Brasília – No mês passado, o setor privado internacional entregou as suas recomendações para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). Nesta quarta-feira (15), expôs em seminário em Brasília casos de empresas que são sucesso em sustentabilidade. Durante a conferência, no mês que vem, apresentará um documento com o legado do setor privado para o Brasil a partir da COP30.
Todos esses passos, encabeçados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), uma instituição brasileira, compõem um jeito inovador e estruturado do empresariado mundial participar das discussões sobre a mudança do clima, que neste ano ocorrerão na COP30 em novembro, na cidade brasileira de Belém, no Pará. No total, são 67 países representados nessa voz empresarial conjunta, o que é novo para COPs.

Chamada de Sustainable Business COP (SB COP), a estratégia que o setor privado desenvolveu para se fazer presente numa conversa governamental – nas COPs falam os governos de cada país orquestrados pelas Nações Unidas – foi apresentada no seminário “PRÉ-COP30: O Papel do Setor Privado na Agenda de Clima”, no Unique Palace, na capital federal, nesta quarta-feira.
Falando no encontro, Dan Ioschpe, Campeão de Alto Nível do Clima da COP30, elogiou a ideia. “Está dando frutos e é muito conectada com aquilo que a gente deseja, não só para a COP30, COP da Amazônia, COP do Brasil, mas provavelmente para o ciclo de COPs que estão à nossa frente. E eu aqui posso dizer que é a visão de todos com quem eu tenho falado, seja na esfera de governos, seja na esfera privada”, disse ele.
Nas últimas COPs, o setor privado teve alguma participação, mas principalmente em um espaço de expositores, quase sempre com grandes empresas, e não estruturada e com voz internacional conjunta como neste ano. “Você tinha setores, mas nunca de forma integrada”, explicou para a ANBA o chair da SB COP, Ricardo Mussa. Segundo ele, a CNI se espelhou no B20, grupo que reúne o setor privado dos países do G20, para criar a SB COP. O G20 representa as maiores economias mundiais, inclusive Brasil.

Mussa destaca a representatividade internacional da SB COP e cita inclusive, a participação da União das Câmaras Árabes, que representa o setor privado dos países árabes. O engajamento da entidade com a iniciativa foi intermediado pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira. “Essas associações de indústria e comércio representam milhões de empresas”, disse Mussa, explicando que isso ajudou a abrir espaço junto às Nações Unidas. No total, 40 milhões de empresas estão representadas na SB COP, de acordo com o chair.
As recomendações para a conferência oficial foram elaboradas a partir de grupos de trabalho e forças tarefas formados por CEOs de grandes empresas, consultorias, associações e confederações empresariais. Os participantes de cada país se encarregaram de defendê-las junto ao seu governo local. Elas foram entregues no mês passado para a presidência da COP30 em evento da SB COP, em Nova York.
Além das recomendações, a SB COP resolveu trazer para a sua ação maior tangibilidade. Chamou o setor privado a dividir suas práticas sustentáveis, elencando assim uma série delas para apresentar ao mundo. Entre os bons exemplos, 48 foram selecionados e serão divulgados em um estande na COP de Belém. Mussa conta que o objetivo é mostrar práticas que deram certo no setor privado, mas também a política pública existente para que elas funcionassem. “Estamos tentando provar para o setor público com cases concretos, não com uma ideia”, explicou . Já a terceira entrega do SB COP será na própria COP de Belém, quando será apresentado um documento chamado Legado para o Brasil.
Os criadores da iniciativa da SB COP pretendem que ela tenha continuidade e seja liderada sempre pelo setor privado de cada país sede da COP. Ou seja, no ano que vem esse bastão passaria para o empresariado australiano, já que a conferência se dará na Austrália. “Para mim, a maior inovação é a gente conseguir, de alguma maneira, organizar melhor o setor privado para poder falar com o setor público”, disse Mussa para a reportagem da ANBA. “Você acaba tendo um canal para falar com os governos de vários países. É como se a gente fizesse uma mini ONU do setor privado”, afirmou ele.


