São Paulo – Do mesmo modo que o Brasil passou a ser modelo de desenvolvimento para agricultura tropical, em breve vai passar a ser referência mundial no sistema de produção orgânica para países tropicais. A afirmação é do coordenador de agroecologia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Rogério Dias.
Um exemplo disso são as técnicas de produção orgânica de leite que estão sendo repassadas por técnicos brasileiros ao Haiti como parte das ações de ajuda humanitária oferecidas pelo governo do Brasil para a reconstrução do país, devastado por um terremoto em janeiro deste ano.
"O Brasil tem um trabalho de cooperação com o Haiti, bem anterior ao terremoto, para diminuir a pobreza local. A agricultura orgânica é um modelo de desenvolvimento sem a dependência de insumos externos, já que todo o sistema é desenvolvido na própria propriedade e perfeito para países tropicais", destaca o coordenador do Mapa. Além de melhorar a qualidade do leite, esse tipo de produção prioriza o bem estar animal e gera benefícios sociais e ambientais, pois exige que os trabalhadores do campo observem esses critérios para a obtenção dos produtos.
Segundo ele, a preocupação forte com as mudanças climáticas e conservação da biodiversidade têm incentivado o desenvolvimento da agricultura orgânica ancorada em algo que agora precisa ser trabalhado na agricultura como um todo. "Hoje, a produção orgânica nacional atende principlamente o mercado interno e precisa de um volume maior para chegar ao mercado externo, mas tem grande potencial para isso" observou.
No caso do leite orgânico e seus derivados, explica Dias, são produtos nobres e muito consumidos especialmente nos Estados Unidos, países da União Européia e Japão. De acordo com o coordenador do Mapa, o Brasil passou a ter referências mais fortes de padronização da nomenclatura e definição de normas de produção de orgânicos no final da década de 80 e começo dos anos 90. E foi principalmente na última década que a demanda do mercado interno por orgânicos cresceu bastante.
De acordo com Dias, a produção de leite orgânico no país ainda é pequena e a falta de dados sobre a produção orgânica no Brasil está com os dias contados. "A lei que regulamenta os orgânicos no país definiu o dia 31 de dezembro de 2010 como prazo para que os produtores façam o cadastramento. Após essa data saberemos exatamente quantos são os produtores, onde eles estão localizados, tipo e quantidade de produção", explica Dias.
"A produção vegetal cresceu mais que a animal, mas a produção de leite orgânico e seus derivados também avançou. Algumas propriedades produzem leite orgânico há mais de 20 anos", afirma Dias.
É o caso da Fazenda São José, em Santo Antônio de Posse, município a 150 quilômetros de São Paulo, que iniciou a produção de leite orgânico há exatos 20 anos. Hoje, os irmãos e proprietários da fazenda, Roberto e Eduardo Machado, produzem 250 litros diários de leite que são processados na agroindústria instalada na fazenda e viram produtos como queijos, ricota, manteiga, mussarela, iogurte e requeijão.
Os produtos são vendidos diretamente ao consumidor em feiras orgânicas em Campinas e São Paulo e também para supermercados. Apesar de ainda produzir uma quantidade pequena, os produtores acreditam ser possível chegar ao mercado externo. "Existe um consumo crescente de orgânicos no mundo. Não é um plano para curto prazo, mas acredito ser viável aumentarmos as exportações e buscar clientes também no mercado externo", afirma Eduardo Machado.
Produção
Leite orgânico é, basicamente, um leite produzido sem a utilização de agrotóxicos e fertilizantes químicos na produção dos alimentos que a vaca consome. Além disso, a vaca não pode receber hormônios para uma maior produção e nem os medicamentos usuais na produção convencional.