São Paulo – O Brasil enfrenta a difícil tarefa de retomar o crescimento num cenário que une inflação e juros altos e desconfiança dos investidores internos e externos. Para isso, o governo precisa tomar uma série de medidas fiscais que não podem mais esperar para ser realizadas, entre elas o corte de gastos e a reforma da Previdência.
Essa é a avaliação de Paulo Val, economista-chefe de gestão de recursos do Banco Brasil Plural, que deu a palestra Cenário Econômico e Operações de Câmbio nesta quarta-feira (03), na Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo. O evento foi apresentado em parceria com Bruno Gargiolli, gerente de Relacionamento do banco.
“O teto de gastos é muito importante e a reforma da Previdência também. Acho que são as duas grandes reformas que mudam a forma como o [ajuste] fiscal vem acontecendo nos últimos tempos. As outras medidas são mais pontuais, mas essas duas são com se fossem reformas de espectro muito amplo e elas ajudam a estabelecer a grande diretriz para os próximos anos”, destacou Val.
“Depois disso, há a questão de acessibilidade a benefícios, até o reajuste de salário mínimo é uma coisa que tem que ser discutida – se deve ou não ter reajuste real de salário mínimo – e a questão de algumas pessoas receberem diversos benefícios sociais, se isso deve continuar”, apontou.
Segundo Val, o Brasil passa por um momento diferente do vivido pelos países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, por exemplo, com uma taxa de desemprego relativamente baixa, a expectativa é por um aumento de juros, que atualmente varia de 0,25% a 0,5% anuais. A Europa, disse Val, também passa por uma trajetória de crescimento econômico. Por aqui, lembrou, o governo é cobrado a baixar uma taxa de juros que hoje atinge 14,25% ao ano, sem deixar a inflação – prevista para fechar em 7,21% este ano – disparar ainda mais.
“Parece que o governo começou a ter uma postura mais construtiva, mais positiva. Eles sabem que as reformas são necessárias, agora tem que ver a implementação. Se as reformas não forem entregues, nós podemos ver o cenário se deteriorando de novo”, disse.
O economista lembrou como a instabilidade do País afetou a confiança dos investidores estrangeiros, refletindo na desvalorização do Real. “O câmbio é uma boa percepção de como o investidor estrangeiro está vendo o Brasil”, afirmou. Para ele, as próximas medidas tomadas pelo governo brasileiro para ajustar as contas serão essenciais para definir o posicionamento dos investidores em relação ao País.
“Tudo depende dessa evolução fiscal para balizar qual o nível de otimismo que os investidores vão ter em relação ao Brasil. E aí, não só investidores de portfólio, que são os de investimento em bolsa, em títulos do governo, do setor privado, mas também [os que investem] em ativos reais, o quanto as pessoas vão estar dispostas a comprar uma empresa aqui, a fazer novos investimentos aqui”, apontou.
Com as reformas fiscais ainda indefinidas pelo governo, Val diz não acreditar num crescimento forte da economia do Brasil no próximo ano. “O crescimento do ano que vem deve ficar perto de 1%”, disse. Se, no entanto, houver um avanço significativo na economia brasileira no segundo semestre de 2016, Val diz que é possível pensar em um crescimento de até 1,8% para 2017.
Para o economista, os primeiros passos para a recuperação da economia brasileira “já foram dados”. “Por exemplo, a indústria no segundo trimestre já cresceu em relação ao primeiro. Isso é uma coisa que não acontecia há muito tempo. Então, o passo inicial pra uma normalização do cenário econômico está sendo dado. Agora, é uma caminhada longa e progressiva. O [ajuste] fiscal é realmente o que vai dar força a esses passos e, quanto mais forte for isso, mais rápida essa caminhada pode ser”, concluiu.
Câmbio
Bruno Gargiolli falou sobre os diferentes serviços do Banco Brasil Plural, com foco nas operações de fechamento de câmbio e mecanismos de proteção às empresas exportadoras e importadoras. Ele explicou as opções dadas aos clientes na hora de proteger suas operações de compra e vendas internacionais contra as variações na cotação da moeda norte-americana.
Criado em 2009, o Grupo Brasil Plural controla sete diferentes empresas, entre elas o banco, além de instituições de gestão de recursos como fundos de ações e fundos privados, gestão de patrimônio e uma corretora de investimentos.
“Até julho deste ano, fechamos um volume de câmbio de R$ 5,3 bilhões, o que representa quase o dobro do que fechamos em 2015”, revelou Gargiolli. Segundo o executivo, o banco tem hoje mais de 350 clientes ativos, entre pessoas físicas e jurídicas.
De acordo com o gerente, entre os principais diferenciais do banco estão sua competitividade em custos e taxas, a agilidade na análise e aprovação das operações e um atendimento personalizado, com fácil acesso aos sócios da instituição.