São Paulo – O Brasil já tem alguns estabelecimentos turísticos com certificação halal, mas levará adiante um plano nacional de preparação do setor para receber os turistas muçulmanos. O pontapé foi dado nesta quarta-feira (11) em workshop virtual promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira e a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), no qual foi lançada a ideia do projeto.
Representantes do setor de turismo do Brasil ouviram do secretário-geral da Câmara Árabe, Tamer Mansour, um panorama com as características do turista muçulmano, e do vice-presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras), Ali Hussein Al Zoghbi, uma explicação sobre o Islã e sobre o que envolve a certificação halal no turismo.
A CNC e a Câmara Árabe vão agora formular o plano do turismo halal e envolverão seus parceiros, como a Fambras e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). O presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação para a CNC, Alexandre Sampaio, disse que o Senac desenvolverá cursos especializados para atender esse mercado.
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Os palestrantes destacaram o alto poder aquisitivo do turista muçulmano e o seu gosto por viagens. De acordo com dados apresentados por Mansour, em 2015 eram 36 milhões os turistas do Oriente Médio que viajavam pelo mundo, número que deverá passar a 81 milhões em 2030. Países como Catar, Emirados, Kuwait e Arábia Saudita têm suas rendas per capita entre as maiores do mundo, o que dá a seus cidadãos grande potencial de gastos com turismo.
Mansour disse que há tanto turistas árabes que procuram locais luxuosos como os que viajam de mochila, mas que o primeiro perfil é a maioria e que eles se deslocam majoritariamente com a família ou grupo de amigos, quase nunca sozinhos. “A maioria investe no conforto, no descanso de alto luxo para ele e seus familiares”, afirmou Mansour.
Segundo o secretário-geral da Câmara Árabe, os árabes gastam com o turismo mais que a média mundial e buscam passar as férias em locais que respeitam a sua religião e os seus preceitos. Mansour citou alguns países árabes dos quais o Brasil atrai turistas, como Marrocos, Líbano, Síria, Egito e Arábia Saudita. Ele disse que, no entanto, o Brasil ainda não recebe os países do Golfo em geral, com grande potencial.
Ele também citou o que o turista árabe procura no turismo e que pode servir de norte para o setor oferecer seus serviços: ecoturismo, cultura, esporte, negócios, saúde e intercâmbio estudantil. Mansour vê que o Brasil é propício para atender os árabes nessas áreas, por exemplo, no ecoturismo, com suas as praias do Nordeste, o Pantanal e Foz do Iguaçu. Quando se desloca a outro país para fazer negócios, o árabe costuma levar a família na viagem para realizar passeios, o que também movimenta mais o turismo, conta o secretário-geral.
A certificação halal no turismo
Ali Zoghbi deu uma visão aos profissionais do turismo do que é o Islã e dos cinco pilares da religião, que são testemunho de fé, oração, zakat (ajuda a menos favorecidos), jejum e peregrinação. Esses pilares devem ser conhecidos por quem trabalha com turismo e quer dar um atendimento adequado aos muçulmanos. Zoghbi contou que há, por exemplo, horários para reza, uma higiene que deve ser feita antes dela, a necessidade de estar direcionado para Meca ao orar, o jejum durante o Ramadã, entre outras questões a levar em conta.
O vice-presidente da Fambras disse que não é preciso fazer uma transformação completa para atender esse mercado. A Fambras oferece selo halal a hotéis, restaurantes, transporte e lazer, e é possível ter três categorias de certificação na área. A categoria A é a completa, 100% halal. Mas também é possível se adequar para a categoria B, de média escala no halal ou halal friendly, ou a categoria C, de escala básica ou muslim friendly.
Zoghbi contou sobre as coisas que o muçulmano mais valoriza no turismo halal. Ter à disposição um restaurante com certificado halal é uma delas. Outra é desfrutar de instalações adequadas no hotel, como tapetes para reza e ausência de álcool no frigobar. Os muçulmanos também gostam de ter lazer e atrações culturais para a família, e de que sejam levadas em conta suas necessidades de oração, com indicações de mesquitas ou a direção de Meca por funcionários, além de disporem de instalações adequadas para viver o Ramadã, o mês de jejum do Islã.
Para gerar empregos
O workshop foi aberto pelo presidente da Câmara Árabe, Osmar Chohfi, e pelo presidente da CNC, José Roberto Tadros, que destacaram que se tratava do começo de uma parceria inédita para sensibilização do setor turismo brasileiro ao halal. Tadros citou esse mercado como mais uma possibilidade dentro dos esforços da confederação para ajudar o setor a se recuperar e gerar mais emprego e renda no Brasil. Ele falou por vídeo gravado.
Chohfi falou da relação já existente entre árabes e brasileiros, tanto pelos laços imigratórios como pelo comércio, e de como ela pode servir de base para o desenvolvimento também do turismo. Ele lembrou que o Brasil é um importante fornecedor de alimentos para os países árabes e que os árabes são importantes fornecedores de fertilizantes, e que o Brasil tem cerca de 12 milhões de árabes e descendentes. “Para que possam receber mais turistas precisamos nos adaptar às exigências do halal”, disse Chohfi.
O workshop foi conduzido pela gerente de Relações Institucionais da Câmara Árabe, Fernanda Baltazar, e teve a presença da especialista técnica da CNC, Marcia Alves, que acertaram a continuidade das ações para implementar o plano voltado ao turismo halal. Também falou no encontro virtual a diretora de Marketing e Conteúdo da Câmara Árabe, Silvana Gomes, dando um panorama sobre algumas atividades da entidade, como Casa Árabe, que é um centro de desenvolvimento de relações institucionais, e a Agência de Notícias Brasil-Árabe.