São Paulo – O Brasil deve recorrer ao aumento na importação de combustíveis para evitar o desabastecimento nacional em novembro. Um alerta soou no mercado depois que a companhia petrolífera brasileira Petrobras informou, nesta semana, que não conseguirá atender todos os pedidos de gasolina e diesel recebidos para o próximo mês, que vieram acima da sua capacidade de suprimento em 10% e 20%, respectivamente.
Apesar de ser autossuficiente no setor de petróleo, o Brasil é exportador de óleo cru e importador de derivados como a gasolina e o diesel. Cerca de 80% do consumo interno de derivados é abastecido por refinarias domésticas, quase todas pertencentes à Petrobras, e os demais 20% são resolvidos com importação. Países árabes como Arábia Saudita, Argélia e Iraque estão entre os fornecedores de produtos petrolíferos ao Brasil.
A própria Petrobras informou nesta semana que a demanda adicional de derivados poderá ser absorvida por empresas importadoras. “Vai haver aumento na importação”, disse para a ANBA o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Pedro Rodrigues. Há resistência do mercado a essa opção, porém, já que os preços de combustíveis em outros países estão acima dos patamares praticados no Brasil pela Petrobras.
Levantamento do CBIE de 11 de outubro mostra que os preços médios do diesel nas refinarias brasileiras estavam em R$ 0,67 por litro, 17,9% abaixo do preço no Golfo do México, nos Estados Unidos. No caso da gasolina, a produção doméstica era vendida por R$ 0,68 o litro, valor 18,6% menor que o do Golfo do México. A Petrobras pratica paridade de preços oficialmente, mas tem um prazo para fazer as correções dos valores e ocorre a defasagem.
Rodrigues explica que o importador tem riscos nessa compra externa de combustíveis, caso a Petrobras comece a produzir mais nas refinarias ou ela mesma importar e vender a um preço médio mais barato do que o do importador. O diretor do CBIE percebe que existe um certo medo por parte do importador dessa ingerência nos preços e de prejuízo. Rodrigues diz que quanto mais houver defasagem de preços, menos se vai importar.
O diretor acredita que esse problema da diferença dos preços possa ser resolvido com a abertura de refino brasileiro para outras empresas, diminuindo o controle na área. É o que a Petrobras já está fazendo com a venda das suas refinarias, lembra Rodrigues. A empresa está comprometida a vender 50% da sua capacidade de refino, mas os preços praticados para os combustíveis no mercado nacional têm desmotivado compradores.
Petróleo caro
Os preços altos do petróleo e derivados têm sido um dos componentes da inflação na maioria dos países, causando preocupação para os governos mundo afora. O barril do petróleo Brent está acima dos US$ 80 atualmente contra cerca de US$ 40 no mesmo mês do ano passado. O valor é mais que o dobro de quando a pandemia de covid-19 estava no seu pico e o mundo desacelerou o consumo de petróleo, pressionando preços para baixo.
“As economias, com a vacinação avançando, começaram a voltar muito rapidamente, então o consumo de petróleo voltou a crescer, mas a oferta não conseguiu subir nessa velocidade”, explica Rodrigues. Quando o preço caiu a patamares muito baixos – em março de 2020 estava em US$ 23 o barril Brent – empresas que produziam a partir do xisto nos Estados Unidos, por exemplo, quebraram porque a cotação do produto não cobria os custos da fabricação. Ainda persiste um desarranjo entre a oferta e a demanda aquecida.
Somado a isso, o diretor do CBIE afirma que há a preocupação com a governança ambiental, social e corporativa (ESG) no mundo, o que vem fazendo diminuir o investimento do setor de combustíveis fósseis. A própria pandemia de covid-19 fez as sociedades se preocuparem mais com o meio ambiente. Ao mesmo tempo que existe essa demanda mundial, no entanto, o consumo de produtos baseados nesse tipo de energia segue crescendo.