São Paulo – O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sistemas Embarcados Críticos (INCT-SEC), o Exército e empresas do setor de defesa trabalham no desenvolvimento de um veículo aéreo não tripulado (Vant) para vigiar as fronteiras brasileiras. O projeto será realizado graças a uma parceria assinada em dezembro pelo INCT-SEC e o Exército, com financiamento de empresas parceiras. Além de aprimorar um avião modelo Tiriba doado pela empresa AGX Tecnologia para as necessidades do Exército, a parceria poderá resultar em lucros em vendas no futuro. Atualmente, este avião é empregado na agricultura.
De acordo com o projeto, os pesquisadores do INCT-SEC, que fica no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP de São Carlos, e profissionais do Exército irão trabalhar em conjunto a partir deste ano para desenvolver novos Vant a partir das necessidades do Exército observadas no uso do Tiriba.
Este avião é lançado à mão e é capaz de fazer fotos e vídeos durante o sobrevoo. O aparelho é elétrico, tem autonomia de aproximadamente 50 minutos em um voo com velocidades entre 100 e 120 km/h e a uma altitude que varia de 150 a 400 metros. O pouso é realizado com um para quedas em um local preestabelecido pelos controladores.
O objetivo da parceria é aperfeiçoar este modelo e tornar as próximas versões do Tiriba capazes de voar por mais tempo, fazer mais fotos e filmes. A aeronave custa, em média, R$ 78 mil.
De acordo com a pesquisadora e diretora administrativa e operacional do INCT-SEC, Kalinka Castelo Branco, ainda neste ano uma aeronave aperfeiçoada deverá ser projetada. “O convênio prevê interação com o Exército, formação de Recursos Humanos (de profissionais especializados neste equipamento). Não há ainda um orçamento previsto. Deveremos fazer um planejamento e apresentar depois, para que cada parte veja como será financiado”, diz.
Kalinka afirma que desenvolver novos Vants é uma forma de atender a demanda do País por aviões não tripulados e, assim, evita a importação desses equipamentos. Enquanto isso, outras instituições compram aviões sem piloto do exterior. É o caso da Polícia Federal, que utiliza atualmente dois aviões não tripulados utilizados para monitorar o tráfico de drogas. Essas aeronaves são maiores e têm autonomia maior do que o Tiriba.
Não são apenas as Forças Armadas e os pesquisadores que podem ganhar com esta parceria. Empresas como a Aeroalcol, Orbisat-Embraer e a AGX Tecnologia, todas do setor de defesa, são parceiras do INCT-SEC. A AGX Tecnologia doou o modelo Tiriba para o Exército “militarizar” o equipamento junto com o INCT-SEC, de acordo com o diretor administrativo da AGX Tecnologia, Odair Ribeiro Mendonça Júnior. O equipamento foi criado no final de 2010 e já é utilizado na agricultura. Mendonça conta que o aparelho foi desenvolvido a partir de um aeromodelo e de um piloto automático baseado no sistema empregado em máquinas agrícolas. O uso deste equipamento aumenta a eficiência na lavoura.
O Tiriba pode ser utilizado em grandes extensões de terra para o monitoramento de plantações, para a procura por plantas daninhas e até para a contagem de cabeças de gado, como já acontece no Pantanal. “Ele já chegou a percorrer 200 hectares de uma plantação em 20 minutos. É capaz de percorrer até 2.500 hectares em um dia e fazer um trabalho que uma pessoa poderia demorar mais de um mês para executar”, diz o executivo. Ele afirma que o modelo poderá ser empregado por governos estaduais para monitorar e cumprir o novo Código Florestal do Brasil.
Segundo Mendonça, o Tiriba já foi vendido para, pelo menos, dez empresas brasileiras e foi exportado para o Paraguai. Outros países têm interesse no equipamento. O produto poderia ser utilizado por nações como a Austrália, pois, segundo Mendonça, o país tem um grande rebanho bovino e algumas características semelhantes ao Brasil.