São Paulo – No fim de novembro, o Senado Federal brasileiro aprovou o acordo de isenção mútua de vistos entre o Brasil e os Emirados Árabes Unidos, decisão publicada dias depois no Diário Oficial da União com a assinatura do presidente da casa, Eunício de Oliveira. Resta apenas o cumprimento de requisitos na nação árabe para ratificar o acordo naquele país e a promulgação do ato internacional para que turistas dos dois países tenham acesso facilitado nas fronteiras.
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Este é apenas um dos exemplos de aproximação entre o Brasil e os países árabes realizados em 2017, ano marcado por visitas de autoridades brasileiras a países da região e de autoridades árabes ao Brasil, por avanços em acordos comerciais, crescimento no intercâmbio comercial e estreitamento das relações diplomáticas.
Em conversa com a reportagem da ANBA, o diretor-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby, lembrou de alguns dos fatos – grande parte deles que contou, inclusive, com apoio e suporte da entidade. “A atuação da Câmara Árabe e do governo brasileiro na Operação Carne Fraca, por exemplo, merece destaque”, disse o executivo.
Na manhã de 17 de março, os brasileiros foram surpreendidos por uma operação da Polícia Federal que acusava frigoríficos de adulterar a carne vendida no mercado interno e externo. Como reflexo, diversos países suspenderam imediatamente a importação da carne brasileira – dentre eles, Arábia Saudita, Argélia, Catar e Egito. Rapidamente, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, agiu para explicar que os casos eram isolados e que a carne brasileira exportada tem qualidade e suspendeu as exportações dos frigoríficos investigados.
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A Câmara Árabe convocou uma reunião em Brasília com o Conselho dos Embaixadores Árabes e representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para prestar esclarecimentos. Aos poucos, as suspensões foram caindo, e em maio, uma comitiva liderada pelo ministro visitou os países do Golfo para, entre outras coisas, reforçar a imagem da carne brasileira.
Não foi apenas Maggi quem esteve na região do Golfo. A primeira das viagens de João Dória, prefeito de São Paulo, no ano passado foi para os Emirados e depois ao Catar, em busca de investimentos para a capital paulista. O governador de Goiás, Marconi Perillo, foi à Arábia Saudita e o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, esteve nos Emirados em 2017.
Ao Brasil também vieram autoridades de países árabes: Abdullah Bin Zayed Al Nahyan, ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação Internacional dos Emirados Árabes Unidos; Khemaies Jhinaoui, chanceler da Tunísia; Nizar Yagizi, ministro da Saúde da Sìria; Abdulrahman Alfadli, ministro da Agricultura da Arábia Saudita; e Tarek Kabil, ministro do Comércio e Indústria do Egito, conversaram com governantes brasileiros em São Paulo (SP) e Brasília (DF).
“O trabalho foi intenso durante o ano todo”, comentou Alaby, que acompanhou grande parte das visitas oficiais de autoridades árabes ao Brasil e manteve contato próximo com todos os embaixadores, seja de algum país árabe em Brasília, seja brasileiro em país árabe. O executivo lembrou que a Câmara recebeu também missões empresariais árabes, como a da Câmara de Comércio e Indústria de Dubai, da Zona Franca de Ras Al-Khaimah, do Qatar Development Bank e da Agência de Água e Energia de Dubai (Dewa).
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Ainda foram inaugurados os consulados do Sudão e dos Emirados Árabes Unidos na capital paulista. O último já estava operando, mas foi oficialmente aberto em cerimônia com autoridades e a presença do chanceler do país árabe, Abdullah Bin Zayed Al Nahyan.
“Foi um ano de muitos solavancos, como a Operação Carne Fraca e o próprio ambiente político brasileiro, que gerou incertezas na economia, mas com muitos pontos positivos”, destacou Alaby.
A entrada em vigor do acordo de livre-comércio do Mercosul com o Egito foi um destaque positivo do ano, segundo Alaby, além dos avanços nas negociações de tratados com a Tunísia, Líbano e Marrocos.
Os árabes investiram no Brasil no ano passado: a DP World, de Dubai, adquiriu 100% da Empresa Brasileira de Terminais Portuários (Embraport) e agora opera integralmente um terminal marítimo no Porto de Santos. Já o fundo Mubalada, de Abu Dhabi, tem negociações para adquirir uma fatia da Invepar, que administra, entre outros empreendimentos, o Aeroporto Internacional de Guarulhos e o Metrô-Rio.
Na mão contrária, a BRF lançou oficialmente em janeiro a sua subsidiária dedicada ao mercado halal, One Foods, com sede em Dubai.
Foi um ano de recorde para a balança comercial com os árabes: superávit de US$ 7,1 bilhões. As importações subiram US$ 23,4%, para US$ 6,5 bilhões, ao passo que as exportações cresceram 18,4%, alcançando US$ 13,6 bilhões. A corrente comercial entre o Brasil e a região chegou a US$ 20 bilhões, 20% acima do registrado em 2016.
“No início do ano passado, eu tinha imaginado crescimento em torno de 15% a 20% nas exportações”, lembrou Alaby. Para este ano, o executivo acredita em aumento de no mínimo 10% nas vendas externas do Brasil aos árabes, superando os US$ 15 bilhões. Um ano de, quem sabe, novo recorde nas exportações para a região, com resultado acima dos US$ 15,1 bilhões registrados em 2011, o maior da história até agora.
Leia mais sobre as ações da Câmara Árabe em 2017 nesta segunda-feira (22) na ANBA, em entrevista com o presidente da entidade, Rubens Hannun.