São Paulo – Os exportadores brasileiros podem explorar mais o mercado árabe de alimentos processados. Embora essa categoria de produtos tenha respondido por 21,5% das vendas do Brasil à região no ano passado, num total de US$ 2,1 bilhões, o açúcar sozinho respondeu por 84% do que foi embarcado, segundo levantamento feito pelo gerente de Desenvolvimento de Mercado da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Rodrigo Solano.
Isso mostra que outras mercadorias brasileiras da mesma categoria têm presença reduzida no mundo árabe. Produtos como sucos, chocolates e massas têm peso muito menor na pauta de exportações para a região do que nas vendas do Brasil para o mundo com um todo.
“Para o mundo, a divisão dos produtos exportados é mais pulverizada, o que revela que o mundo já descobriu os alimentos processados brasileiros, mas os árabes ainda não”, disse Solano. “É preciso mais promoção”, acrescentou. Só para se ter uma idéia, enquanto os sucos representam cerca de 10% do total das vendas externas de alimentos processados brasileiros, para os árabes o percentual é de apenas 0,5%.
Na avaliação de Solano, as empresas brasileiras precisam aplicar o know-how que já têm nas exportações de carnes e açúcar para o Oriente Médio e Norte da África na promoção de outros itens. Isso inclui, por exemplo, a obtenção de certificação halal e adaptação dos produtos e embalagens para o gosto do consumidor da região.
O potencial de ampliação desse mercado é claro para quem atua cotidianamente nessa área. É o caso do empresário Eduardo Moraes, sócio da tranding Latinex, de Curitiba, especializada em alimentos. Ele já percorreu boa parte do mundo árabe em busca de oportunidades de exportação e importação. “No geral é um mercado potencial, mas pouco explorado [pelos brasileiros]”, afirmou.
Na região do Golfo, por exemplo, segundo Moraes, o mercado é sofisticado e tem grande presença de produtos de países concorrentes do Brasil e da indústria local. De acordo com levantamento do Departamento de Desenvolvimento de Mercado da Câmara Árabe, na Arábia Saudita, principal economia da região, a venda de alimentos industrializados cresceu 14% no ano passado em comparação com 2007. Nos Emirados Árabes Unidos a venda de alimentos processados cresceu 15% na mesma comparação, especialmente de produtos secos, congelados e itens de confeitaria.
Na região existem alguns fatores que impulsionam o setor, como o crescimento econômico, influenciado pelo clico de alta do petróleo que perdurou até meados de 2008, a ampliação da renda per capita, aumento da população, lançamento de novos produtos, publicidade agressiva por parte das empresas e mudança de hábitos de consumo. Há uma busca cada vez maior por alimentos diferenciados, mais nutritivos e saudáveis, com menores teores de gordura, além de orgânicos.
Há, porém, no Golfo, intensa concorrência. Grandes empresas multinacionais e locais brigam pela preferência do consumidor. Moraes conta que nos Emirados a indústria local de sucos trabalha com baixo custo de produção, boa logística e grande know-how na área comercial, o que lhe garante alta competitividade. Omã, segundo ele, é outro exemplo, pois lá hoje são produzidos biscoitos de qualidade a preços competitivos a partir de insumos importados.
Isso, na avaliação do empresário, não significa que a concorrência seja um impedimento para o aumento das exportações brasileiras, mas indica que os exportadores devem trabalhar em duas frentes: na promoção de produtos prontos para o consumo que sejam competitivos, como frutas, vegetais e carnes em conserva; e na venda de alimentos semiprocessados para a indústria regional, como polpas de frutas e sucos concentrados. “São áreas muito evoluídas no Brasil, mas que ainda não têm um canal de vendas totalmente formado na região”, disse Moraes.
Ele mesmo atua nessas duas frentes, trabalhando com itens acabados e semimanufaturados. A Latinex, por exemplo, acaba de fechar negócio para exportação de polpa de manga e de laranja para uma indústria síria que produz preparados alimentícios a base de frutas. “A mesma coisa nós fazemos na Líbia”, declarou.
Vantagem na crise
Nessa seara, a própria crise internacional pode trazer vantagens aos exportadores brasileiros. Moraes disse que nos últimos meses, após o recrudescimento da turbulência financeira, aumentaram as consultas feitas à sua empresa por importadores árabes. “É um mercado que desponta com mais força nesse momento de crise”, afirmou.
Ele avalia que traders europeus, que atuam muito com financiamento de terceiros e são tradicionais fornecedores do Oriente Médio, estão sofrendo com a falta de crédito, o que torna o custo dos produtos que oferecem mais oneroso e menos interessante para os importadores árabes. No Brasil, muitas companhias atuam com capital próprio e têm atraído a atenção dos empresários da região, o que fez aumentar bastante o número de empresas brasileiras em busca de negócios nessa área recentemente, segundo Moraes.
Outros países árabes, como Egito e Marrocos, têm também apresentado boas taxas de crescimento no varejo de alimentos processados. Segundo o levantamento da Câmara Árabe, as vendas de macarrão foram as que mais cresceram no Egito, por se tratar de um produto relativamente novo para os consumidores e ter ganho muita popularidade. Ainda por lá, grandes redes de supermercados têm ocupado o espaço que antes era de pequenas mercearias.
No Marrocos, a comercialização de produtos considerados saudáveis cresceu mais do que a de alimentos tradicionais, cenário que deve se manter, de acordo com o levantamento.
Moraes acrescentou que as empresas brasileiras têm que superar mais uma barreira para ampliar sua fatia no mercado árabe, que é fomentar a imagem do Brasil como grande produtor e exportador de alimentos, que de fato é. Ele contou, por exemplo, que a maior parte das carnes em conserva consumidas na região é produzida no Brasil, mas o consumidor não sabe disso, porque geralmente os produtos são vendidos com marcas locais.
Mais informações sobre o mercado árabe para alimentos
Câmara de Comércio Árabe Brasileira
Departamento de Desenvolvimento de Mercado
Tel: +55 (11) 3283-4066
E-mail: infobiz@ccab.org.br
Site: www.ccab.org.br