São Paulo – Ex-ministros da Agricultura do Brasil defendem que o País abra mais mercados para o agronegócio nacional e avance em acordos multilaterais com maior velocidade. Sete deles se reuniram em debate nesta quinta-feira (11) no programa Agro 360 – Especial Ministros, do canal televisivo Terra Viva, que foi ao ar com patrocínio exclusivo da Câmara de Comércio Árabe Brasileira. As autoridades acreditam que o Brasil deve acelerar suas entradas em mercados no exterior e a realização de acordos com países que precisam de segurança alimentar.
“Não sei se estamos fazendo o dever de casa na aproximação com a União Europeia. Eu acho tão quieto esse tema de acordos bilaterais que eu fico, às vezes, indignado. E mais do que isso, vejo que os [países] que nós temos como parceiros são relegados, isso não pode acontecer. O País quer participar da segurança alimentar de muitos países do mundo. Nós temos condições de fazer. Por que não somos claros no que fazemos bem pela sustentabilidade?”, questionou Francisco Turra (foto acima).
Já com relação à China, os ministros lembraram que a chegada de Joe Biden ao poder nos Estados Unidos deve reabrir espaço para o comércio dos norte-americanos com os chineses, o que interfere nos volumes brasileiros embarcados ao gigante asiático. “Isso vai provocar uma mexida no tabuleiro. Já foi dito aqui mais de uma vez. Nossa diplomacia tem que ter resultados e avançar claramente para acordos bilaterais e multilaterais para que, se a China sair do nosso mercado, outros países ocupem seu lugar”, declarou Roberto Rodrigues.
O presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, teve participação especial no programa e fez um questionamento dentro da temática “O Brasil é visto, com toda razão, como o grande parceiro do mundo na segurança alimentar. Como os senhores e a senhora veem essa possibilidade e o que Brasil não pode deixar de fazer para atender essa demanda?”, perguntou Hannun.
A ex-ministra e atual senadora Katia Abreu frisou que o País deve elevar a participação do comércio exterior em seu Produto Interno Bruto (PIB). “Hoje estamos com 25% do PIB apenas nessa relação comercial de importação exportação. O Brasil é um país ultrafechado. Acredito que nós temos que nos centrar no sentido de lutar para fazer com que essa abertura aconteça”, disse.
Sauditas
Abreu mencionou, ainda, o fundo de investimento árabe Saudi Agricultural and Livestock Investment Company (Salic) como um parceiro promissor. “O Salic é um poço de financiamento e investimentos para o mundo que o Brasil deveria enxergar e se aproximar mais para implementar relações”, afirmou ela.
Como exemplo da força do Brasil para a segurança alimentar, Francisco Turra lembrou da parceria com a Arábia Saudita. “Foi o maior importador de aves do Brasil por 19 anos e perdeu o posto por dois anos para a China. Mas neste ano, observamos que novamente Arábia Saudita e Emirados em busca de proteína brasileira com muita força. Eles tentaram autossuficiência, para ter segurança, mas não deu certo. Principalmente no aspecto sanidade, porque o Brasil não tem problemas. Tenho absoluta confiança que os números serão melhores no final deste ano”, pontuou.
Para o economista e ex-ministro Reinhold Stephanes, o agro brasileiro tem, historicamente, aproveitado as oportunidades que surgiram. “A demanda mundial continuará aquecida, o mundo está aumentando sua renda, principalmente os países asiáticos. O Brasil é um grande player e possivelmente será o maior no futuro. Temos solo, água, clima e tecnologia. Temos que estudar melhor o aproveitamento do nosso solo, mas o Brasil há 40 anos vem demonstrando essa capacidade”, afirmou Stephanes.
Nobel da Paz
Em 2021, a agricultura pode trazer o primeiro Nobel para o Brasil, com a indicação do ex-ministro Alysson Paolinelli ao Nobel da Paz. “Eu lá representarei o Brasil. Hoje o mundo respeita e está certo de que a agricultura tropical foi um descobrimento novo e para a segurança alimentar. Os organismos internacionais estão insistindo para que o Brasil assuma o compromisso com a nova demanda”, avaliou Paolinelli.
Ele lembrou que até 2050 o mundo deverá estar com 9,7 bilhões de pessoas, uma necessidade de aumentar em 61% a atual oferta de alimento, e que o Brasil deve responder por 41% desse total. Para o ex-ministro, isso será possível através de técnicas como a integração lavoura e pecuária, por exemplo. “É uma inovação que não é possível ser realizada em nenhuma região do globo a não ser a tropical. O Brasil tem a tecnologia e é exemplo, e pode ajudar em um projeto para reduzir a miséria e a fome”, destacou Paolineli.
Sustentabilidade
Outro tema abordado foi a imagem brasileira no exterior no que diz respeito a questões ambientais, em especial na região amazônica. Desastres ambientais, como as queimadas que devastaram partes de ecossistemas brasileiros no ano passado, impulsionaram discursos como o do presidente francês Emmanuel Macron, que ligou os problemas à produção de soja brasileira.
“Precisamos continuar reiterando que somos muito bons. Meia dúzia de produtores não podem causar isso na imagem. Ninguém discute mais os direitos humanos em qualquer país do mundo. A questão ambiental é muito semelhante, também virou uma bandeira universal. Os governos que se opuserem a isso vão ficar para trás”, defendeu Abreu.
Na mesma linha pensa Blairo Maggi. “Quem está irregular precisa ser identificado e expurgado. O agro legal não pode defender o agro tosco. Como fazemos isso? Sendo transparentes”, declarou ele, afirmando que no caso da crise em torno da Operação Carne Fraca essa foi a estratégia adotada. A Câmara Árabe trabalhou em conjunto com o governo federal, na época da Carne Fraca, para esclarecer ao mercado árabe as questões relativas à Operação.
Agricultura tropical
Para reverter a imagem internacional do País, Paolinelli aposta no maior investimento em pesquisas. “Temos absoluta segurança que se a ciência entrar na frente, vamos evitar o erro que o próprio mundo desenvolvido fez, indo em terras férteis, plantando sucessivamente e depois abandonando essas terras”, disse Alysson.
No Brasil, Paolinelli destacou a experiência em biomas como o Cerrado. “Pegamos a terra infértil e transformamos na mais fértil. Isso só já é um atestado que fazemos agricultura sustentável. Antes de qualquer agricultura, precisamos levar a ciência para definir claramente quais as áreas devem ser reservadas e aquelas que possam ser usadas, qual tecnologia e sistema de produção para que não se joguem fora os recursos”, pontuou.
Roberto Rodrigues confirma que é preciso seguir neste caminho. “Nós temos a agricultura tropical mais eficiente do mundo. O que Macron e Biden estão pensando é importante, mas o mais importante é que nós façamos a lição de casa completa. A Amazônia é um passaporte extraordinário que se nós usarmos bem nos levará ao céu, se não (usarmos bem) nos levará para o outro lado”, concluiu Rodrigues.
Internet no campo
Os ex-ministros também defenderam a aceleração do acesso à internet no campo brasileiro. Para Neri Geller, esse passo terá contribuições em diversos níveis. “A internet 5 G chegar no campo vai ser um avanço extraordinário. Estar dentro da porteira e conectado com o resto do mundo”, declarou ele.
O programa “Agro 360 – Especial Ministros” foi apresentado pelo jornalista Marcio Santos. No ano passado o programa também teve uma edição especial com o tema “A diversificação dos produtos brasileiros no mundo árabe”, da qual participou Hannun, juntamente com outros representantes dos setores público e privado do Brasil.