Alexandre Rocha
São Paulo – O Brasil fez em setembro sua primeira remessa de carne bovina para a Argélia. O volume exportado aproximou-se de 400 toneladas e foi um dos resultados de uma missão oficial brasileira ao país do Norte da África realizada no início do mesmo mês. Na ocasião, foi posto o ponto final em um acordo sanitário que permite a comercialização de carne bovina entre os dois países.
Apesar da quantidade ainda pequena, dentro de um setor que pretende exportar 1,2 milhão de toneladas este ano, a expectativa é de que o volume de vendas para a Argélia aumente exponencialmente nos próximos meses, chegando a três mil toneladas por mês.
O diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústria Exportadoras de Carnes (Abiec), Antonio Jorge Camardelli, que participou da viagem, acredita que no futuro as exportações para a Argélia podem ficar entre 80 mil a 100 mil toneladas por ano.
"O saldo da visita (à Argélia) foi de 100%, ela foi plena de sucesso", disse Camardelli.
Espaço
Mas Camardelli está otimista porque, segundo ele, há um espaço vago no mercado argelino, deixado por países como a Argentina e o Paraguai, por causa de problemas sanitários. Por outro lado, um tradicional fornecedor daquele país, o Uruguai, agora volta seus olhos para o mercado norte-americano.
"Estes fatores levaram a Argélia a não ter muitas alternativas", afirmou. "Basta ao Brasil entrar neste mercado e mostrar seu produto e, se as coisas ocorrerem como em outros lugares, ele vai se consolidar", declarou. Um dos grandes atrativos da carne brasileira, de acordo com Camardelli, é o seu preço competitivo.
Apesar das exportações para a Argélia estarem apenas no começo, o Brasil já vende carne para outros países árabes. De janeiro a agosto deste ano, exportou para a Arábia Saudita (26,6 mil toneladas, US$ 34,1 milhões), Bahrein (454 toneladas, US$ 777,5 mil), Catar (556,6 toneladas, US$ 930,4 mil), Ilhas Comores (291,8 toneladas, US$ 237,8 mil), Egito (51,3 mil toneladas, US$ 58,4 milhões), Emirados Árabes Unidos (3,9 mil toneladas, US$ 6,3 milhões), Jordânia (1,6 mil toneladas, US$ 2,3 milhões), Líbano (6,8 mil toneladas, US$ 12,5 milhões), Mauritânia (30,3 toneladas, US$ 42 mil) e Omã (126,2 toneladas, US$ 192,8 mil).
Camardelli acredita que não só a Argélia, mas todos os países árabes são excelentes mercados e com grande potencial de exploração. Para ampliá-lo, acredita, é preciso empenho do poder público e da iniciativa privada para romper barreiras técnicas e sanitárias.
Certificação
Com este histórico, a indústria brasileira já tem know how e estrutura para produzir a mercadoria segundo as preferências do mercado árabe. Um dos requisitos é o abate halal, feito de acordo com as exigências islâmicas.
"Nossas plantas estão qualificadas para atender aos requisitos sanitários e religiosos. A Federação Islâmica atende à nossa indústria e certifica nossos produtos", declarou Camardelli. Além disso, ele disse que os árabes têm preferência por cortes da parte dianteira do boi e a carnes sem gordura.
Hoje o Brasil tem o maior rebanho bovino do mundo, com cerca de 180 milhões de cabeças. Um número que supera o da população brasileira, hoje estimada em 177,4 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).
É também o maior produtor mundial de carne. Segundo Camardelli, a previsão para este ano é de que sejam exportadas 1,2 milhão de toneladas de carne, equivalentes a US$ 1,5 bilhão, o que coloca o país em segundo lugar entre os maiores exportadores, logo depois da Austrália e acima dos Estados Unidos.