São Paulo – O município de Praia, capital de Cabo Verde, está criando comunidades energéticas para aumentar a penetração da energia renovável localmente e diminuir os custos que a população tem com o consumo. Curitiba, no estado brasileiro do Paraná, desenvolve vários projetos pela neutralidade de carbono como parte da C40, rede de cidades do mundo que trabalham para enfrentar as mudanças climáticas. Em um painel nesta quarta-feira (30), no Fórum Brasil África, na capital paulista, especialistas contaram o que as cidades africanas e brasileiras estão fazendo nessa direção.
O presidente da Câmara Municipal de Praia, Francisco Carvalho, contou da experiência da sua cidade no desenvolvimento das comunidades energéticas, com a criação de soluções em energia sustentável para pequenos grupos ou bairros. Ele deu o exemplo de uma área em Praia na qual foram iluminados com energia solar uma escola, um campo poliesportivo, um campo de futebol, uma rua e um espaço comum de conjunto habitacional. “Mesmo sem ter os recursos, é possível começar, ir fazendo coisas muito concretas, sensibilizar as pessoas”, disse Carvalho ao público.
O vice-prefeito de Curitiba, Eduardo Pimentel, contou do compromisso da cidade, juntamente com outros municípios do mundo, de diminuir drasticamente até 2050 a emissão de carbono. O prédio central da prefeitura já tem 426 painéis solares, o terminal de transporte público está sendo construído com essa solução, assim como a rodoferroviária. “Com esses projetos feitos, nós vamos deixar de emitir 70 toneladas de carbono no nosso planeta”, disse Pimentel. Também antigo aterro sanitário sanitário receberá uma fazenda solar que abastecerá 60% dos prédios públicos de Curitiba.
O secretário-geral e CEO da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Tamer Mansour, relatou no painel os esforços que estão acontecendo em prol das energias renováveis também em outra ponta, entre os produtores de petróleo. Ele falou sobre a Arábia Saudita. “Eles estão utilizando o dinheiro do petróleo para reinvestir em outras áreas, em outros tipos de energia”, afirmou. Mansour deu como exemplo a construção na Arábia Saudita de duas fábricas de carros elétricos. Ele lembrou que entre os dez maiores fundos do mundo, três são árabes e investem cada vez mais em áreas sustentáveis.
Quando o painel “O Avanço das Energias Renováveis para o Futuro das Cidades” entrou no tema da escassez de água como impulsor da evasão africana a outros países, por meio de pergunta do moderador e jornalista Pablo Ribeiro, o presidente da Câmara Municipal de Praia contou o que a sua cidade está fazendo neste sentido. Em parceria com o setor privado foi criada uma plataforma pela qual a diáspora africana pode investir no município. Parte dos projetos são geradores de lucros, como qualquer investimento, e outros têm fins sociais, entre eles a geração de soluções para a escassez de água.
Logo após a explanação, outra painelista, a CEO do Grupo SouthBridge Investments, Frannie Léauthier, afirmou que essa área de projetos sustentáveis é uma oportunidade para parcerias entre o Brasil e a África. Frannie abordou as vantagens da energia renovável, principalmente para os países emergentes, permitindo a inovação, inclusive em pequenos projetos. A executiva também contou de iniciativas na África pela sustentabilidade, como o reflorestamento e as aplicações da energia renovável no Quênia.
Também falaram no painel o coordenador geral para Alianças Estratégicas do Fonplata, Henrique Pissaia. O banco de desenvolvimento é formado por Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai e apoia projetos de cidades, províncias e estados baseados nas necessidades e realidades locais, focando na integração. O ex-diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek, falou também no painel e contou do intercâmbio com os países africanos quando esteve à frente da usina. Ele se referiu ao projeto da hidrelétrica Inga, do Congo, como a de maior potencial na área no mundo. “Um dia vai sair”, disse. Como incentivo aos africanos na área, ele falou da experiência da Itaipu, que foi toda construída com financiamento e que o valor está sendo pago com a energia gerada.
Árabes na pauta mundial
Tamer Mansour, da Câmara Árabe, também fez um breve apanhados dos últimos acontecimentos no mundo árabe que estão no cerne da pauta mundial, como a Expo 2020 Dubai, que ocorreu nos Emirados Árabes Unidos entre 2021 e 2022, seguida da Conferências das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP27), no Egito neste mês, e agora a Copa do Mundo 2022 no Catar. Haverá ainda reunião sobre a questão do clima na Arábia Saudita e ano que vem, a COP28 ocorre nos Emirados Árabes Unidos.
O executivo lembrou que tudo isso veio na sequência da pandemia e que no período da covid-19, o Brasil teve um importante papel junto ao mundo e aos países árabes, garantindo a segurança alimentar. “O mundo árabe investiu muito nos últimos dois anos no Brasil, principalmente em segurança alimentar e infraestrutura”, disse. Ele falou que para que o Brasil produzisse, os países árabes também tiveram papel importante como fornecedores de fertilizantes, já que setor que viveu crise de fornecimento.
Fórum
O Fórum Brasil África é promovido pelo Instituto Brasil África (Ibraf), que tem presidência João Bosco Monte. Após duas edições online, em 2020 e 2021, o evento voltou a acontecer em formato presencial nos dias 29 e 30 de novembro, no WTC Events, em São Paulo. A Câmara de Comércio Árabe Brasileira foi uma das apoiadoras. A instituição inclusive ofereceu, no intervalo do evento, nesta quarta-feira (30), a exibição do jogo entre Tunísia e França na Copa do Mundo, no qual os tunisianos venceram.