São Paulo – O Brasil terá este ano sua maior participação na Gulfood, principal feira da indústria alimentícia do Oriente Médio, que será realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, de 21 a 25 de fevereiro. Ao todo, 88 empresas do País vão expor na mostra. A previsão da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), que organiza o pavilhão nacional, é que estas companhias faturem US$ 659 milhões em negócios decorrentes do evento.
“A Gulfood é uma feira consolidada, uma feira que tem grande demanda. Tivemos, mais ou menos, 130 interessados esse ano. Então fizemos uma adaptação no nosso espaço para acomodar mais empresas. Partimos de 72 empresas em 2015 para 88 agora em 2016”, contou Rafael Prado, coordenador de Promoção de Negócios da Apex, em reunião preparatória na Câmara de Comércio Árabe Brasileira, nesta quinta-feira (21), em São Paulo, que reuniu representantes das companhias que vão expor na mostra.
Prado diz que o câmbio favorável às exportações tem atraído o interesse de novas empresas para o mercado externo, mas não é só a desvalorização do real frente ao dólar que deve impulsionar as exportações nacionais na Gulfood.
“Nós estamos estimando US$ 659 milhões em negócios nessa edição, que é mais que os US$ 646 milhões atingidos em 2015, e isso é fruto de vários fatores. Hoje, a gente tem a preocupação de levar as empresas que realmente estão prontas para o mercado que está no foco de determinada ação”, destacou.
“No caso dos mercados árabes, tem a certificação halal que influencia; a questão das embalagens [adaptadas àqueles países]; o material promocional, [que deve estar] pelo menos em inglês, mas se estiver em árabe é um ‘plus’ para as negociações; e [o fato de as] as exportações das empresas já estarem permeando aquele mercado. Então, com vários critérios além do câmbio, a gente consegue levar um grupo que terá chance de ter uma performance melhor no mercado que a Gulfood atinge”, ressaltou Prado.
Para ajudar as empresas a estarem mais bem preparadas para a feira, a Apex contratou uma companhia para dar consultoria personalizada a cada participante. A consultoria contratada fica em Dubai e é responsável por estudar o perfil dos compradores da região, assim como o das empresas brasileiras, para colocar os importadores em contato com os fabricantes de seus produtos de interesse. A consultoria vai disponibilizar agentes durante o período da feira para levar os potenciais compradores até os estandes das companhias brasileiras.
Câmara Árabe: espaço exclusivo
No encontro desta quinta, Michel Alaby, diretor-geral da Câmara Árabe, deu um panorama geral sobre os países árabes e falou sobre estratégias para que as empresas possam ter sucesso em suas negociações na Gulfood. “O árabe, por definição, negocia com a pessoa na qual ele tem confiança. O árabe negocia com a pessoa e não com a empresa”, destacou o executivo.
Alaby ressaltou a importância dos alimentos terem a certificação halal, que comprova que um produto está de acordo com as normas islâmicas. “No Brasil, 70% do que se exporta de proteína é no sistema halal. Os árabes pagam mais se for halal”, apontou. Vale lembrar que não apenas as carnes podem ser consideradas halal, mas diversos outros alimentos ou produtos de uso pessoal que possam se adequar às regras para o consumo de muçulmanos. “Tenham em mente que tudo que é halal é um diferencial para a empresa”, disse Alaby.
O executivo destacou o papel da Câmara Árabe no apoio às ações de promoção comercial das empresas brasileiras nos países árabes e também na certificação de origem dos produtos que são exportados por estas companhias àquele mercado. Alaby informou ainda que a Câmara terá um espaço na Gulfood disponível para que seus associados se reúnam com potenciais clientes. “Será uma sala de reuniões com sete mesas para vocês fazerem reuniões e contatarem as empresas [importadoras]”, declarou.
Participantes
A fabricante de biscoitos Itamaraty, de São Paulo, participa da Gulfood desde 2009. Para Laura Seixas, gerente de Comércio Exterior da empresa, estar na feira é muito importante para os negócios em diversas regiões. “Não só no Oriente Médio, mas em diversos países do mundo, porque são muitos os visitantes de outros países que vão a essa feira”, apontou.
A empresa exporta para a Líbia e Emirados, além de estar retomando vendas ao Egito, país para o qual exportou anteriormente. “Estamos levando produtos focados na ‘saudabilidade’, que são produtos integrais, saudáveis, que é um atrativo a mais. Também estamos preparados para a feira com catálogos em árabe”, contou a executiva.
A Santa Edwiges, empresa com 30 anos de existência, exportou no passado e agora está retomando seus negócios no mercado externo. A indústria produz biscoitos, bolos, panetones e pães de mel. “Hoje, nós exportamos para a Líbia e agora estamos com prospecção na Argélia e Emirados”, revelou Fabiano Fusco, representante de exportação da marca.
Ele disse que as expectativas para a feira “são as melhores”. “Acho que é um mercado muito interessante. É um grande mercado importador e de fácil distribuição também”, afirmou sobre os países árabes. De acordo com Fusco, a empresa já foi contatada por importadores de Omã, Iêmen e Marrocos. Como estratégia para crescer no Oriente Médio e Norte da África, a Santa Edwiges passa por processo para obter a certificação halal e, posteriormente, pretende traduzir seu material promocional para o árabe.
A Camil, indústria que comercializa arroz, feijão, açúcar, atum e sardinha enlatada, começou a exportar arroz há cinco meses para os Emirados. “Estamos no segundo embarque”, contou Guillermo Curtis, gerente de Exportação. “Estamos vendendo para duas marcas próprias dos Emirados e agora estamos fazendo as primeiras negociações [de arroz] com a Arábia Saudita”, revelou.
Para Curtis, a participação na Gulfood é importante mesmo para uma empresa de grande porte, como a Camil. “Eu notei o seguinte: o fato de o árabe te ver todos os anos na feira lhe gera confiança, e confiança é fundamental para eles fazerem negócio conosco”, avaliou.