Alexandre Rocha
São Paulo – O governo brasileiro montou quatro grupos de trabalho para traçar estratégias para a exploração do vácuo deixado pela carne bovina norte-americana no mercado internacional. Após a ocorrência de um caso do mal da vaca louca no mês passado no estado de Washington, vários países – entre eles o Brasil – suspenderam as importações do produto dos EUA.
Ontem (05) o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, reuniu-se com representantes do setor para discutir o cenário atual e começar a traçar estratégias para alcançar mercados que deixaram de comprar dos EUA.
De acordo com o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antonio Jorge Camardelli, que participou do encontro, os grupos de trabalho terão prazo até quinta-feira para apresentar sugestões. “O que o ministro fez está correto, que foi estar atento e distribuir tarefas”, afirmou Camardelli, que chefiará um dos grupos, o que cuidará da “preparação de novos mercados e oportunidades”.
Ele ressaltou, porém, que a lacuna deixada pela carne americana não será automaticamente ocupada pelo produto brasileiro, pois existem países, como os próprios EUA, Japão e Coréia do Sul que impõem barreiras sanitárias às exportações brasileiras por causa da febre aftosa.
De acordo com informações da Abiec, o Brasil só tem acesso a 50% do mercado internacional de carne por causa dessas barreiras. Apesar disso, o país tornou-se no final do ano passado o maior exportador de carne bovina do mundo.
Uma das ações que podem ser tomadas, segundo Camardelli, é a procura pela ampliação de acordos sanitários com outros países, como o Egito, por exemplo, para onde o Brasil não exporta miúdos, e a exemplo do que foi feito em setembro de 2003 com a Argélia. “A história mostra que quando conquistamos um mercado, jamais o perdemos”, disse Camardelli.
Outra ação, de acordo com o diretor da Abiec, pode ser a rediscussão com a Rússia das cotas impostas às importações do produto. No ano passado, o país eslavo decretou um sistema de cotas não só para a carne bovina, mas também para s importações de carne de porco e frango.
Uma outra conseqüência do veto à carne americana no mercado internacional, e que deverá ser positiva para o Brasil, de acordo com Camardelli, será o provável aumento do preço da carne bovina no mercado internacional, devido à diminuição da oferta.
Dubai
Um dos mercados que o setor está de olho, de acordo com o executivo, é o do Oriente Médio. Tanto que ele próprio esteve nos Emirados Árabes Unidos no início de dezembro representando o setor na Semana do Brasil em Dubai e acompanhando a passagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo país do Golfo.
De acordo com ele, a indústria exportadora de carne brasileira já tem uma presença forte no Oriente Médio, principalmente em Dubai, mas no segmento de enlatados. Agora, o que se quer é expandir as vendas de outros produtos, como cortes especiais de carne ‘in natura’. O objetivo do setor, segundo Camardelli, é procurar vender cada vez mais produtos de maior valor agregado, buscando a melhora nos preços do que o aumento nas quantidades embarcadas.
O executivo acrescentou que a feira de Dubai serviu para fazer contatos diretos com os importadores árabes, mostrando a cara da bovinocultura brasileira.