Isaura Daniel
São Paulo – O economista e ministro Eduardo Augusto Ibiapina de Seixas assume o cargo de embaixador do Brasil em Beirute, no final deste mês, com o desafio de tornar as relações diplomáticas entre os países tão intensas quanto a integração que existe entre as populações das duas regiões. De acordo com Seixas, além de o Brasil ter entre sete e oito milhões de descendentes de libaneses, há ao redor de 40 a 70 mil brasileiros vivendo no Líbano.
"Um dos desafios da política externa é fazer com que o bom relacionamento entre os governos irradie para a sociedade. No caso do Líbano é o oposto. Em função da imigração, já temos essa integração entre os dois países. O desafio, portanto, dos agentes de governo, é elevar a cooperação ao patamar da interação que já existe", afirma o diplomata. Seixas assume o posto em Beirute no dia 23 de janeiro.
Em função do fluxo imigratório entre os dois países, o governo brasileiro abriu, no primeiro semestre do ano passado, um consulado geral em Beirute. O objetivo é atender as demandas da população. De acordo com Seixas, o consulado, cujo cônsul-geral, Michael Gapp, assumiu em dezembro, vai criar um conselho de cidadãos este ano. O grupo será responsável por levar as necessidades e problemas da comunidade ao consulado, que funciona de forma independente da embaixada.
Seixas acredita que também há muito o que fazer pelas relações do Brasil e o Líbano na embaixada. Uma das possibilidades, de acordo com ele, é o estudo de cooperação na área previdenciária. Ou seja, encontrar uma maneira de facilitar a aposentadoria de brasileiros que se mudem para o Líbano e vice-versa, com reconhecimento, por exemplo, do tempo de serviço cumprido no outro país.
Na área econômica, uma das metas será aumentar o fluxo das exportações e das importações. "O comércio não pode ser uma via de mão única, tem que ser uma via de mão dupla", afirma. Seixas lembra que, quando o presidente libanês Émile Lahoud esteve no Brasil, em fevereiro de 2004, ofereceu o país como plataforma para a entrada de produtos brasileiros no Oriente Médio. Isso, de acordo com Seixas, não deve substituir a relação bilateral do Brasil com as demais nações árabes, mas pode ser mais um canal de comércio.
De acordo com o diplomata, entre os países da Liga Árabe, o Líbano é o terceiro mercado com maior número de empresas brasileiras vendendo seus produtos. "Isso significa que há um volume muito grande de pequenas e médias empresas participando do comércio bilateral", afirma. Segundo Seixas, o Líbano é um mercado reduzido em capacidade, mas sofisticado.
Ele diz que o país é um nicho importante para as confecções brasileiras, por exemplo. Já há várias indústrias têxteis do Brasil e estilistas exportando seus produtos para o mercado libanês. No entanto, Seixas acredita que há ainda muito espaço para ser trabalhado. "Há uma enorme criatividade e competitividade das empresas brasileiras nesta área", diz.
O diplomata cita também o setor de tecnologia da informação, como factível de ser explorado pelas empresas nacionais, e outros como móveis e camarão, segmentos nos quais o Brasil é exportador, mas não vende para os libaneses. "O Líbano é um importador de camarão", afirma.
O setor de hotelaria é outro que está em crescimento no mercado libanês e, segundo Seixas, pode trazer oportunidades para empresas brasileiras. "O Líbano investiu US$ 200 milhões em hotelaria no primeiro semestre do ano passado", diz.
Ontem (18), o diplomata esteve reunido com o presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Antonio Sarkis Jr., além de diretores e vice-presidentes da entidade para um encontro de aproximação. Ele afirma que quer contar com a Câmara Árabe para realizar o seu trabalho em Beirute.
Seixas afirmou que a Agência de Notícias Brasil Árabe (ANBA) foi uma das fontes utilizadas, desde que ficou sabendo da sua indicação a embaixador no Líbano, para se informar sobre o país e as relações bilaterais com o Brasil. A ANBA é mantida pela Câmara Árabe.
Embaixador
Apesar de não ter uma relação anterior com o Líbano, Seixas afirma que ficou satisfeito com a sua indicação para embaixador no país árabe. Filho de um paranaense e de uma amazonense, nascido em São Roque, interior de São Paulo, e criado no Rio de Janeiro, ele ingressou no Itamaraty em 1976. Foi cônsul geral do Brasil em Paris entre os anos de 1995 e 2000 e em Toronto entre 2000 e 2005. Em maio de 2005 foi convidado para ser embaixador em Beirute.
"Acho que foi a torcida da minha mulher", brinca. De acordo com o diplomata, a sua mulher, Newma de Campos Palma Ibiapina de Seixas, tem várias amigas libanesas e sempre quis morar no país árabe. Newma tinha amigas libanesas em Cuiabá, capital do Mato Grosso, onde nasceu, em Paris e Toronto, onde morou em função do trabalho do marido.
Seixas diz que gostou muito da idéia de morar no Líbano. Para justificar, ele cita o bom momento que o país vive tanto internamente quanto nas relações comerciais com o Brasil. O diplomata foi indicado ao cargo de embaixador um pouco antes da Cúpula de Países Árabes e Sul-Americanos, que ocorreu em Brasília, em maio do ano passado.

