São Paulo – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou hoje (05) acreditar que, em 2010, “o Brasil será o país que terá o maior volume de negócios em mercados de capitais do mundo”.
A declaração foi dada durante o seminário “Perspectivas da Taxa de Câmbio 2010”, realizado na Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo. O evento contou com a participação de economistas da fundação e convidados.
Mantega fez uma retrospectiva da variação da taxa cambial no país, e disse que a estabilização da crise financeira internacional voltou a atrair o fluxo de capitais para países com perspectivas de crescimento, como os exportadores de commodities, caso do Brasil.
O ministro apontou como razão da volta destes capitais ao Brasil a solidez da economia do país e de seus fundamentos, a possibilidade de rentabilidade, além da falta de restrições ao capital estrangeiro.
Segundo Mantega, o principal problema do câmbio no Brasil não é a valorização da moeda, mas sim sua volatilidade. “O que importa é evitar que haja uma sobrevalorização [do real] por muito tempo, porque isso sufoca a economia”, explicou. “Se tiver que haver uma valorização, ela tem que ser gradual”, disse o ministro, ressaltando que uma alta instantânea do real é prejudicial à economia do país.
“A nossa moeda é dez vezes mais volátil que o dólar. É uma das moedas mais voláteis do mundo”, declarou Márcio Holland, professor da FGV-EESP.
Uma das possíveis causas apontadas pelos participantes do seminário para a forte variação na taxa de câmbio do país é a falta de poupança interna, que obrigaria o Brasil a utilizar poupança externa. Samuel de Abreu Pessoa, professor do IBRE/FGV, lembrou que a poupança das famílias brasileiras corresponde a apenas 5% do PIB.
Mantega rebateu tais críticas afirmando que o estímulo ao consumo foi um dos principais fatores que ajudaram o Brasil a sair da crise. “Adotamos no nosso governo uma estratégia de priorizar o crescimento. Incentivamos o crescimento em primeiro lugar, e para isso usamos estímulos de crescimento da economia e de geração de empregos”, afirmou. “Numa crise como essa, você tem que estimular o consumo. Se estimular a poupança, a economia fica no buraco”, destacou o ministro.
Outra medida mencionada por ele para a contenção da alta do real foi a criação, em 2009, de um fundo soberano para ser usado em ações anticíclicas. “O fundo soberano está autorizado a adquirir dólares no mercado sem limitações.”
O câmbio fixo chinês foi outro alvo das críticas dos economistas durante o seminário. Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), afirmou que a política de paridade com o dólar adotada pelo país asiático tem roubado empregos dos países de câmbio flutuante. “Acho que temos que focar esta questão da China com muito mais seriedade do que estamos fazendo.”
“Há um desnível muito grande quando você tem países [com taxa de câmbio] em um nível artificialmente inadequado”, declarou Mantega sobre o assunto. “Há países que têm uma vantagem de 30% a 40% nos preços sobre o Brasil devido a vantagens cambiais”, completou.
Segundo o ministro, também é importante que o país busque o aumento da produtividade na indústria. Para ele, é necessário então que se “reduza o custo financeiro e burocrático no país”.