São Paulo – O brasileiro João Baptista de Medeiros Vargens foi um dos dois vencedores da décima edição do prêmio Unesco-Sharjah para a Cultura Árabe. A premiação, promovida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e pelo governo de Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos, homenageia pessoas ou instituições de todo o mundo que tenham contribuído para ampliar o conhecimento da cultura árabe e promover o diálogo intercultural, por meio de trabalhos artísticos e acadêmicos, entre outros.
Vargens é professor titular do Setor de Estudos Árabes da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Graduado na mesma universidade, ele estudou o idioma árabe por dois anos na Universidade de Damasco, na Síria. Na década de 90, passou três anos como professor de língua portuguesa e cultura brasileira na Universidade Abdul Malek Assad, em Tetouan, no Marrocos.
Em 2007, Vargens fundou a editora Almádena, para a publicação de livros relativos à cultura árabe e brasileira. Hoje, a editora tem 13 títulos publicados, entre eles, quatro escritos pelo próprio Vargens, como o Léxico Português de Origem Árabe. Para ele, no entanto, a principal obra editada pela Almádena é o Dicionário Árabe-Português, escrito por Alphonse Nagib Sabbagh. O dicionário teve mil exemplares comprados pela Biblioteca Nacional e distribuído por todo o País.
“Creio que esse prêmio é pelo conjunto da obra. A Unesco premia duas pessoas, sempre um árabe e um não árabe. É a primeira vez que um candidato do Brasil é premiado”, diz Vargens. “Esse prêmio não é pessoal, é por um trabalho em conjunto dos setores de estudos árabes da UFRJ e da Universidade de São Paulo”, afirmou. O professor foi indicado ao prêmio pelo Itamaraty.
Entre seus trabalhos para a aproximação entre árabes e brasileiros, destaca-se ainda a criação de um método de ensino que virou livro, o Português para falantes de árabe. Sua metodologia foi usada para treinar professores no ensino de mais de cem famílias de refugiados palestinos na cidade de Mogi das Cruzes, em São Paulo, e na região de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. No mundo árabe, seu método foi utilizado para a implementação de cursos de língua portuguesa em universidades na Síria e no Líbano.
No Marrocos, durante o período em que lecionou, Vargens abriu espaço para uma coluna em português no jornal de língua francesa La Opinion. “Havia uma página aos domingos em espanhol. Sugeri aos editores uma página em português e eles aceitaram. Eu fazia a coluna com a ajuda de alguns lusófonos. Falávamos de assuntos brasileiros, desde futebol, Copa do Mundo, até questões políticas nacionais”, relata.
Aos 59 anos, Vargens conta que seu interesse pelo mundo árabe começou na juventude. “Quando era adolescente, eu lia os livros de Malba Tahan, um professor de matemática que escrevia contos ambientados no mundo árabe. Mais tarde, a questão palestina foi a gota d’água para que eu me interessasse pelos estudos de árabe”, conta.
O outro premiado pela Unesco é o libanês Elias Khoury. Nascido em Beirute, Khoury é jornalista, crítico literário, novelista e dramaturgo. Estudou história e sociologia em Beirute e em Paris, na França. Ele é considerado um dos líderes contemporâneos entre os escritores e intelectuais árabes. De 1976 a 1979, editou o jornal Su’un filastiniya (Assuntos Palestinos), junto com poeta Mahmud Darwish. Em 1992, passou a ser o editor-chefe do suplemento de cultura e literatura do jornal diário de Beirute An-Nahar (O Dia).
Khoury é autor de uma dezena de livros que foram traduzidos para 13 línguas. Seu esforço para estabelecer ligações entre as várias formas de linguagem e diferentes culturas levou-o a ganhar o prêmio da Unesco.
A entrega do prêmio será no dia 27 de fevereiro, na sede da Unesco, em Paris. Os dois vencedores dividirão um prêmio de US$ 60 mil, oferecido pelo emir de Sharjah, Sultan Bin Mohamed Al Qassimi, e membro do Conselho Supremo dos Emirados.