Cláudia Abreu
São Paulo – Um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 1,8 trilhão, a 12ª posição no ranking das maiores economias do mundo, taxa de investimento de 19,6% do PIB em 2004 e exportações de US$ 104 bilhões nos últimos doze meses. Em números, este é o Brasil que as autoridades e empresários, que vêm para a Cúpula América do Sul – Países Árabes, irão encontrar. A reunião acontece amanhã e quarta-feira (11), em Brasília. Um dos objetivos do encontro é fortalecer as relações econômicas e culturais entre árabes e sul-americanos.
No ano passado, o PIB brasileiro cresceu 5,2% em relação a 2003, a maior expansão desde 1994. O resultado fez o país pular da 15ª para a 12ª maior economia mundial. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), as alavancas do crescimento da economia em 2004 foram a indústria, o consumo das famílias e a retomada dos investimentos. Na indústria, bens de consumo duráveis (móveis e eletrodomésticos) e bens de capital (máquinas e equipamentos) lideraram a expansão.
As montadoras de automóveis, ônibus e caminhões registraram, no ano passado, um crescimento de 20,7% a mais que em 2003. Em 2004, as companhias brasileiras produziram 2,2 milhões de veículos. O setor, no entanto, tem capacidade para produzir 3 milhões. “Nem o câmbio atual, considerado desfavorável para as exportações (o dólar fechou a R$ 2,46 na última sexta-feira), está atrapalhando o desempenho das montadoras”, afirma Rogério Mori, professor de Economia da Escola de Economia de São Paulo (EESP), da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Os automóveis atendem o mercado interno e são exportados principalmente para outros países da América Latina. Países árabes estão aumentando as compras do Brasil. No ano passado, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações de automóveis para a região renderam US$ 78,1 milhões para as companhias. Em 2003, foram apenas US$ 37,3 milhões. “A exploração de novos mercados tem sido importante para o setor”, completa Mori.
Veículos para carga e ônibus também são vendidos para a região. No ano passado, as vendas somaram US$ 72,6 milhões. No total, os árabes compraram US$ 150,7 milhões em veículos do Brasil.
Agronegócio
A agricultura continua sendo o grande motor do país. Em 2004, o saldo da balança comercial do agronegócio bateu recorde, um superávit de US$ 34 bilhões. Este ano, o desempenho promete ser ainda melhor. No último mês de fevereiro, as exportações do agronegócio brasileiro totalizaram US$ 2,7 bilhões – um crescimento de 23,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. A balança comercial registrou um superávit de US$ 2,4 bilhões, já que o país importou US$ 384 milhões. A safra 2004/05 está estimada em 110 milhões de grãos.
O desempenho positivo, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) é devido, principalmente, ao crescimento das exportações de carne, açúcar e álcool, madeira, papel e celulose, café, chá, mate e especiarias e sucos de frutas, que figuram na lista dos produtos que o país mais exporta. Além deles, estão no ranking dos mais exportados soja, algodão, couro, frutas, cereais, pescado e fumo e tabaco. Os principais destinos são Europa e EUA.
Outros dois fatores positivos para o agronegócio são as vitórias do país na Organização Mundial do Comércio (OMC), que devem contribuir para um aumento das exportações de açúcar e algodão. A primeira disputa foi travada contra a União Européia (UE). Ao lado de Austrália e Tailândia, o Brasil venceu os europeus, provando que o açúcar deles era subsidiado. A vitória vem em números: as exportações de açúcar refinado deverão saltar de 3,2 milhões de toneladas ao ano para 5,2 milhões, segundo dados da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica).
No algodão, a história é parecida. A briga foi contra os norte-americanos, que concediam subsídios aos produtores. Os brasileiros perdiam cerca de US$ 480 milhões por ano com as vantagens dadas pelo governo dos EUA agricultores de lá. Agora, os brasileiros poderão abater essas perdas.
Independentemente de disputas na OMC, as exportações de carne brasileira vêm conquistando novos mercados, como o Egito, que tem sido um comprador assíduo. O Brasil tem o maior rebanho bovino comercial do mundo, com 195 milhões de animais. No ano passado, as vendas externas foram de cerca de US$ 2,6 bilhões.
Este ano, em abril, as exportações bateram um recorde. A média diária das vendas brasileiras de carnes foi de US$ 31,841 milhões. No comparativo com abril de 2004, quando a média diária atingiu US$ 21,601 milhões, houve um incremento de 47,4% na exportação.
Perdas em grãos
O setor agrícola, contudo, poderia ter ainda mais ganhos se não fossem as perdas provocadas por problemas de infra-estrutura, principalmente a má condição das estradas. Um estudo do IBGE mostrou que as perdas de grãos no Brasil chegam a 10% da colheita.
O trabalho foi feito entre 1996 e 2003 com as culturas de arroz, feijão, milho, soja e trigo. Nesse período, o país deixou de colher cerca de 28 milhões de toneladas de grãos. A maior perda aconteceu em 2000, quando 6,6 milhões de toneladas foram perdidas.
Por esses motivos, o setor de infra-estrutura tenta atrair parceiros. Este ano, o governo aprovou as Parcerias Público-Privadas (PPPs). A lei fixa normas gerais para a participação conjunta do governo e de empresas privadas nos investimentos nas áreas de infra-estrutura (telecomunicações, transportes, energia etc). O primeiro projeto deverá sair até o final deste ano e será na área de transporte.
Barreiras
Outra barreira ao desenvolvimento é alta taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) e a instabilidade da moeda americana. Este ano os números de 2004 não irão se repetir. “Acredito num crescimento na casa de 3%”, afirma Mori. A desaceleração, segundo o especialista, é em parte por causa da alta na Selic que, atualmente, é de 19,5% ao ano. “No ano passado, a taxa ficou na casa dos 16% boa parte dos meses”, diz.
A taxa tem subido todos os meses desde setembro do ano passado. O argumento do governo é que a medida ajuda a conter a inflação, cuja meta deste ano é 4,5% e, segundo analista, atualmente, está na casa dos 7%. "O governo está apertando o cerco para fechar o ano em 5,1%", afirma Mori.
O câmbio também tem contribuído para a desacelaração. O sobe-e-desce do dólar anda causando desconforto entre os exportadores. “A moeda norte-americana abaixo de R$ 2,70 pode desestabilizar a balança comercial”, já bradam alguns empresários do país. “As indústrias de bens e de capital, que foram beneficiadas em 2004, poderão sofrer perdas este ano”, afirma Mori.