São Paulo – Uma empresa brasileira de tecnologia chamada Radaz está ganhando mercado no exterior com o fornecimento de um radar compacto que opera acoplado a um drone. Em transição de tamanho, mas ainda aceitando o título de startup, a Radaz, de São José dos Campos, prevê dobrar o faturamento neste ano tendo como um dos pilares a expansão dos negócios internacionais e o forte relacionamento que desenvolveu com os Emirados Árabes Unidos, onde pretende abrir subsidiária em breve.
“O que a gente tem visto são países altamente avançados tecnologicamente comprando o nosso radar, o que demonstra as particularidades únicas do radar, um produto altamente inovador em que eles têm visto muito valor”, disse para a reportagem da ANBA o diretor comercial da Radaz, Fernando Ikedo. A empresa já vendeu para países como Alemanha, Suécia, Inglaterra, Itália e fará entrega para a Finlândia. Os Emirados Árabes Unidos são o principal comprador no exterior.

A base da internacionalização é o RD350. É um radar que a empresa desenvolveu, de abertura sintética, tecnologia conhecida como SAR, bem compacto, de apenas cinco quilos e que funciona embarcado em um drone de pequeno porte. Segundo a Radaz, é o único no mundo a operar com três bandas simultaneamente, C, L e P. “É isso que traz uma característica de ineditismo para nossa solução”, diz Ikedo.
As bandas são faixas de frequências nas quais o radar funciona. Com o uso da banda C é possível que o radar identifique a cobertura vegetal de um terreno, como a parte superior de um canavial ou a copa das árvores de uma floresta. A banda L consegue captar o nível do solo e alguns centímetros abaixo, o subsolo, trazendo informações sobre o terreno, as nascentes e o que demais que houver nele.

“É o trabalho simultâneo dessas bandas que traz resultados interessantes. Então, quando você utiliza a banda C combinada com a banda L, você consegue medir a biomassa, volume das árvores, você consegue medir umidade de solo”, explica Ikedo. Já a banda P mostra o que há debaixo da superfície do solo. A captação é 10 a 20 metros de profundidade, mas ela já chegou a 120 metros em demanda específica.
Criada no ano de 2017 ligada ao universo da pesquisa e acadêmico, a Radaz formulou o seu RD350 olhando para os radares de abertura sintética de grande porte de décadas passadas, que precisavam ser embarcados em aeronaves ou satélites para que fossem usados. Ao desenvolver o seu produto, o objetivo da startup foi ampliar a utilização dessa tecnologia e democratizar o seu acesso, segundo Ikedo.
“Quando você tem um radar de 100 quilos que só pode ser transportado em aviões ou em satélites, diversos segmentos deixam de ser atendidos por ser muito caro. Só para você botar um avião no ar custa uma nota”, comenta o diretor comercial. A Radaz passou, então, a trabalhar numa miniaturiazação do radar e chegou até o seu produto atual, com os cinco quilos incluindo radar, antenas e estrutura. A “cereja do bolo”, como diz Ikedo, foi a banda P, e a possibilidade de utilização das três frequências juntas.
A aplicação do radar é vasta. O diretor comercial relata utilização em detecção de formigueiros pela indústria agroflorestal. “Ao invés de você gastar o formicida espalhando numa área inteira, você coloca só onde está o formigueiro”, exemplifica. Encontrar jazida mineral, mapear tocas de castores, encontrar pessoas desaparecidas e ossadas de pessoas, detectar dutos petrolíferos e ramificações dos dutos destinadas a roubos e vistoriar barragens de mineração são alguns dos usos já feitos, entre outros.
Ikedo afirma que no Brasil a grande utilização do RD350 é pelos centros de pesquisa, mas também relata o emprego em setores como agroflorestal e mineração. No exterior também são as pesquisas o principal fim, e aí o uso vai desde os estudos de um vulcão, de florestas, geológicos, agricultura de precisão, entre outros. “A Radaz tem sido uma empresa essencialmente exportadora”, afirma o diretor comercial.
Radares para os Emirados
O relacionamento com os Emirados começou em 2021. No país, a Radaz tem como cliente o Technology Innovation Institute (TII), que já opera mais de dez radares da empresa brasileira. Ikedo conta que a relação é de muita confiança e que a Radaz desenvolve tecnologias segundo as demandas do TII. Como TII é um instituto de tecnologia e inovação, o uso dos radares é amplo, mas o diretor comercial menciona alguns, como a identificação de dutos de água e pesquisa de sítios arqueológicos.
A inauguração da subsidiária da Radaz nos Emirados Árabes Unidos, que ficará em Abu Dhabi, deve acontecer ainda neste mês de agosto ou em setembro, de acordo com Ikedo. “O nosso objetivo é iniciar uma operação lá para estar mais perto do TII, o nosso cliente, poder ter técnicos e engenheiros apoiando localmente nos projetos e, oportunamente, obviamente, expandindo ainda mais a operação”, afirma. A empresa não descarta ter uma operação de produção no país árabe mais adiante.
Salto no faturamento
O ano de 2025 deve ser de marcos para a Radaz, que inaugurou uma sede nova em maio, também na cidade de São José dos Campos, onde tem sua outra unidade, e se encaminha para mais que dobrar o faturamento. Em 2024 ele foi de R$ 17 milhões. Ikedo diz que a empresa quer avançar na comercialização no Brasil, mas baseia a perspectiva de crescimento de 2025 principalmente nas exportações, citando vendas já realizadas e outras aguardadas ainda para o ano, e as perspectivas de incrementar os negócios com os Emirados.
A Radaz é comandada atualmente pelo contador, CEO e presidente do Conselho de Administração, Norivaldo Corrêa Filho; com grupo de forte trajetória acadêmica, como o engenheiro-chefe e membro do Conselho de Administração, formado em Engenharia Eletrônica no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) com doutorado na Universidade Técnica de Munique, João Roberto Moreira Neto.
Também estão nesse grupo a diretora técnica, sócia e cofundadora, formada em Engenharia Elétrica pela Pontifícia Universidade Católica (PUC)-Campinas, com mestrado e doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Laila Fabi Moreira; e o diretor de desenvolvimento de software, sócio e cofundador da Radaz, formado em Física e com doutorado pela Universidade de Regensburg, Christian Wimmer.
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