Roma – Na reta final da campanha internacional para eleger o ex-ministro José Graziano da Silva à direção geral da FAO (Agência da ONU para Alimentação e Agricultura), o governo brasileiro realizou nesta sexta-feira (24), na sede da Embaixada do Brasil em Roma, o seminário Cooperação Técnica Brasileira: Agricultura, Segurança Alimentar e Políticas Sociais. “Organizamos esse evento porque acreditamos que as soluções que encontramos para alimentar 190 milhões de brasileiros podem, de alguma forma, contribuir para que todos os países possam conjuntamente alimentar mais de sete bilhões de pessoas”, disse Antonio de Aguiar Patriota, ministro das Relações Exteriores do Brasil na abertura do seminário.
Durante o encontro, foram apresentados programas que o país desenvolve e compartilha com nações parceiras principalmente nas áreas de desenvolvimento rural e social, agricultura familiar, agricultura e meio ambiente. De acordo com Patriota, a cooperação técnica brasileira contempla, atualmente, projetos em 81 países da América Latina, África, Ásia e Oceania. São programas que vão desde a construção e gestão de fazendas experimentais em terras africanas até a implantação de centros de formação profissional, com o objetivo de estimular o intercâmbio entre profissionais do Brasil e de parceiros.
O seminário também contou com a participação do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, Afonso Florence, ministro do Desenvolvimento Agrário, ministros de estados de países africanos parceiros do Brasil em diversos projetos de desenvolvimento agrícola e social, como Senegal, Moçambique, Ruanda e Guiné-Bissau, além de representantes de São Tomé e Príncipe e nações latino-americanas como Colômbia.
Entre os programas apresentados, o Programa de Cooperação para o Desenvolvimento Agrícola da Savana Tropical de Moçambique (ProSavanas), projeto de cooperação técnica desenvolvido pela Embrapa em parceria com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) no país africano – com o apoio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC). O objetivo é promover o desenvolvimento agrícola e rural na região do Corredor de Nacala, em Moçambique, melhorar a competitividade do setor, a produtividade dos pequenos produtores e também alertar para a questão da segurança alimentar. “A intenção é fomentar a formação de empreendedores rurais”, completou o ministro da Agricultura, Wagner Rossi.
O programa deve envolver cerca de 40 mil agricultores da região e tem um horizonte de 20 anos. Foi dividido em três etapas. A primeira trata da identificação das tecnologias agrícolas mais adequadas ao desenvolvimento sustentável da região. O segundo ponto é a criação de projeto piloto, com a intenção de criar um modelo que poderá ser replicado em outras áreas do Corredor de Nacala; e a terceira e última etapa trata da elaboração de Plano Agrícola Regional. Ainda faz parte do ProSavanas a construção de dois centros de pesquisas seguindo o modelo da Embrapa no Brasil e a reativação de, pelo menos, três campos experimentais na região do Corredor de Nacala.
Outros programas apresentados ao público do evento foram os realizados no Senegal, de apoio ao desenvolvimento da Rizicultura; em Gana, de criação de linhas de créditos para a agricultura familiar e as experiências de trocas trilaterais, como as cooperações técnicas entre Brasil, Itália e Bolívia, para o programa Amazônia sem Fogo, de combate a incêndios na região. De acordo com Patriota, no campo das cooperações trilaterais, o país tem acordos com o Japão, Alemanha, Estados Unidos, Itália, França, Austrália, Reino Unido e Espanha, entre outros. E recentemente assinou Memoranda de Entendimentos com o Egito e Israel.
Fome Zero e a FAO
Espaço especial foi reservado ao Fome Zero, citado em quase todas as intervenções do seminário. O programa começou a ser estudado em 2001 e foi implantado no país em 2003 – justamente por José Graziano da Silva, enquanto ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome no governo Lula. O Fome Zero foi um dos carros-chefes da campanha eleitoral de Lula à presidência da República, em 2002.
De acordo com Graziano, o Fome Zero tirou da pobreza, até agora, cerca de 30 milhões de pessoas. Questionado sobre o motivo o sucesso do programa e a implantação do modelo no continente africano, Graziano explicou que “não existe mágica”, que se trata de uma operação que tem de ser pensada localmente. “Tem de gerar um circulo virtuoso no local, incentivando a produção, com programas de geração e transferência de renda, mas também criando mercado consumidor local para o que será produzido”, disse.
Graziano sustenta que um dos segredos do Fome Zero, por exemplo, foi levar às escola públicas os alimentos produzidos pelos agricultores que faziam parte do programa. “Fortalecemos esses vínculos locais”, afirmou o ex-ministro. Outro ponto fundamental, segundo Graziano, é realizar o programa simultaneamente em todas as regiões do país, com o objetivo de evitar as transferências de pessoas criando os conhecidos e dramáticos êxodos rurais, um dos motivos que levaram à criação de bolsões de pobreza nas grandes cidades brasileiras.
A eleição
A reunião da FAO tem início neste sábado (25) e se encerra no dia 02 de julho. Neste domingo (26) será anunciado o eleito. Os 191 países do órgão têm direito a voto. O brasileiro Graziano compete com outros cinco candidatos ao cargo: o espanhol Miguel Moratinos, o indonésio Indroyono Soesilo, o austríaco Franz Fischle, o iraniano Mohammed Saeid Noori-Naeini e o iraquiano Abdul Latif Jamal Rashid, ex-ministro de Recursos Hídricos do país árabe. O novo diretor-geral do órgão ficará no cargo entre janeiro de 2012 e julho de 2015. “Será uma oportunidade de levar às Nações Unidas um programa transformador de uma realidade. Não é só pesquisa. O trabalho de Graziano foi posto em prática, com resultados”, afirmou Wagner Rossi, em seu discurso de apoio a Graziano.