Cairo – Ativar a agenda de cooperação na área social entre o Brasil e o Egito e garantir a continuidade dos trabalhos são os principais objetivos da visita da delegação brasileira do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS) que participou ontem (10) de encontros com representantes do ministério egípcio da Solidariedade Social, no Cairo.
Durante visita ao Brasil do ministro egípcio da Solidariedade Social, Ali El-Sayed Al-Moselhy, em 2007, foi assinado um acordo de cooperação entre os dois países na área social. “Esse acordo prevê um grande espaço para a cooperação com o Egito e também no âmbito da Aspa (Cúpula América do Sul-Países Árabes), mas para que esta atividade seja incrementada, é necessário que ocorram inúmeros encontros entre especialistas desta área, onde possam ocorrer trocas de idéias que sejam úteis a ambas as partes”, afirmou Carla Chelotti, diplomata responsável pela pasta social na embaixada do Brasil no Cairo.
O ministério egípcio da Solidariedade tem buscado, nos últimos anos, modelos que possam adequar-se à realidade egípcia para o tratamento da erradicação da pobreza. Um fenômeno que tem preocupado cada vez mais os responsáveis egípcios. “A experiência brasileira é certamente bem sucedida”, afirmou Luziele Tapajós, assessora da Secretaria Nacional de Assistência Social. “Prestamos serviços nas áreas de políticas públicas e do direito social reclamado a quase 60 milhões de pessoas. Partimos em 2003 de um orçamento de R$ 4 bilhões e contamos hoje com uma soma de R$ 34 bilhões dedicados aos programas sociais brasileiros”, acrescentou.
Para o diretor de gestão da informação e recursos tecnológicos do MDS, Roberto Rodrigues, é necessário que esta questão seja abordada de maneira prática e que se identifiquem as áreas da experiência brasileira que possam ser mais úteis na realidade do Egito. “Por isso estamos representando três áreas diferentes do ministério: a responsável pela assistência social, pela de transferência de renda e pelo monitoramento e avaliação”, disse. Esses três temas foram previamente escolhidos pela parte egípcia como sendo os de maior interesse do país.
Durante o primeiro encontro, os membros da delegação do MDS deram detalhes aos representantes egípcios sobre como funcionam os mecanismos de implementação dos programas sociais brasileiros. “Senti certamente que, durante nossa conversa de hoje, algumas áreas de interesse mais específico foram pouco a pouco emergindo nas discussões”, afirmou Rodrigues. “É verdade que estamos apresentando a experiência brasileira, mas estamos também aproveitando para conhecer melhor a realidade egípcia”, acrescentou.
Bolsa Família
Segundo o coordenador geral de benefícios do Bolsa Família, programa de transferência de renda do governo brasileiro, Anderson Brandão, os egípcios demonstraram sobretudo um grande interesse pela estrutura do funcionamento do programa.
“Dissemos a eles que uma característica importante do Bolsa Família é o fato de que não há nenhum intermediário para o saque do benefício concedido. Uma vez que as famílias entram no programa, elas podem comparecer a uma agencia bancária e receber lá o seu dinheiro”, declarou. Isto, segundo ele, impede fenômenos como o clientelismo e garante uma independência das famílias. “Os beneficiados passam então a compreender que este é um direito e não um favor que estão recebendo”, ressaltou.
Os responsáveis egípcios também demonstraram grande interesse pelos efeitos de dinamização das economias locais em regiões afastadas produzidos pelo Bolsa Família. “Temos no Brasil regiões em que não há circulação de mercadorias porque as pessoas não têm dinheiro, e a economia não funciona porque as pessoas não têm renda. Isso ocorre aparentemente também no Egito. Mas quando há uma transferência de renda às pessoas carentes, cria-se um mercado e o resultado imediato disso é a dinamização da economia local”, afirmou Brandão. “Essas atividades econômicas produzem um movimento e acabam resultando na melhora das condições de vida e, conseqüentemente, o desenvolvimento do local”, disse.
O fato de que, no Brasil, o beneficiário do Bolsa Família é sempre a mulher, talvez deva sofrer adaptações para a realidade cultural egípcia e árabe. “No Brasil, normalmente, quem recebe os benefícios do Bolsa Família é a mulher ou a mãe de família. É ela que recebe o cartão magnético, que pode sacar a ajuda. Fizemos isso porque notamos que a responsabilidade que a mulher detém dentro da família, de cuidar da criança e da alimentação, tem muito mais conexão com os objetivos do programa, de prover alimentação e educação. Portanto, utilizar a mulher como esse elo, no nosso caso, faz com que a política de transferência de renda tenha melhor resultados”, declarou Brandão. Segundo ele, essa diferença cultural não fez com que entusiasmo dos egípcios pelo projeto diminuísse.