São Paulo – O Brasil vem buscando nos últimos anos ampliar o alcance de seus produtos internacionalmente e o suco de maçã é um deles. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) trata da possibilidade de abertura de mercado aos Emirados Árabes Unidos há quatro anos. Há cerca de duas semanas, os Emirados enviaram um documento ao Mapa com os requisitos e normas internas do país para o suco de maçã, e o processo segue em tratativa, ainda sem previsão de abertura do mercado.
A ANBA conversou com Clóvis Serafini, coordenador-geral de Temas Sanitários e Fitossanitários da Secretaria de Comercio e Relações Internacionais do Mapa. Segundo ele, há milhares de tratativas de produtos agropecuários como esse na secretaria, e a análise envolve tanto questões fitossanitárias, de possíveis pragas, como também as exigências que abrangem o produto e suas características. De acordo com Serafini, no caso da tratativa com os Emirados sobre o suco de maçã, como a resposta demorou, a negociação acabou se estendendo.
Há tratativas que fluem rapidamente, em questão de dias, enquanto há outras que podem levar anos, o coordenador informou. “Os países têm autonomia para impor regras e normas quanto aos produtos, e no caso do suco, se ele não tiver um tratamento, pode ser um veículo de praga; até o pallet de madeira utilizado para exportar produtos pode veicular pragas ao país, e essas regras compreendem todas essas questões”, disse Serafini.
Quanto à qualidade do suco, se ele é pasteurizado ou não, se ele é mais doce ou mais ácido, se é mais ou menos viscoso, tudo isso depende do mercado dos Emirados, do que o consumidor de lá prefere, disse o representante do Mapa. Portanto, as tratativas levam em conta se a indústria brasileira tem condições de cumprir as exigências do país árabe. “O interesse brasileiro surgiu, agora temos que ver os requisitos para abrir o mercado, e tem negociações que duram dez, quinze anos. Podemos afirmar que existe uma tratativa e um interesse nosso de vender a esse mercado potencial dos Emirados”, disse Serafini. No site do órgão regulatório dos Emirados (ESMA) há mais informações sobre as exigências.
Mercado
Segundo a Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM), há duas empresas no Brasil que já vendem suco de maçã ao exterior, a Yakult e a Fischer, sendo que a Fischer é a que exporta o maior volume. A ANBA entrevistou o diretor executivo da Fischer, Arival Pioli. A Fischer e a ABPM têm sede em Fraiburgo, Santa Catarina.
Pioli disse que ainda não tinha conhecimento sobre as tratativas com os Emirados Árabes, mas que tem interesse no mercado. “Temos interesse no mercado dos Emirados sim, tanto para os sucos quanto para a fruta fresca”, disse. A Fischer ainda não vende o suco de maçã para nenhum país árabe, mas já exporta maçãs in natura para Arábia Saudita, Omã e Catar.
Os principais mercados do suco de maçã brasileiro são os Estados Unidos e a Europa. “Mas muitos países consomem o suco de maçãs pela saudabilidade do produto e por ser um suco de baixa acidez que combina com vários outras formulações de sucos”, disse Pioli. No caso da Fischer, o principal mercado tem sido os Estados Unidos. “Na Europa, nossas vendas são restritas pois há taxas para exportação do suco de maçã, e nos Estados Unidos contamos com um diferencial logístico, disponibilizando suco a granel. É um diferencial importante tanto no custo com embalagem quanto no aspecto ambiental”, informou o diretor.
Segundo Pioli, há muitos outros mercados potenciais para o suco, como Rússia, México, Canadá e Japão. “Mas questões de custos logísticos ou competitividade com produtores mais próximos inviabilizam nossa participação”, declarou.
A maçã é uma cultura perene, com uma produção por ano, e tem altos custos por ser exigente em manejo, contou Pioli. Com isso, todos os pomares da Fischer são conduzidos visando a produção para o mercado da fruta in natura, onde há maior valor agregado.
Mas então qual maçã vira suco? “A produtividade e qualidade flutuam muito influenciados pelas condições climáticas como frio, chuvas, granizo, etc. Somente as maçãs não aptas para o consumo in natura são destinadas à industrialização. Granizo é o principal fator que direciona a fruta para a indústria. Por isso o volume de matéria-prima para industrialização também sofre grandes variações safra a safra”, explicou Pioli.
O suco de maçãs produzido na Fischer é de acidez média de 1,2 a 1,8%, considerada baixa. “Há um diferencial importante a destacar que a nossa produção é feita 80% com matéria-prima de nossa própria produção e 20% provém de produtores selecionados e parceiros que seguem a produção integrada, com qualificação exigida. Ou seja, em comparação a outros produtores mundiais, o nosso produto possui uma rastreabilidade diferenciada. A matéria-prima é de qualidade assegurada em relação à segurança do alimento”, destacou Pioli.
Há três tipos de suco de maçã produzidos pela Fischer, o suco concentrado ou AJC (Apple Juice Concentrated), o suco integral ou NFC (Not From Concentrated) e o aroma de maçãs (Apple Essence), extraído no processo.
Produção e exportação da Fischer
A fábrica da Fischer é especializada em produção de suco de maçãs e a maior produtora do Brasil. A produção de suco de maçãs da companhia varia anualmente de 10 mil a 21 mil toneladas de suco concentrado, de acordo com a disponibilidade de matéria-prima produzida a cada ano. “Atualmente 18% é destinado ao mercado interno e 82% é destinado à exportação. No mercado interno tem crescido a demanda pelo suco integral”, disse.
A exportação da Fischer nos últimos 11 anos tem flutuado entre 11 mil e 26 mil toneladas anuais, uma média de 16 mil toneladas por ano. “O preço internacional depende da oferta mundial de suco, em que o maior produtor é a China, seguido pela Europa. São eles que determinam os preços anuais”, contou Pioli.
O diretor contou que há uma tendência mundial no aumento da procura pelo suco integral de maçã (NFC) e que a empresa estuda a viabilidade de implantação de pomares específicos para o suco. “Somente se viabilizarmos este plano poderemos projetar um crescimento nos volumes de produção e exportação”, disse.
Dados gerais
De acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM), a produção total de maçãs no Brasil ao ano é de 1,2 milhão de toneladas – uma média dos últimos anos. Já o suco de maçã tem produção anual de 34 mil toneladas em média, sendo que grande parte tem como destino o mercado externo. Entre 19 a 20 mil toneladas em média são enviadas ao exterior, principalmente aos Estados Unidos e Europa, enquanto no mercado interno ficam 14 a 15 mil toneladas do sumo.
O suco é exportado principalmente a granel (cerca de 12 mil toneladas) e 7 mil toneladas vão em tambores de aço de 200 litros. O Brasil produz o suco concentrado e clarificado de maçã (AJC) e o suco integral. Para exportar o suco de maçã, é necessária certificação de origem.