São Paulo – O Brasil tem o seu primeiro sistema orgânico de cultivo de manga. A pesquisa vinha sendo desenvolvida pela unidade Mandioca e Fruticultura da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) há mais de 10 anos e agora está disponível para consulta virtual de produtores. O estudo resultou em um guia que esmiúça desde a preparação do solo a manejo de pragas e irrigação para quem quer ter a lavoura orgânica da fruta.
A Embrapa já havia desenvolvido sistemas orgânicos para outros alimentos, como o abacaxi, e a manga orgânica entra para o hall que conta com mais de 50 culturas. O sistema foi desenvolvido para a Região da Chapada Diamantina, na Bahia, mas pode ser replicado em todo território nacional. “Foi desenvolvido para essa localidade, porém pode ser ajustado para outras regiões porque todos os princípios básicos do orgânico estão descritos no sistema”, relatou Ana Lúcia Borges, responsável pelo sistema orgânico de produção de manga.
A Bahia é o segundo estado brasileiro em produção de manga. Em 2019, foram colhidas 442.233 toneladas. “A Bahia tem a maior área colhida no Brasil e, hoje, cerca de 100 hectares já são produzidos em sistema orgânico, em sua maioria por agricultores familiares”, explicou Borges.
Para a doutora em Solos e Nutrição de Plantas, a iniciativa deve apoiar pequenos produtores que já produzem manga e em longo prazo elevar a disponibilidade da fruta orgânica para os mercados interno e externo. O Brasil exportou 54.352.138 quilos da fruta (incluindo as não orgânicas) no primeiro semestre de 2020, mas o volume foi 21% menor do que no mesmo período de 2019.
O sistema
Para desenvolver a pesquisa, a Embrapa fez uma parceria com a Bioenergia Orgânicos, empresa privada de capital totalmente nacional. A marca tem interesse em desenvolver o cultivo de manga orgânica para industrialização de sucos. Na área da empresa, os pesquisadores, então, selecionaram duas variedades para o cultivo: a mangá ubá, originária de Minas Gerais e própria para a produção de suco, e a manga palmer, que tem origem na Flórida, Estados Unidos, e geralmente é vendida in natura.
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Foram 20 pesquisadores envolvidos na pesquisa que teve, ainda, parceria com Embrapa Semiárido, de Petrolina, onde também há uma grande produção de mangas. Só no primeiro ano de pesquisa, foi preciso focar no solo para descobrir como atender as necessidades da cultura. “O solo da região é pobre em nutrientes. Tivemos que criar essa base. Por isso corrigimos com calcário e gesso, permitido o sistema orgânico ali. Depois, fizemos cultivo de plantas melhoradoras – duas leguminosas e gramíneas – que ajudaram a aumentar o teor de carbono do solo”, contou a doutora.
A equipe passou a estudar os genótipos das plantas mais adequadas e chegou às duas variedades citadas. “As duas responderam bem, então para escolher vai depender do objetivo de quem produz, se é para suco ou para mesa. Os problemas que tivemos foram mais com formiga cortadeira, e trabalhamos com produtos naturais (para combater)”, diz ela.
Após 10 anos de cultivo, a produtividade média da lavoura orgânica se aproximou à do sistema convencional no Brasil e chegou a ultrapassá-la no estado da Bahia. “Ficamos muito contentes com esse desempenho porque o orgânico exige atenção do produtor, é preciso acompanhar a lavoura de perto dia a dia. E há os benefícios para a saúde de quem cultiva, a maioria agricultores familiares que querem produzir alimentos que comprariam para suas famílias”, destacou Borges, lembrando que as frutas orgânicas também costumam apresentar maior tempo de prateleira do que as convencionais.