o secretário-geral da CCAB, o aumento das compras foi impulsionado, em grande parte, pela aproximação do ramadã. No período religioso, que ocorre entre outubro e novembro, as famílias árabes normalmente trocam presentes e fazem festas, o que aumenta o consumo local.
A balança comercial também registrou aumento de vendas para Kuwait, Síria e Jordânia, países que recebem boa parte dos produtos que são enviados posteriormente ao Iraque. A Síria teve um aumento surpreendente nas compras de mercadorias brasileiras. O país, que havia adquirido US$ 19 milhões em produtos oriundos do Brasil entre janeiro e agosto de 2003, comprou, no mesmo período deste ano, US$ 118 milhões.

