Marina Sarruf
São Paulo – A castanha-do-pará, também conhecida como castanha-do-brasil, é o fruto de uma das árvores mais altas e importantes da Floresta Amazônica. O Brasil produz aproximadamente 40 mil toneladas por ano de castanha, das quais mais de 90% são vendidas para o exterior, e ocupa o segundo lugar no ranking mundial de exportações. Além de possuir alto valor alimentício, o fruto tem seu óleo extraído para para a fabricação de cosméticos e remédios.
De acordo com Gerliano Nunes, gerente do setor de castanha da Secretaria de Extrativismo e Produção Familiar (Seprof) do estado do Acre, a cadeia produtiva da castanha-do-pará, além de ser uma das mais importantes da economia extrativista da Amazônia, ainda contribui para a preservação da floresta. Isso porque as castanheiras só existem na região – o maior exportador do mundo é a Bolívia, também na região amazônica – e da atividade dependem várias famílias.
A exploração das castanheiras, que podem atingir até 50 metros de altura e quatro metros de diâmetro, tem um papel fundamental na organização socioeconômica de grandes áreas extrativistas da floresta. Atualmente existem quatro cooperativas no Acre que são responsáveis pela coleta das castanhas, das quais fazem parte cerca de 4 mil famílias.
As duas maiores cooperativas são a Cooperativa Agroextrativista de Xapuri (CAEX), com 400 associados, e a Cooperativa Mista de Produção Agropecuária e Extrativista de Brasiléia (Compaeb), com 730 sócios.
Os principais estados produtores da castanha-do-pará são Acre, Amazonas, Amapá, Rondônia e Pará.
Ouriços
O fruto da castanheira é chamado de ouriço, possui uma casca esférica bem dura e pode chegar a pesar até dois quilos. Quando os ouriços amadurecem, eles despencam das árvores e são colhidos pelos seringueiros, que podem encontrar de 10 a 25 sementes (castanhas) em cada fruto.
A castanha é muito rica em gorduras e proteínas, é considerada como uma carne vegetal, pois contém todos os aminoácidos que o ser humano precisa no organismo e tem de 12% a 17% de proteínas, 69% de gorduras, sais minerais, além de vitaminas. "Possui alto valor nutritivo e energético. Na sua composição foi detectado o selênio, um sal mineral de ação preventiva ao câncer", disse Nunes.
De acordo com Joana Maria Leite de Souza, pesquisadora da área de tecnologia de alimentos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária no Acre (Embrapa-Acre), "a presença do selênio atua nos radicais livres, é bom para a prevenção do envelhecimento precoce, além do câncer". Joana informou também que a Universidade de São Paulo (USP) está realizando pesquisas para utilizar os componentes presentes na castanha no desenvolvimento de antibióticos.
A principal utilização da castanha está na alimentação, pois além de ser uma amêndoa comestível, com ela é possível fazer farinha, uma espécie de leite, sorvetes, doces e salgados. O ouriço da castanha-do-pará também é utilizado para a produção de peças de enfeite, como pulseiras, anéis, colares e castiçais.
Óleo
A partir de uma prensagem mecânica da amêndoa da castanha, realizada no estado do Amapá, se extrai um óleo de boa qualidade utilizado como matéria-prima na fabricação de produtos farmacêuticos, cosméticos, cremes, xampus, sabonetes e que também pode ser substituto do azeite de oliva.
A Embrapa está desenvolvendo projetos para aumentar o consumo interno de castanhas e os subprodutos derivados do fruto, como o óleo, que pode ser usado para frituras de alimentos. O país ainda não exporta o óleo, pois, segundo Joana, estraga muito rápido na presença de luz. Portanto, antes de começar a comercializar, é preciso desenvolver embalagens específicas, que sejam opacas para impedir que o conteúdo se deteriore.
Exportação
O mercado interno consome apenas 8% de toda a produção de castanha-do-pará, o restante é exportado. "A demanda no mercado interno ainda é pequena, estamos trabalhando para aumentar o consumo a médio e a longo prazo", disse Nunes. Ele explicou ainda que um dos fatores que contribuem para o baixo consumo da castanha sem casca, que é a mais consumida e vendida nos supermercados, é que é um produto caro e considerado de elite.
A castanha-do-pará com casca e desidratada, chamada de castanha dry, é a mais vendida para a Europa, Estados Unidos, Japão, Argentina, México e países árabes, como Arábia Saudita e Tunísia. "Ela é muito consumida nas festas de fim de ano", afirmou Joana.
No ano de 2003, o Brasil exportou o equivalente a US$ 10,86 milhões em castanhas com casca e sem casca, o que representa 6,9 mil toneladas. De janeiro a junho deste ano, já foram vendidas 7,8 mil toneladas, o que corresponde a US$ 6,6 milhões, sendo que no mesmo período do ano passado foram exportadas 3,75 mil toneladas, o equivalente a US$ 5,3 milhões.
Se o volume das exportações duplicou, a receita só aumentou em 24% devido à queda do preço da castanha e à competição entre Brasil e Bolívia, a maior exportadora do produto.
"A tendência é aumentarem as exportações da castanha com as novas usinas de descascamento no Acre", completou Nunes.
Floresta Amazônica
Conhecida como a maior floresta úmida do mundo, com aproximadamente 5,5 milhões de quilômetros quadrados – sendo que 60% fazem parte do território brasileiro e o restante se distribui pela Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela -, a Floresta Amazônica brasileira ocupa cerca de 42% do território nacional, abrangendo oito estados, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, oeste do Maranhão, Rondônia, Roraima e Tocantins.
A biodiversidade da floresta é enorme, só de espécies de árvores brasileiras já foram registradas 2,5 mil. Além da castanha-do-pará, existem diversos produtos tipicamente brasileiros, como guaraná, açaí, cupuaçu, bacuri e jenipapo.

