Alexandre Rocha
São Paulo – A primavera começou ontem no Brasil e hoje (23) já é o Dia Nacional do Sorvete, data comemorativa criada em 2002 pela Associação Brasileira das Indústrias de Sorvetes (Abis) para marcar o início da alta temporada de vendas do produto. Cerca de 70% da produção brasileira é consumida entre os dias quentes de final de setembro e início de março. Para acabar com a sazonalidade e produzir à plena carga o ano inteiro, o setor quer exportar para abastecer o verão no hemisfério norte, enquanto aqui é inverno.
A idéia é apostar na imagem do país e nos sabores exclusivos do Brasil, de frutas tropicais como cupuaçu, acerola, pitanga, graviola e açaí. "Hoje nós não exportamos, mas estamos fazendo um trabalho nesse sentido, voltado principalmente para as frutas tropicais, pois sabores como chocolate, creme e flocos existem em todos os lugares", disse o presidente da Abis, Eduardo Weisberg.
Na realidade, o país já vende um pouco ao exterior. No ano passado, as exportações somaram US$ 908 mil, mas é uma quantia muito pequena quando comparada ao faturamento do setor, que foi de US$ 778 milhões (dados ainda preliminares). Segundo Weisberg, o valor refere-se apenas a alguma "troca de mercadorias", provavelmente feita por multinacionais que atuam na área.
Tal trabalho consiste inicialmente em convencer as empresas das vantagens de exportar e incentivá-las a obter certificados de qualidade. Nesse sentido, mais de 200 empresas do segmento, de acordo com Weisberg, já participam do programa "Alimentos Seguros", patrocinado por entidades como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Serviço Nacional da Indústria (Senai) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Estamos preparando as empresas e para exportar é preciso ter selo de qualidade", disse.
Além disso, a entidade está reunindo alguns exemplos de empresas, que já estão habilitadas a vender ao exterior, para encaminhar um projeto de promoção comercial à Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex). Se tudo correr como planejado, a proposta deve ser apresentada no início do próximo ano. A Apex lançou recentemente um programa do gênero destinado aos fabricantes de equipamentos e insumos para a indústria do sorvete, que tem Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, como um de seus mercados alvo.
Segundo Weisberg, o setor deve se concentrar inicialmente nos mercados dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia, especialmente Japão e China. Mas a idéia é, no futuro, ampliar os destinos, inclusive para o Oriente Médio. "Se realmente queremos exportar tem que ser para o mundo todo", disse ele, acrescentando que a estratégia da associação prevê, entre outras ações, a participação em feiras internacionais.
Verão quente
Mas o setor está de olho também no mercado interno, sendo que acabar com a sazonalidade das vendas é igualmente um dos objetivos nessa seara. A idéia é mudar a percepção do brasileiro de que sorvetes e picolés são apenas guloseimas para consumo nos dias quentes e passar a tratar os produtos como alimentos nutritivos.
Nesse sentido, os fabricantes já tiveram uma vitória, que foi a inclusão de picolés na merenda escolar das escolas municipais de São Paulo, a maior cidade do país. A prefeitura incluiu no cardápio das crianças a distribuição quinzenal do produto. "A idéia é promover essa mudança cultural inicialmente nas crianças, o que vai dar resultados a médio e longo prazos", afirmou Weisberg.
Mas enquanto a mudança não vem, o segmento torce por dias quentes. Weisberg espera que o clima e a economia do país contribuam para um "verão maravilhoso". Na temporada passada, segundo ele, as vendas não foram tão boas justamente porque estes dois fatores não ajudaram.
Perfil
O Brasil produziu no ano passado 533 milhões de litros de sorvetes (ainda dados preliminares), pouco mais do que em 2002, quando foram produzidos 527 milhões de litros. Só para se ter uma idéia, segundo dados fornecidos pela Abis relativos a 2001, os Estados Unidos, que são o maior produtor mundial, fabricou 61,3 bilhões de litros. O Brasil ficou em 12° lugar no ranking dos maiores fabricantes, atrás de países muito mais gelados como Canadá, Suécia, Suíça e Finlândia.
O setor, segundo Weisberg, conta com cerca de 10 mil empresas, concentradas principalmente nas regiões sul e sudeste, e gera em torno de 40 mil empregos diretos e indiretos (entre 15 mil e 18 mil diretos).
Destas companhias, de acordo com o presidente da Abis, entre 200 e 300 são de médio e grande portes, as demais são micro e pequenas. "As pequenas e médias estão crescendo, mostrando que também têm qualidade, mas o setor ainda é dominado pelas grandes", concluiu. Entre as grandes estão multinacionais como a Nestlé e a Kibon, que pertence à Unilever.
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