São Paulo – A artista brasileira Tarsila Schubert está à frente de um estúdio criativo em um dos principais bairros ligados à arte de Dubai, o Design District. Há quatro anos, Schubert fundou a The Cave DXB, que funciona como galeria e espaço coletivo para diferentes artistas desenvolverem seus trabalhos. “A ideia era dividirmos o espaço e tornar possível cada um manter seu ateliê de forma mais acessível”, explicou ela em entrevista à ANBA. Baseada em Dubai, Schubert também viaja o mundo trabalhando. Na foto acima, ela estava em Milão.
No estúdio, assim como no emirado, convivem pessoas de diferentes origens. A The Cave DXB já recebeu artistas da Eslovênia, Nova Zelândia, Líbano, Síria e Romênia. Também expõe e divulga obras de brasileiros como Fernando Chamarelli e Camila Schubert, fotógrafa e irmã de Tarsila.
Antes da pandemia, a Cave era dividida entre nove ateliês, mas com a crise alguns dos artistas tiveram que deixar o espaço. Hoje, cinco deles mantêm seus ateliês no endereço e há espaços disponíveis para novos artistas.
A casa criativa, como a The Cave DXB é definida, existe desde 2016, quando a brasileira decidiu expandir seu trabalho e receber mais artistas. “Comecei com um espaço só meu. Depois veio a Cave, que era para ser um espaço para produzir juntos, mas comecei a dar consultoria, fazer workshops e curadorias e foi crescendo”, contou ela, que há um ano e meio conta com um sócio que também é artista estrangeiro baseado em Dubai.
Street Art em Dubai
Além de todas as frentes de trabalho da Cave, a brasileira trabalha com street art em sua carreira individual. A arte chegou na vida de Schubert quando ela passou a morar com a avó. Durante a infância e a adolescência, ela residiu em diversas cidades, acompanhando os pais, até que eles se mudaram para a Bolívia e ela e a irmã foram para casa da avó, em Bauru, interior de São Paulo.
“Minha avó era pintora, mas mais acadêmica. Eu comecei a aprender a pintar com ela, mas nada sério. Eu quis fazer curso de Artes Plásticas, mas acabei prestando Odontologia e fiz em uma universidade particular. Quando tivemos problemas financeiros para pagar, minha avó disse: ‘Por que você não pinta alguns quadros e vende para ajudar a pagar?'”, lembrou a artista, hoje com 32 anos. Da primeira leva de quadros, ela vendeu todos. “Acho que meus amigos deram uma força”, diverte-se ela.
Um ano depois da primeira exposição, Tarsila trancou a faculdade de Odontologia, e começou a aprender sobre street art e técnicas com spray com amigos. A experiência a levou a descobriu outras formas de expressão. “Meu namorado da época trabalhava com artes visuais, 3D e projeção. Ele e um amigo nosso me ensinaram animação. Fiz trabalhos com eles, como no réveillon do Rio de Janeiro, quando conhecemos uma pessoa de Dubai. Ele disse que procurava artistas para fazer aquele trabalho, e que era preciso se mudar para Dubai em um mês. Achamos aquilo tudo muito estranho, mas meu namorado decidiu ir primeiro para entender como funcionava. Um mês depois eu também já estava aqui”, afirmou.
Em solo árabe para o projeto, que durou oito meses, Tarsila acabou ficando no emirado, onde reside há quase nove anos. “Comecei a correr atrás porque para Bauru eu não ia voltar. Montei um portfólio e mandei para todas as galerias que encontrei. Uma delas me respondeu e aí me mudei de vez e as coisas foram acontecendo. Foi tudo muito orgânico”, conta.
Quando se mudou, em 2012, a artista conta que não havia incentivo para aquele tipo de arte. Foi em 2014 que, junto a outros artistas, ela conseguiu sua primeira autorização para trabalhar com mural. “Fiz minha primeira parede pública durante um festival. De lá para cá, os murais foram de completamente proibidos para serem incentivados. No começo, as contratações foram mais de artistas de pop-art e realistas. Passou a ser um investimento esse tipo de arte, um marketing positivo para Dubai”, relatou ela.
Com a abertura do país para projetos de arte nas ruas, a brasileira conseguiu desenvolver ela própria um evento. “Fiz um festival no Design District com murais e instalações. Ainda houve algumas dificuldades para receber a autorização, e as artes foram mais abstratas, mas já melhorou muito a questão da liberdade artística”, relatou ela sobre o evento que desenvolveu em 2017 e ainda tem obras expostas no bairro. “Para os próximos anos, acredito que vai melhorar ainda mais. Tenho uma visão positiva”, concluiu.
Com a crise e o lockdown, os eventos que a galeria havia programado para este ano ainda estão suspensos. Mas no período, além de seguir produzindo e desenvolvendo projetos virtuais junto a outros artistas, a brasileira está participando de uma campanha para apoiar as vítimas da explosão que atingiu o Porto de Beirute, no Líbano, neste mês. A campanha está sendo divulgada nas redes sociais de Schubert e acontece em colaboração com o espaço de arte The Workshop DBX. “Nós podemos ajudar o Líbano a se recuperar desta catástrofe. Cem por cento do que for arrecado com esses prints será doado a organizações não governamentais”, contou. Uma das obras que a artista está doando em prol do Líbano pode ser vista neste link em sua conta do Instagram.