Cairo – O chanceler brasileiro, Celso Amorim, participou ontem (02), no balneário de Sharm El Sheikh, no Egito, da Conferência de Doadores em Apoio à Economia Palestina para a Reconstrução de Gaza. Ele anunciou que o Brasil vai destinar US$ 10 milhões para ajudar na reconstrução do território.
“O presidente Lula pediu ao Congresso brasileiro que autorize esta doação como uma questão de urgência”, declarou. Além da contribuição individual, o Brasil participa de uma doação conjunta de US$ 1 milhão feita pelo grupo IBAS, que reúne Índia, Brasil e África do Sul.
O evento de ontem foi o primeiro grande encontro da comunidade internacional de apoio à normalização da situação humanitária na Faixa de Gaza após o conflito com Israel que durou 22 dias e terminou em 18 de janeiro, causando perdas avaliadas em de US$ 2,7 bilhões.
O primeiro-ministro palestino, Salam Fayad, apresentou um plano para a reconstrução e afirmou ser mais do que nunca necessário fazer com que a economia prospere em Gaza para que sua população possa viver com dignidade.
Para o secretário-geral adjunto da Liga dos Estados Árabes para assuntos da Palestina, Mohamed Sobeih, além das perdas humanas – 1,3 mil mortos e 5 mil feridos -, o conflito provocou a demolição de ao menos 4 mil casas, destruição de 20 mesquitas, 1,5 mil propriedades comerciais e 16 prédios da Autoridade Nacional Palestina (ANP).
“Neste momento estamos tentando fixar prioridades para tentar tratar da catástrofe humanitária que reina em Gaza. Além das urgências apresentadas nos setores de saúde, educação e construção, temos também que nos preocupar com as conseqüências desastrosas da utilização do fósforo sobre o meio ambiente e sobre a agricultura”, disse Sobeih, que é palestino. “Uma grande parte da população de Gaza, que depende da agricultura, não poderá cultivar suas terras, que deverão sofrer um longo e difícil processo de reabilitação antes de poder ser novamente utilizadas”, acrescentou.
Amorim, por sua vez, reafirmou a solidariedade brasileira com o povo palestino e a preocupação com a necessidade de se melhorar a qualidade de vida das pessoas comuns em Gaza. “A este respeito, acredito que a melhora do respeito, da dignidade dos palestinos, é tão importante quanto a melhora de suas condições materiais”, afirmou. “É imperativo que a resolução 1.860 [do Conselho de Segurança das Nações Unidas] seja implementada e que a ajuda humanitária e o comércio legítimo possam se dirigir livremente em direção à Gaza”, declarou.
Em seu discurso Amorim, lembrou das inúmeras vezes em que o Brasil preocupou-se com a ajuda humanitária aos palestinos. “Em minha última viagem a esta região, no mês de janeiro, acompanhei a chegada de 10 toneladas de alimentos e medicamentos enviados pelo Brasil e dedicados a aliviar a situação humanitária em Gaza”, afirmou, ressaltando que o Brasil também participou anteriormente das conferências de doadores de Estocolmo e de Paris, onde foram feitas contribuições no valor de US$ 10,5 milhões. “Lembro que a contribuição de Paris foi a mais alta que o Brasil já tinha feito até aquele momento e também a maior oferecida por um país em desenvolvimento não islâmico”, disse.
O ministro estava acompanhado de uma delegação de oito membros, dentre os quais os embaixadores Afonso de Ouro Preto (representante especial para o Oriente Médio), Cesário Melantonio Neto (embaixador no Cairo), Ligia Scherer (embaixadora em Ramallah) e Maria Laura da Rocha, chefe do gabinete ministerial.
A Conferência foi co-presidida pelo Egito e pela Noruega. O presidente Egípcio, Hosni Mubarak, fez a abertura para delegações de 75 países. Entre os presentes, além dos chefes de estado árabes, esteve o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, a secretária de Estado norte-americana, Hilary Clinton, o alto representante para a política externa da União Européia, Javier Solana, e o chanceler russo, Serguei Lavrov. O Brasil foi o único país da América Latina a enviar um representante em nível ministerial.