São Paulo – O Brasil está trabalhando para melhorar sua posição no mercado de trigo. O País espera um aumento expressivo na produção nos próximos anos, o que, além de levá-lo para a autossuficiência, deve gerar maiores possibilidades de exportação. “Vai aumentar a produção brasileira e entendo que na mesma proporção aumentam também os negócios, as exportações”, afirmou o chefe-geral da Unidade Trigo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Jorge Lemainski (foto acima).
Neste ano o Brasil já deve ter uma safra substancialmente maior do que no ano passado. A expectativa é que os produtores plantem entre 3 milhões e 3,1 milhões de hectares com trigo no País, o que resultará em uma produção de 8,5 milhões de toneladas a 9 milhões de toneladas. No ano passado, o Brasil cultivou 2,7 milhões de hectares e colheu 7,7 milhões de toneladas de trigo. O plantio ocorre entre fevereiro e junho e a colheita de agosto a início de dezembro.
O consumo do cereal no Brasil é de 12,8 milhões de toneladas ao ano e cerca de 50% do volume é importado, quase tudo da Argentina. Mas o Brasil também exporta trigo. O Rio Grande do Sul é o estado responsável por quase a totalidade dos embarques. Segundo dados compilados no sistema Comex Stat, do Ministério da Economia, de janeiro a junho deste ano, o Brasil exportou 2,4 milhões de toneladas de trigo, das quais 2,3 milhões de toneladas partiram do Rio Grande do Sul.
Lemainski explica que por causa de questões logísticas e tributárias, a Argentina consegue abastecer São Paulo com um custo menor do que o Rio Grande do Sul. De acordo com ele, com isso o trigo excedente que o Rio Grande do Sul produz tem mais liquidez para o mercado externo. A Argentina responde por cerca de 85% do que o Brasil importa em trigo. Também outros países, como Paraguai, Estados Unidos, Canadá e Uruguai, exportam um pouco do cereal ao mercado brasileiro, mas em volume bem menor.
A meta é que o Brasil chegue na autossuficiência em trigo em dez anos, mas o chefe-geral da Embrapa Trigo acredita que isso ocorrerá em menos tempo. “A continuar esse ritmo, atingiremos isso antes”, diz Lemainski, reforçando que, no entanto, prefere ser sensato e manter a meta de dez anos. De acordo com ele, os fatores que devem levar o País a produzir o volume de trigo que consome são os ganhos de produtividade, o aumento da área cultivada e a remuneração.
A saca de trigo estava na casa dos R$ 35 a R$ 40 há quatro anos e hoje é vendida entre R$ 110 e R$ 120. É especialmente essa rentabilidade que tem levado mais gente a produzir trigo no País, principalmente no Rio Grande do Sul. “A remuneração do produtor leva a um incentivo para aumento de área”, afirma Lemainski. Os gaúchos são responsáveis por grande parte do crescimento da área plantada. No Rio Grande do Sul, ela deve sair de 1,16 milhão de hectares no ano passado para 1,42 milhão neste ano.
O Brasil está apostando na produção de trigo em novas regiões produtoras, mas ainda 90% das lavouras do cereal estão no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Na região chamada de Brasil Central, que engloba São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Bahia, Distrito Federal e Mato Grosso, a produção de trigo começa a se estruturar e deve passar de 252 mil hectares no ano passado para 290 mil neste ano. Também há outras áreas no Norte e Nordeste do Brasil em prospecção, com estudos de avaliação, observação e pesquisa para a produção.
Apesar da expansão, o Brasil Central ainda representa pouco diante do montante cultivado no País. Nestes seis estados e DF estão áreas que eram consideradas inadequadas para o cultivo do trigo até bem pouco tempo em função das suas condições de clima e solo, mas que com o desenvolvimento de manejo e cultivares adequadas pela Embrapa se mostraram viáveis. A produção abriu perspectiva para que regiões de condições tidas como ainda menos favoráveis possam se tornar também lavouras.
Lemainski acredita que a produção de trigo pode avançar nas várias regiões do Brasil. Nos três estados do Sul, por exemplo, 17,4 milhões de hectares recebem as culturas de verão. Já as culturas de inverno ocupam apenas 2,5 milhões de hectares, deixando um espaço vago que pode ser ocupado pelo trigo no período. “Há muito espaço para aumentar a área de cultivo tanto no Sul do Brasil como no Brasil Central. Área tem em suficiência para nós produzirmos todo o trigo de que necessitamos e ainda contribuir para a exportação e a segurança alimentar de outros países”, afirma.
Exportação
O aumento de exportação de trigo ocorrido neste ano já mostrou que há compradores ávidos pelo trigo brasileiro em várias partes do mundo, muitos deles nos países árabes. No primeiro semestre deste ano, os doze maiores importadores do produto nacional foram, por ordem, Arábia Saudita, Indonésia, Marrocos, África do Sul, Vietnã, Sudão, Turquia, Angola, Paquistão, Equador, Israel e Egito. Quatro países árabes – Arábia Saudita, Marrocos, Sudão e Egito – estiveram entre os grandes compradores. Os dados são relativos ao atual ano e não à safra toda, que é contabilizada desde novembro de 2021.
Do aumento de 1,8 milhão de toneladas nos embarques de janeiro a junho, 364 mil toneladas foram provenientes das compras sauditas. Os sauditas adquiriram 504,9 mil toneladas de trigo nacional nos seis primeiros meses deste ano contra 141 mil toneladas em iguais meses de 2021, segundo dados do Ministério da Economia. O Marrocos saiu de compras de 56,9 mil toneladas para 360,4 mil toneladas na mesma comparação, e o Sudão e o Egito, que não tinham adquirido trigo brasileiro no primeiro semestre de 2021, compraram 218 mil toneladas e 46,2 mil toneladas, respectivamente, neste ano.
Lemainski vê como aquecida a demanda global para o trigo e acredita que ela deve se manter assim, possibilitando a boa remuneração para os produtores. O chefe-geral da Embrapa remete a alta procura a fatores como o aumento do consumo de calorias pela população mundial, especialmente na Ásia com a melhora da renda, a covid-19 e os problemas de logística fazendo com que os países aumentem seus estoques de passagem querendo segurança alimentar, a guerra da Rússia e Ucrânia, causando problemas de suprimento, e a China usando trigo para compor rações.