Da Agência Brasil
Brasília – Ligar fisicamente os países da América do Sul é o maior desafio do Eixo de Integração da Infra-estrutura Regional da América do Sul (IIRSA), que hoje promove uma reunião na Câmara dos Deputados, em Brasília. O encontro avalia as estratégias de desenvolvimento comercial e físico nas áreas de transportes, comunicações, energia, defesa e turismo.
Para o Brasil, a integração comercial com os Andes envolve uma questão estratégica: a saída para o Pacífico, o que daria acesso mais rápido e mais barato aos mercados asiáticos, especialmente Japão, China e Índia. “São 2,3 bilhões de pessoas e U$ 1,8 bilhão em comércio”, sintetizou o deputado Agnaldo Muniz (PPS/RO), relator da subcomissão de integração da América do Sul.
Um dos principais produtos que seriam comercializados pelo Brasil por meio da rota pacífica seria a soja produzida no centro-oeste brasileiro, um complemento alimentar muito valorizado pelos orientais.
Segundo o deputado Nilson Mourão (PT/AC), presidente da Frente Parlamentar Brasil-Bolívia, a rota terrestre do pacífico é um sonho possível, mas custa caro. “Nos últimos trechos que ligam o trecho de Brasiléia a Assis Brasil, já na fronteira do Acre com o Peru, cada quilômetro custou R$ 1 milhão”, disse Mourão, lembrando que a estrada ainda não chega ao Pacífico porque o Peru e a Bolívia ainda não completaram suas próprias estradas.
Transporte aéreo e fluvial
Juntos, os países sul-americanos tem praticamente o dobro do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e duas vezes a população do país. No extremo sul do continente, o Mercosul já quebra as dificuldades de acesso de cargas e de pessoas. Porém, ao norte, a Cordilheira dos Andes e a Floresta Amazônica são grandes barreiras naturais.
O engenheiro Pedro Bara, coordenador dos Eixos da Amazônia da Corporação Andina de Fomento, destaca, contudo, que o meio ambiente não pode ser visto como problema na região Amazônica e da Cordilheira. “Deve-se pensar em uma exploração sustentável do potencial energético e turístico da região”, sugere, defendendo que o mais aconselhável para a região é desenvolver hidrovias e conexões aéreas, em vez de pensar em rodovias, que são rapidamente engolidas pela florestas e acabam muito caras.
“Hoje para uma pessoa percorrer os 1,3 mil quilômetros que separam Porto Velho de La Paz, precisa ir para São Paulo e Santa Cruz de La Sierra, o que aumenta exponencialmente o custo da viagem e as horas de trânsito”, exemplifica o deputado Miguel de Souza (PL/RO), presidente da subcomissão permanente para os Eixos de Integração Regional da América do Sul.
Os países andinos ainda estão muito aquém do que poderiam no relacionamento com o Brasil. Prova disso são as ligações telefônicas entre a comunidade andina e o Brasil. “Norte-americanos, canadenses, espanhóis e italianos falam mais com os países andinos do que os brasileiros”, sustenta Demian Fiocca, secretário de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
Há nove regiões, ou eixos, de integração da América do Sul, que englobam desde faixas entre Mercosul e Chile até regiões entre o Brasil, a Venezuela, o Suriname e as Guianas. O custo estimado para se desenvolver todos os eixos seria de aproximadamente U$20 bilhões.
Para Pedro Bara, o valor é muito alto. “Nenhum dos países têm dinheiro para isso, portanto é preciso começar pelo prioritário”. Entre os participantes do seminário da IIRSA – que reuniu representantes do governo, parlamentares, membros de organizações ambientais e de bancos internacionais – é consenso que uma das ações mais urgentes é a abertura de vôos regionais.