São Paulo – Brasil e Marrocos devem assinar até o fim do ano o Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos (ACFI), que deverá trazer mais segurança para investidores e favorecer a ampliação de fluxo de investimento entre os dois países. A afirmação foi feita pelo recém-empossado embaixador do Marrocos em Brasília, Nabil Adghoghi, em entrevista à ANBA durante visita a São Paulo, na quinta-feira (16).
A assinatura desse acordo é um importante passo para o fortalecimento do comércio entre Brasil e Marrocos, que neste ano completam 111 anos de relações diplomáticas. Resta ainda avançar na discussão sobre um acordo comercial, que segue travada.
“O Marrocos tem ambição de se abrir ao mundo. Temos acordos comerciais com União Europeia, Estados Unidos, Turquia, países africanos e estreitamos as relações com Rússia, China e Índia. Temos o compromisso de retomar as negociações para um acordo entre o Marrocos e o Mercosul”, afirmou Adghoghi.
O embaixador pondera a existência de alguns produtos sensíveis, mas ressalta que existem mecanismos para minimizar os efeitos, com abertura gradual de alguns setores. O importante, de acordo com ele, é que existe muito espaço para ampliar o comércio em ambos os sentidos.
Adghoghi destaca produtos marroquinos como autopeças, pescados, azeite e cosméticos com grande oportunidade de ampliar a penetração no mercado brasileiro. Atualmente, adubo e fertilizantes dominam o fluxo comercial do país africano para cá.
“Com a ajuda da Câmara de Comércio Árabe Brasileira eu vou incentivar exportadores marroquinos a participar da Apas [feira que reúne a cadeia supermercadista brasileira em maio, em São Paulo]”, afirmou o diplomata. No outro sentido, a Câmara vai colaborar com a Apex-Brasil para levar empresas brasileiras à Siam, feira do setor agrícola que ocorre no Marrocos.
Segundo o embaixador, a ideia é mostrar o potencial do setor de maquinário agrícola do Brasil, no qual o País é muito forte. “O Marrocos possui uma política agrícola ambiciosa e os brasileiros podem ajudar com o seu know-how”, explica.
Adghoghi citou também o setor de energias renováveis e farmacêutico como relevantes para ampliar as exportações brasileiras para o país africano, hoje majoritariamente formada por açúcar.
Turismo
Em torno de 30 a 35 mil brasileiros viajam por ano para o Marrocos, que recebe anualmente em torno de 12 milhões de turistas. Segundo o embaixador, esse é outro segmento em que as relações podem crescer – ele lembra que existem voos diretos do Brasil para Casablanca, operados pela Royal Air Maroc.
“Precisamos promover mais o Marrocos no Brasil. Daqui a duas semanas uma escola de samba vai homenagear o país durante o carnaval, é uma janela importante que devemos aproveitar”, disse, referindo-se à Mocidade Independente de Padre Miguel, cujo tema do desfile no carnaval do Rio de Janeiro será o Marrocos. “E vice-versa. A Embratur já promove o Brasil entre os marroquinos, mas há espaço para ampliar dos dois lados”.
O tema foi um dos pontos de destaque na conversa de Adghoghi com o vice-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), com quem reuniu-se na sexta-feira (17). Segundo o embaixador, o político ficou entusiasmado com o tema.
Além do vice-governador, Adghoghi visitou o vice-prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), com quem falou sobre as oportunidades de investimento em ambos os lados. O vice-prefeito destacou que mais da metade das exportações do Brasil para o Marrocos partem da capital paulista.
O embaixador ainda cumpriu agenda na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) com Thomaz Zanotto, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior; foi recebido na Folha de São Paulo pelo secretário de redação, Igor Gielow, e pelo editor de Mundo, Juliano Machado; esteve na Câmara Árabe; e visitou a praça Mohamed V, em frente à Catedral Metropolitana Ortodoxa, na capital paulista. Lá está um monumento que foi doado pelo país africano à cidade. A agenda do diplomata foi acompanhada pelo presidente da Câmara Árabe e pelo diretor-geral da entidade, Michel Alaby.
Para Rubens Hannun, presidente da Câmara Árabe, a visita do diplomata à capital paulista foi muito positiva. "Não foi apenas para se apresentar, o embaixador mostrou ações que está engrenando com a Câmara e com os demais interlocutores", afirmou. "Com essas visitas estamos criando uma base de relacionamento e nos preparando para as ações que estão sendo planejadas pela Câmara".
Nabil Adghoghi apresentou suas credenciais ao presidente do Brasil, Michel Temer, em 19 de janeiro deste ano. Nascido em Casablanca, formou-se em Administração Pública na Escola de Administração (ENA) de Rabat, no Marrocos, e na ENA de Paris, na França. Começou a carreira diplomática em 1987 e trabalhou como primeiro-secretário da Embaixada de Paris e depois em Brasília. Foi também ministro conselheiro da embaixada da União Europeia em Bruxelas, na Bélgica, e passou por diversos cargos no Ministério de Relações Exteriores em Rabat, até chegar à diretoria-geral.