São Paulo – Com sede em São Paulo, a Oficina dos Menestréis, empresa de teatro musical que produz curso livre com metodologia própria baseada na intuição e no reflexo, fez uma oficina com professores da Arábia Saudita no final de 2021. A empresa, criada em 1993 pelos atores Deto Montenegro e Marco André Brandão de Magalhães, foi convidada pela empresária Carolina Andraus para capacitar 38 professores árabes, entre homens e mulheres, que dão aula para jovens com deficiência. Na foto acima, apresentação no Festival de Projetos Sociais da Oficina dos Menestréis no Brasil.
“A Carolina foi contatada por um colega árabe interessado em um projeto pedagógico para alunos com deficiência de escolas públicas da Arábia Saudita. Depois de pesquisar, a Carolina nos achou, mas como a gente não tinha o projeto pedagógico, desenvolvemos um material para atendê-los, com os nossos exercícios, o tipo de peça que fazemos, etc. Na sequência, fizemos reuniões semanais para aprovar esses materiais”, conta Evelyn Klein, atriz, produtora e arte educadora da Oficina dos Menestréis.
Depois da aprovação do projeto, a oficina foi realizada em duas etapas, pela primeira vez no exterior, em um país árabe: o grupo ficou uma semana em Dammam, onde deu um treinamento online de duas horas por dia para professores de três cidades da Arábia Saudita (Dammam, Riad e Jeddah). Após cinco dias de treinamento online, a equipe da oficina foi para Riad para se encontrar com os professores de forma presencial no palco. Nessa parte fizeram cinco horas de aula por dia durante outros cinco dias, onde os educadores árabes experienciaram os exercícios que aprenderam.
Ela conta que o palco foi dividido em duas partes, uma para os homens e outra para as mulheres, e que foram cinco dias muito ricos de troca de informações e saberes. O teatro é pouco difundido e praticado na Arábia Saudita. “A gente começou muito do básico, desde o que é um palco, iluminação, até exercícios mais elaborados com uma dramaturgia de quadros”, afirma. Essa última é usada pelo grupo para espetáculos com pessoas com Síndrome de Down e autistas.
No último dia na Arábia Saudita, os brasileiros fizeram uma apresentação junto com os professores sauditas, quase como um espelho do que fazem no Brasil, onde os alunos experimentam os exercícios e o processo da montagem de uma peça de esquetes. “Para a gente foi muito especial participar desse projeto, porque estivemos presente em um momento de abertura cultural na Arábia Saudita. Entendemos a força das mulheres, apesar de toda a questão religiosa tão diferente da gente, vimos que elas são grandes líderes. O nosso projeto foi todo liderado por mulheres árabes”, diz a educadora.
Depois disso, os brasileiros ainda realizaram três encontros online com espaço de um mês e meio entre cada um. Nessas reuniões os professores árabes contaram como aplicaram o método Menestréis com as crianças deficientes, tiraram dúvidas, falaram sobre as partes boas e ruins, e os brasileiros compartilharam as ideias que têm com os meninos com Síndrome de Down no Brasil. Com uma forma de continuar o treinamento, professores da Arábia Saudita fizeram intercâmbio na oficina, acompanhando atividades, com dez sessões de alunos com deficiência se apresentando.
O que faz a Oficina dos Menestréis
No Brasil, a Oficina dos Menestréis tem duas linhas de trabalho: os cursos regulares para alunos pagantes, direcionado para crianças e adolescentes, e os projetos sociais, com cursos de teatro musical dirigidos a pessoas com deficiência, maturidade (3ª idade) e jovens menos favorecidos.
Os projetos sociais são divididos em cinco. O primeiro foi realizado pela primeira vez em 2003 com um grupo de cadeirantes e deficientes visuais, com aulas de teatro musical inclusivo. Três anos depois surgiu o Projeto Maturidade, para valorizar a terceira idade e ampliar a inclusão social deles através da arte. O Up, terceiro projeto social, foi criado para atender jovens com Síndrome de Down.
Na sequência, foi feito o Juntos para jovens menos favorecidos e em 2012, a oficina criou o Aut, para atender jovens e adultos com TEA (Transtorno do Espectro Autista). No início dos projetos, os alunos são apresentados a um treinamento artístico, adaptado para atendê-los. Na segunda fase do curso é feita uma montagem de peça musical do repertório da oficina e na terceira fase acontecem as apresentações, que ficam no mínimo por quatro sessões em cartaz.
“O projeto Up adaptado para a característica deles, que têm muita dificuldade para se comunicar, mas em compensação, eles têm um afeto, que faz toda a diferença no trabalho. Para esse projeto, a gente não fazia roteiros fechados, porque sabia que eles iam improvisar. Os autistas como são muito pragmáticos e dificilmente erram, trabalhamos com eles um princípio importante da oficina, que é a perda do medo de errar. Trabalhamos a questão de ser mais flexível, que ao fazer uma atividade artística você pode errar e temos que ter a capacidade de improvisação”, diz Evelyn.
“Os exercícios de reflexo e improvisação foram um pouco difíceis no começo com eles, mas com diversão e atividade lúdica, o pessoal conseguiu fazer e tivemos resultados muito interessantes. A adaptação se deu muito no contato no dia a dia e eles entendendo o que a gente queria, e do nosso lado, sendo flexível com cada um”, relatou Evelyn.
Além da sede de São Paulo, a oficina está presente em algumas escolas e clubes na capital paulista, como em Ubatuba, no litoral paulista, e na região do Grande ABC. Também há um projeto em Palmas, no Tocantins, e já houve um projeto em Brasília, no Distrito Federal, que durou sete anos.
Reportagem de Rebecca Vettore, especial para a ANBA