São Paulo – Um levantamento feito pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) mostra que explorar o mercado de frutas pode ser um meio de o Brasil crescer como fornecedor de alimentos na Península Arábica e Golfo Pérsico. “O mercado é comprador, nós temos frutas para vender e não somos os principais fornecedores”, afirma o coordenador de Inteligência de Mercado da Apex-Brasil, Leonardo Machado.
A pesquisa feita pela Apex-Brasil, que é análise preliminar de um estudo completo que será divulgado no ano que vem, apresenta o mercado de alimentos e bebidas da região e a posição do Brasil como vendedor destes produtos. O levantamento indicou seis alimentos que o País tem oportunidade de vender mais para os Emirados Árabes Unidos, com base na importação local, na participação brasileira nela e no crescimento das compras internacionais do país na área. Eles são ovos frescos, castanha-do-pará, limões e limas, uvas, melões e cravo-da-índia.
No caso dos limões, os Emirados importaram US$ 69,6 milhões em 2014, dos quais apenas 9,7% foi fornecimento brasileiro. O principal vendedor do produto para o país árabe foi a África do Sul, com 52,9% do mercado. Os concorrentes aumentaram suas vendas de limões para os Emirados em 29,8% entre 2010 e 2014 e o Brasil em 43,4% no mesmo período. A Apex-Brasil usou informações de 2014 porque apesar de o Brasil ter informações mais recentes sobre seu comércio exterior, os dados de outros países demoram mais a serem divulgados.
Em uvas frescas, os Emirados importam US$ 85,9 milhões ao ano, mercado com o qual o Brasil participa apenas com 3% contra 22,9% dos sul-africanos, principais abastecedores do mercado local. Mas os brasileiros aumentaram em 185,6% o seu fornecimento entre 2010 e 2014, enquanto os demais concorrentes cresceram 21,5%. Em ovos frescos, o Brasil responde por 27,7% das importações dos Emirados e a Ucrânia é o principal vendedor.
A análise apresenta informações principalmente sobre Arábia Saudita e Emirados porque os dois países foram identificados como os destinos mais importantes da região para exportações mundiais de alimentos e bebidas, assim como para as exportações do Brasil. Os Emirados responderam por 0,63% no total das exportações brasileiras em 2014, mas 1,1% do total quando considerado apenas alimentos e bebidas. Os sauditas recebem 0,56% de tudo o que o Brasil exporta, mas 1,5% levando em conta esse segmento individualmente.
Machado lembra que o Brasil já domina o mercado de alguns alimentos nos dois países árabes. Na Arábia Saudita, por exemplo, os brasileiros têm 82,1% do mercado de carne de frango in natura e 61,4% em açúcar refinado. Nos Emirados, a carne de frango in natura do Brasil tem 76,8% de market share e o açúcar refinado tem 70,3%. O Brasil quer abocanhar, agora, mercados que são dominados por outros países. “Outros fornecedores têm posição de mercado como temos em açúcar, frango”, afirmou Machado à ANBA.
No caso das frutas, já existe um trabalho de exploração do mercado pelo Brasil na região. A Apex-Brasil leva adiante, juntamente com a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), um projeto de fomento das vendas internacionais do segmento. Há outros segmentos em que há demanda crescente na Arábia Saudita e Emirados, mas dos quais o Brasil não tem excedente para exportar e teria mais dificuldade de competir no mercado local em função da localização bem mais próxima dos concorrentes.
O coordenador de Inteligência de Mercado da Apex-Brasil acredita que é mais vantajoso para a região importar alimentos do que produzir localmente. A análise divulgada cita investimentos feitos em agricultura por países da região, como a Arábia Saudita, para garantir o fornecimento de alimentos. O crescimento populacional e a crise de 2008, que causou alta nos preços das commodities, impulsionaram as medidas. Entretanto, a disposição territorial, com prevalência de desertos e montanhas, e a pouca disponibilidade de água, limitaram as ações.
“Países como a Arábia Saudita estão mudando o rumo de duas políticas e abandonando o ímpeto de autossuficiência, se dedicando alternativamente à busca de fornecedores internacionais de alimentos”, afirma o levantamento. A análise também dá destaque a outra medida tomada na Península Arábica e Golfo, que foi o investimento em infraestrutura, o que a tornou um hub para o comércio internacional na região, e diminuiu os custos de importação.


