São Paulo – O Brasil mudou radicalmente a sua posição no mercado internacional de gergelim nos últimos dez anos, deixando lugares pouco representativos para ser o sétimo maior produtor mundial e o segundo principal exportador. A abertura do mercado da China, no final do ano passado, deu um empurrão na inserção externa do produto, mas outras regiões do mundo, como os países árabes, também descobriram o gergelim brasileiro e se abastecem cada vez mais no País.
Dados compilados no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) mostram que o Brasil exportou de janeiro a agosto deste ano US$ 280,6 milhões em grãos de gergelim, mais que o dobro – 127% a mais – do que ano mesmo período do ano passado. O volume embarcado ao mercado internacional passou de 82 mil toneladas nos oito primeiros meses de 2024 para 239,7 mil toneladas em iguais meses de 2025, com avanço de 190%, ou seja, quase triplicou.

O pulo para esse patamar de exportação começou a ser desenhado no final da década de 2010, quando o Brasil saiu do cultivo de pequena escala, que era feito principalmente na região Nordeste, e passou para uma produção de patamar comercial no Centro-Oeste, segundo relata a engenheira agrônoma Nair Arriel, coordenadora do programa de Melhoramento Genético da Cultura do Gergelim e chefe-geral na unidade Ciência Algodão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), de Campina Grande, na Paraíba.
“Até uns 10 anos atrás, o Brasil participava com menos de 1% da área plantada, da produção, da exportação. São em torno de 74 países que cultivam o gergelim e, desses países, 95% estão na África e na Ásia. O Brasil sempre foi um pequeníssimo. Porém, de 2018 para cá começou uma nova exploração do gergelim”, afirma. Motivaram a mudança os bons preços internacionais do gergelim e características da planta, com tolerância ao estresse hídrico e à baixa umidade, ciclo curto e adaptabilidade a diferentes condições de solo e de clima.
De 2018 para cá começou uma nova exploração do gergelim
Nair Arriel, da EmbrapaPUBLICIDADE
Tudo isso foi um prato cheio para que os agricultores do Centro-Oeste escolhessem o gergelim para fazer rotação de cultura com a soja, plantando o grão na safrinha no lugar de opções como girassol ou milho. “Despertou o interesse dos produtores rurais e lá em Canarana, no Mato Grosso, onde o gergelim vinha sendo plantado, mas numa escala bem menor, e ele começou a se multiplicar”, diz Arriel.
Segundo Arriel, antes dessa mudança, o Brasil era o 50º país do mundo em área cultivada de gergelim e atualmente é o quarto nesse quesito. “Em termos de produção, estamos no sétimo lugar. Em termos de país exportador, hoje nós estamos em segundo lugar”, diz. Ela acredita que, dependendo das condições de clima, preço e opção de safra, a cultura tem expectativa de passar de 1 milhão de hectares plantados no Brasil.
De acordo com o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil semeou na safra 2024/2025 uma área de 608 mil hectares com gergelim. Houve redução de 7,9% sobre a colheita anterior, de 2023/2024, mas a produtividade avançou 20% e, com isso, a produção nacional deve crescer 10,5%, de 361,3 mil toneladas para 399,4 mil toneladas. O estado do Mato Grosso, o maior produtor do grão no Brasil, já encerrou a sua colheita de gergelim, assim como o Tocantins, segundo a Conab.
Além de grande produtor, o Mato Grosso também é o maior exportador de gergelim do Brasil. Dados do Mdic indicam que o estado respondeu por 72% das vendas externas do País janeiro a agosto. Atrás dele estão, com fatia bem menor, o Tocantins e o Pará. A maior importadora é a China, seguida por Índia, Arábia Saudita, Vietnã, Turquia, Guatemala, Jordânia, Egito, Israel, México, Argélia, Itália, Síria e Líbano. Entre os árabes, além dos já mencionados Arábia Saudita, Jordânia, Egito, Argélia, Síria e Líbano, também Omã, Emirados, Marrocos e Kuwait importaram gergelim brasileiro em quantias menores neste ano.

Sobre o fornecimento do Mato Grosso, a secretária de Desenvolvimento Econômico em exercício do estado, Linacis Silva Vogel Lisboa, conta que o governo adotou estratégia de diversificação da produção. “Não quer dizer, de modo algum, que vamos deixar aquelas culturas principais, como soja, milho, algodão, em que já temos uma produção consolidada, mas é importante ter outros produtos agropecuários a se trabalhar.”
De acordo com Linacis, a abertura do mercado da China, em novembro do ano passado, estimulou ainda mais a ampliação da produção de gergelim no Mato Grosso. As lavouras, que começaram a ser cultivadas em cidades do Leste do estado, como Canarana e outras, já se expandem a mais municípios. A exportação aumentou bem em 2025. O estado saiu de vendas externas de US$ 86,4 milhões de janeiro a agosto do ano passado para US$ 201,7 milhões no mesmo período deste ano, alta de 133%, segundo dados do Mdic.

Duas semanas antes da abertura do mercado chinês, empresários do Mato Grosso participaram da feira China International Import Expo (CIIE), em Xangai, na qual os chineses puderam provar e conhecer as características do gergelim mato-grossense. De acordo com Linacis, aí já começou o contato com compradores interessados da China. Neste ano de 2025, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico deve promover novamente a participação na CIIE de Xangai.
Linacis cita feiras em outras regiões do mundo nas quais produtos do estado, como o gergelim, estão sendo levados e confirma o interesse do Mato Grosso nos países árabes. Há possibilidade de que o grupo que participará da feira na China passe alguns dias nos Emirados Árabes Unidos na viagem. Segundo a secretária interina, neste ano, 24% das exportações de gergelim do estado foram para países árabes. “Foi significativo, é um quarto do que foi exportado”, afirma Linacis para a ANBA.

Ela lembra que o mercado árabe já tem o costume de consumir gergelim em diversas formas. Uma das principais receitas da culinária árabe, o tahine, é uma pasta de gergelim, assim como o grão também é base para o doce halawi e serve de ingrediente para biscoitos, doces e pães que estão no dia a dia dos árabes. “Vamos trabalhar essa diversificação não só na produção interna aqui no estado como também de mercados, fazendo justamente essa construção de pontes e de parcerias com novos mercados. É importantíssimo essa ampliação”, diz.
Por seu lado, a Embrapa também segue trabalhando com os produtores rurais brasileiros pela expansão do cultivo do gergelim. Um dos focos do trabalho de pesquisa é desenvolver sementes adequadas para o cultivo mecanizado do gergelim, embora também sejam geradas sementes para o cultivo manual na agricultura familiar. “O Brasil é um dos poucos países que cultivam o gergelim de forma mecanizada, do plantio à colheita”, relata a engenheira agrônoma Arriel.
O potencial produtivo das plantas também é perseguido na pesquisa da Embrapa, assim como o alto teor de óleo, o sabor adocicado e a tolerância às doenças da cultura, entre outros. Arriel relata uma série de propriedades do gergelim como o valor nutricional, a presença de vitaminas do complexo B, cálcio, vitamina E, o teor de lipídios e proteína, entre outros, que o fazem ter uma demanda global em alta. Embora também exista consumo do grão em si, o gergelim é muito usado mundo afora para a extração de óleo.
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