Riad – O presidente Jair Bolsonaro passou esta segunda-feira (28) em Doha, no Catar, segunda parte de sua primeira viagem ao mundo árabe, que começou nos Emirados Árabes Unidos e termina na Arábia Saudita. Entre os documentos assinados durante a visita, há um acordo de isenção mútua de vistos de entrada para turistas, passageiros em trânsito e em viagens de negócios.
O Catar já não exige visto de brasileiro desde agosto de 2017, mas com o acordo a isenção se torna recíproca. Entre as nações do Golfo, o Brasil só tem um convênio do gênero em vigor com os Emirados.
Foram assinados também acordos sobre serviços aéreos – os dois países já têm voos diretos operados pela Qatar Airways –; e memorandos de entendimento de cooperação na área de saúde, sobre cooperação em grandes eventos – o Brasil sediou a Copa do Mundo de 2014 e o Qatar vai receber a de 2022 –, de cooperação entre as academias diplomáticas e de cooperação em assuntos relativos à defesa.
O último documento trata de intercâmbio em pesquisa e desenvolvimento, apoio logístico, medicina militar e fornecimento de produtos e serviços de defesa, entre outros temas ligados ao setor.
Sobre as reuniões que teve com autoridades do Catar, Bolsonaro disse que, como nos países que visitou anteriormente – antes de ir aos Emirados e Catar ele esteve no Japão e na China –, há interesse em ampliar e diversificar os negócios.
“Há uma coisa já em andamento com o KC-390 (avião militar de transporte da Embraer), faz sucesso muito no mundo todo. A defesa novamente volta [a ser tema], houve uma repetição e ampliação das questões tratadas até o momento [na viagem]”, disse o presidente.
Segurança alimentar
Outro destaque das conversas, segundo ele, foi a segurança alimentar e a atração de investimentos para o setor no Brasil. “Os países da região, até mesmo a China e o Japão, aqui e, com toda certeza, amanhã (29) na Arábia Saudita, a segurança alimentar é o ponto que mais interessa a todos nós, e o Brasil tem como garantir essa segurança alimentar para muitos países do mundo”, declarou.
À noite, já em Riad, a capital saudita, ele voltou ao assunto. “O Brasil é um país importante para o mundo. Muitos por aqui veem a questão da segurança alimentar. Isso nós temos. Temos que expandir nosso agronegócio – usamos pouco mais de 8% de nosso território para a agricultura. O Brasil é líder mundial nisso e vamos potencializar esse negócio”, destacou.
Bolsonaro disse que vai conversar com as autoridades sauditas sobre a retomada das exportações de frango de fábricas brasileiras que foram suspensas pelo país árabe em janeiro. A Arábia Saudita é um dos maiores mercados do frango do Brasil. “A mensagem que eu vou levar é pedir que levem em consideração a possibilidade de ampliar as importações, ou reabri-las”, ressaltou.
Ele avalia que há possibilidade de o Brasil e os sauditas assinarem mais acordos na área agrícola. “Sim, há mais expectativa. A [ministra da Agricultura] Tereza Cristina tem feito um trabalho excepcional, é uma gigante nesta área. O mundo cresce quase 70 milhões de habitantes ao ano, então tem mercado para a questão alimentar”, afirmou.
Bolsonaro acredita também na possibilidade de atração de investimentos para o setor de infraestrutura no Brasil. “Todos os países estão interessados em investir em infraestrutura”, disse. “Estamos aqui para fazer negócios, a preocupação nossa é [com a] economia, esse é o nosso foco principal”, acrescentou.
O presidente espera também participação de investidores árabes no próximo leilão do pré-sal, que vai ocorrer em 06 de novembro. “Eles devem comparecer a este mega leilão. A China deve se fazer presente também, acho que o mundo todo vai estar interessado nesta questão”, declarou.
Em Doha, além de se reunir com o emir do Catar, Tamin Bin Hamad Al Thani, e seu gabinete, Bolsonaro participou de uma mesa redonda sobre “Perspectivas do Cenário Macroeconômico e do Ambiente de Negócios no Brasil” e visitou o estádio de futebol Al Janoub. Na foto de abertura da matéria, o emir do Catar recebendo camiseta do Flamengo de presente de Bolsonaro.
Futebol
Antes de sediar a Copa do Mundo, o Catar vai receber em dezembro deste ano o Mundial de Clubes da Federação Internacional de Futebol (Fifa). “Fantástica a arquitetura, os detalhes que foram preparados aqui, o alojamento, o local do aquecimento, o estádio como um todo, o conforto”, disse, durante a visita ao campo. “Eu vim aqui também para conhecer o local da grande final entre Flamengo e Liverpool. Eu não estarei aqui, é muito difícil, mas estarei torcendo”, afirmou ele, apostando numa final entre o time brasileiro e a equipe inglesa.
Seguindo no tema futebol, ele disse que gostaria de ver o Brasil na final da Copa de 2022. “Seria muito bom, né. Acho que está no momento de o Brasil voltar a ocupar o local de destaque no cenário futebolístico que sempre teve. A gente acredita nisso, acredita que as derrotas que tivemos no passado servirão de base para melhor nos prepararmos e fazer evoluir o nosso futebol também”, declarou.
Antes de deixar Abu Dhabi, nos Emirados, na manhã desta segunda, Bolsonaro deu uma entrevista para a Emirates News Agency (WAM) e disse que “o Brasil é um país árabe”, dado o grande número de brasileiros de origem árabe. Na visita ao estádio em Doha, ele voltou ao tema.
“É uma maneira de mostrar para o mundo árabe – diferente do que foi pregado durante minha pré-campanha e campanha [eleitoral em 2018] – que eu não tenho inimizades, né. Diziam que eu sou muito chegado a judeus. Sou sim, mas também aos árabes” destacou. “O futebol une povos, raças, religiões, todos. Esse é o objetivo de eu estar usando a camisa do Catar, e obviamente sabemos que o Catar está evoluindo muito – talvez não seja o momento ainda de falar de uma final [da Copa] com o Catar –, mas [o país] terá seu espaço de destaque no futuro, da maneira como eles se comportam aqui, com muito profissionalismo, no futebol”, concluiu.