Alexandre Rocha
São Paulo – O Brasil exportou em novembro 128.045 toneladas de carne bovina (em equivalente carcaça), entre carnes ‘in natura’ e industrializadas, o que equivale a US$ 161,2 milhões. Houve um aumento de 64,14% em termos de valores e de 26,08% na quantidade embarcada em comparação a novembro de 2002, segundo balanço divulgado ontem (04) pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). Pelo terceiro mês consecutivo o país ocupa a posição de maior exportador mundial de carne.
Apesar do crescimento em relação ao mesmo mês do ano passado, houve queda nas exportações na comparação com outubro, quando a receita gerada foi de US$ 177,45 milhões. No entanto, no acumulado do ano (janeiro a novembro) o Brasil já exportou 1,238 milhão de toneladas no valor de US$ 1,355 bilhão, um crescimento de 34,77% no tocante às quantidades e de 39,03% nas receitas em relação ao mesmo período de 2002.
A avaliação do setor é de que até o final do ano serão exportadas entre 1,3 e 1,35 milhão de toneladas, equivalentes a US$ 1,5 bilhão.
“Essa extraordinária performance da bovinocultura brasileira ocorre apesar de termos acesso a apenas 50% do mercado mundial”, afirmou o presidente da Abiec, Marcus Vinícius Pratini de Moraes.
De acordo com ele, os principais motivos para o crescimento foram o aumento dos preços internacionais do produto, a abertura de novos mercados, como o da Argélia, por exemplo, e o reconhecimento da “competitividade e qualidade” da carne brasileira.
Neste último ponto, Pratini disse que o a implantação pelo governo do Sisbov, sistema de rastreamento de origem que permite que mesmo após o abate seja verificado todo o histórico do bovino desde o nascimento, ajuda na melhoria da imagem, no “marketing”, do produto brasileiro lá fora. Neste mesmo sentido, a consolidação de marcas que utilizam o Sisbov ajuda também no aumento do preço da carne nacional.
Segundo informações do Ministério da Agricultura, desde março de 2002 até hoje 10.748.030 cabeças de bovinos e búfalos foram incluídas no sistema. O Brasil tem hoje mais de 170 milhões de cabeças de gado, segundo informações a Abiec. Pratini acredita que com o empenho do governo e da iniciativa privada até 2007 todo o rebanho deverá estar coberto pelo Sisbov.
Com relação aos mercados, Pratini disse que a União Européia ainda é a principal importadora, “mas cada vez mais estamos ampliando para outros”. Entre estes, ele citou a Rússia que ficou em segundo lugar no ranking de novembro dos compradores de carne ‘in natura’ (21.178 toneladas equivalentes a US$ 20,329 milhões) e em terceiro no acumulado do ano (118.176 toneladas e US$ 95 milhões) e a China. Só Hong Kong ficou em 10.º lugar no ranking de novembro e em 11.º no acumulado do ano.
Árabes
Pratini ainda destacou a importância dos países árabes. A Arábia Saudita ficou em 5.º lugar na lista de importadores de carne ‘in natura’ em novembro (6.513 toneladas e US$ 7,614 milhões) e em 7.º no período de janeiro a novembro (59.297 toneladas e US$ 56,976 milhões).
Já o Egito ficou em 9.º em novembro (5 mil toneladas e US$ 4,636 milhões) e em 5.º no acumulado de 2003 (100 mil toneladas e US$ 80,816 milhões). Na relação dos 15 maiores importadores do produto ‘in natura’ em novembro ainda aparecem a Argélia, um mercado aberto recentemente e cujas primeiras remessas foram feitas em outubro, e os Emirados Árabes Unidos.
Com relação à carne industrializada entre os 15 maiores importadores em novembro aparecem, além dos Emirados, a Jordânia e Omã. No acumulado do ano, figuram entre os principais compradores os Emirados e a Jordânia.
Tanto o mercado árabe é importante para o setor da carne que a Abiec enviou seu diretor-executivo, Antonio Jorge Camardelli, para acompanhar a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à região. A entidade também vai participar com um estande da Semana do Brasil em Dubai (Brazilian Week & Trade Exhibition) que será realizada entre os dias 7 e 9 nos Emirados.
“O mercado do Oriente Médio é um dos melhores”, afirmou Pratini. Segundo ele, a visita do presidente, acompanhado de ministros e empresários, é uma excelente oportunidade de aproximar ainda mais o Brasil de seus clientes internacionais.
2004
Para 2004, a expectativa do setor, de acordo com Pratini, é de que as exportações continuem a aumentar, porém, num ritmo mais lento do que o apresentado este ano. “Deve haver uma desaceleração no crescimento, mas não uma diminuição nas vendas”, afirmou ele.
Um dos motivos é a provável diminuição das exportações para a Rússia, que estabeleceu um sistema de cotas de importação de carne bovina, como fez também em relação ao frango e à carne de porco. No entanto, existe a possibilidade de o Brasil conseguir participar de leilões de cotas na Rússia, já que outros países exportadores podem não conseguir atingir suas respectivas cotas.
Para garantir o crescimento, a indústria da carne vai investir na ampliação da venda de produtos de maior valor agregado, como carnes desossadas, resfriadas, em cortes a já embaladas prontas para a prateleira dos supermercados, “principalmente para a Europa e o Oriente”. Nesse sentido, a idéia é aumentar o preço dos produtos vendidos e não as quantidades.
“Não adianta ser líder no volume de exportações e não no preço”, afirmou Pratini. Em sua opinião, de quem já foi ministro da Agricultura, o Brasil tem que “sair fora” da exportação de commodities e centrar fogo na venda de produtos mais industrializados.
Outra esperança do setor é a abertura de mercados para a carne brasileira ‘in natura’, como os dos Estados Unidos, Japão, Coréia do Sul e “outros países do sudeste asiático”. Isso porque, até o momento, esses países impõem barreiras sanitárias aos produtos do Brasil.
Pratini acredita que até o início de 2005 deverá haver um acordo para liberar a exportação de carne “fresca” para os EUA. Pratini lembrou da existência de um componente político, já que alguns países que impedem a entrada da mercadoria brasileira são também concorrentes do Brasil no mercado internacional.
Além disso, o segmento pretende continuar a prospectar mercados não tradicionais. Segundo Pratini, hoje o Brasil exporta para 104 países, quando em 1999 vendia apenas para 40. Mesmo atuando somente em 50% do mercado internacional do produto (os outros 50% são representados pelos países que impõem barreiras) o Brasil domina 18% das exportações mundiais de carne bovina.

